Pedroom Lanne
Escritor, Pesquisador e Jornalista
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Rascunho
O que é Deus?

Sinceramente, alguém já parou para pensar nisso? Com certeza, muitos, ainda que seja essa uma questão de difícil compreensão, mas, porque não tentar pensar um pouco a respeito? Ainda que sejamos obrigados a fazê-lo dentro das limitações da mente humana que, ao lado da mente de Deus – sim, Deus: esse mesmo Deus que a maioria das pessoas diz acreditar, afirma existir; Javé, Alá, Jesus, Deus todo-poderoso, o criador do Homem, da Natureza e do Universo –, nessa desproporcional comparação, seja infindavelmente menor. É como tentar medir a quantidade de água de todos os oceanos transplantando-a através de um cano para o interior de uma piscina de hidro-massagem, algo que, sob a concepção que possuimos tanto de Homem quanto de Deus, seja por qual viés, por qual prisma que se observe, seria empírica e fisicamente impossível. Mas nada nos impede de tentar, de irmos aos nossos limites, propormos nossos e novos pontos de vista para uma reflexão sobre o tema em questão, assim como nada nos impede de colocar essas reflexões sobre o suporte de palavras para que sejam compartilhadas com os outros seres-humanos dotados de inteligência como nós mesmos. Afinal, mesmo que uma análise de tão poderosa entidade tenha corpo por outra menor, esbarrando em sua inerente limitação, ao menos, essa mesma análise limítrofe, indeletavelmente periférica, poderá ser compreendida pelas demais entidades que partilham do mesmo grau de menoridade, estas, por suposto, somos nós.


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An Interview with Marshall McLuhan

This conversation was psycho-spelled to Peter Louis

Today we are going to have a conversation with the famous Canadian researcher, Professor Herbert Marshall McLuhan, author of the famous statement, “the medium is the message” - which is one of the keys for communication medium studies -, who kindly attended our call for an interview.

– Mr. McLuhan, how can you better define yourself, through your work, your hometown, country or your family?
– Through my work, I guess it really means a lot of me, after all, wasn’t through it you had the will of interviewing me?
– Yes, in fact it was. Tell me, Mr. McLuhan, what’s your major?
– English Modern Language, Literature and Philosofy.
– Why did you choose those majors?
– I didn’t choose them, they have chosen me.
– How did that happen?
– It happened in my youth, I was fascinated by literature and my Mom always encouraged me to read and write well, she was a declaimer, a public-speaker and I’m sure all her lectures had also influenced me in some way. When I saw a broad world of electric communication grow around me, carrying the oral and lyric communication that I loved beyond any predictable frontier, connecting peoples around the planet each time faster and faster, when I realized what was happening, how it was changing the world, creating a new world, I also realized that I needed to understand it from many points of view. Studying this new world of communication was presented to me as the only way I could lead my life and my career.
– The world you’ve seen growing up is that you’ve called “The Galaxy of Gutenberg”, and these people connected around the planet is that concept of “Global Village”, isn’t that correct?
– Yes, that’s correct.
– How long have you been studying “The Galaxy of Gutenberg” and “Global Village”?
– Since 1932 when I entered college at Manitoba University.
– Did you need to study a lot do comprehend this field you’ve chosen?
– All my life, since high school until the day I died.
– Have you always wanted to do this job?
– Yes, as I told you, since my youth, since I was a child.
– What do you enjoy most about your job?
– The fact, on my major, that you always have something new to study, to understand. It’s a work that never falls in a routine, you are always learning.
– Is there anything you don’t enjoy?
– Some people that are not open to new visions, whose sit down over their own beliefs and do not accept other thoughts. These kinds of people do not contribute to create a global study or vision on any kind of study-fields.
– Do you think you will have the same job, do the same things you had done all your life, for the rest of your existence, even after death?
– No, because after death you have all answers you’ve searched for in your physical life. Now I know everything I didn’t even imagine when I was walking on the face of the Earth. In the spirit world you don’t have to study, you just have all knowledge, but here I’m still doing my job of teaching, helping to improve those not completly developed souls.
– Is there anything else you’d like to say?
– I could say a lot of things, but you, and all humanity are not ready to learn none of them, you have a lot to evolute, as a species, before learning and understanding the fundamental wills of physical life, so I’m not sure what else I can tell you. You always will have the legacy I left fixed on my contribution to the “Galaxy of Gutenberg”, the words I left written and recorded that are still being studied, the only thing I can tip is, go on, keep studying and working to create a better world, and don’t mind the time, time does not exist.
– So, Mr. McLuhan, the only thing left is to thank for the honor of interviewing you.
– You’re welcome.


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Surfing
The Best of the Year

Every surfer likes to talk about the best ride, most of the time the best ride is the greatest surfed wave. It's not different for myself but, to make this last year post, I would like to notice the smallest wave I ride this year, despite it was small, it was incredible.

The best smaller wave I ride this year was in Santos bay, on a very sunny spring day on April, over a spot know as "pier", one of the most famous spots of Sao Paulo south shore. Any surfer who checked the waves that day would say that the sea was flat, I would say that we had one feet waves at maximum, and I went surfing with my longboard although the sea was not so good for surf practice.

Almost nobody was on the outside unless myself and a famous brazilian surfer, Picuruta. We were making a little chat when a sequence of one-feet-waves came along, we both paddled to the first and got it.

Despite the small size of the wave, I was able to catch the cob-wall and, believe me, I did a hang-five with great velocity, making the wave until the sand, and finishing it with a powerful floater. It was amazing! When I finished the wave I looked behind and Picuruta was cheering me, I was flattered.

On a "non-waves-day" I got the best year wave. No matter how the waves are, if you go surfing you always have the chance to get a good ride or even the best ride.

A good wave does not depend on the size, depends on the way you ride it and how your mood faces the sea. A good ride is over your feet and your mind. Believe it and you will always be happy when surfing!

We wish you the best ride all over the new decade which is about to start!


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Surf
E o Hawaii continua aqui...

"Let's go surfin' now. Everybody's learning how. Come on and safari with me. (Come on and safari with...)"
- Beach Boys

2009, mais um ano de altas ondas no Farol de Santa Marta, em Laguna, litoral sul de Santa Catarina*. Nesta Páscoa, eu e Antonio Roberto voltamos para esse incrível point para pegar um swell de sul de até três metros previsto para ocasião, desta vez acompanhados dos surfistas Marcelo "Funky" Chaluppe, Rodrigo "Biliko" Mathias e Renê Oliveira, o Grande - galera da RBS (Rede Brasil-Sul) de Floripa.

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A praia dos "Moles", Farol de Santa Marta - SC

Chegamos no Farol na sexta-feira santa (10/o4/2009), e checamos as condições da praia do Moles (foto ao lado) - também conhecida como Tamborete ou Praia da Ponta -, próximo da balsa que liga a cidade de Laguna ao Farol de Santa Marta (veja o mapa no link acima). As condições do swell com vento side-shore/on-shore não davam boas condições para a prática do surf, então, fomos checar a praia da Tereza (foto abaixo), um pouco mais ao sul. A Tereza apresentava melhores condições para a prática do surf, com ondas de 5 pés (1,5m) e um numeroso crowd que se formava em sua curta bancada. A ondulação, quebrando de sul, deixava os surfistas de frente ao paredão de pedras do canto direito da praia, para piorar, no outside a correnteza ainda obrigava a uma constante remada a fim de se evitar ficar posicionado em frente as temerosas rochas.

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A praia da Tereza

Fizemos uma surf-session de cerca de três horas, na qual todos da barca puderam matar as saudades das ondas do Farol, se deliciando nas perfeitas esquerdas que quebravam a partir do outside em frente as pedras. Um descuido ao dropar uma onda, seguindo-se uma inevitável vaca - além de uma outra anterior, sendo sugado pelo lip e vacando top-to-botton -, me pôs de frente ao paredão de pedras com as ondas quebrando sobre minha cabeça, em posição muito perigosa, mas, com minha longboard 9' Lighting Bolt, consegui remar para fora da posição das pedras e sair pela areia sem maiores problemas. A mesma sorte não teve Renê que, cansado de tanta remada, acabou na mesma situação e só conseguiu sair do mar galgando as pedras, por sorte nada de mais grave, além de um pequeno corte no pé, lhe aconteceu. Porém, após esse pequeno perrengue, ele afirmou: "vamos surfar em algum lugar que não seja de frente para as pedras, por favor", algo que foi de concordância de todos na barca. Assim, ainda no final de tarde deste primeiro dia no Farol, fomos checar as condições de outras praias, como a Galhetas e o Cardozo. Porém, ao final do dia o vento soprava forte e as ondas subiam (conforme indicava a previsão para a Páscoa), com o mar ficando completamente storm, assim, não havia mais condições de surf para aquela tarde.

O dia seguinte prometia ser o auge do swell, com ondas chegando até 3 metros, e foi. Logo cedo no sábado (11/04/2009), checamos a praia do Cardozo, porém as séries estavam grandes e intermitentes, inclusive fechando o canal a esquerda da praia. Embora houvessem condições de surf alí, resolvemos checar outras praias, nos dirigimos à praia da Galhetas (foto abaixo).

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A praia das Galhetas

A Galhetas apresentava um surf épico, com ondas de dois metros e canal perfeito no canto direito, vento terral, sol forte e água com boa temperatura. Bem para fora no outside, onde existe uma lage de pedras no canto direito, entrava uma série gigante com alguns poucos surfistas nela se aventurando, o crowd se aglomerava perto do canal onde as ondas quebravam - conforme se vai se afastando do canal à esquerda - de 3 a 5 pés, até chegar na vala de 6 pés (dois metros) mais para o meio da praia. Da galera, apenas eu, Antonio e Biliko nos arriscamos em remar até a lage. A remada, que parecia curta a partir do canal - a lage fica logo atrás de onde termina o canal - era maior do que se apresentava, pois as ondas quebravam mais atrás do que se mostravam vistas da praia e eram muito maiores do que havíamos calculado: as séries maiores entravam com cerca de 2,5 a 3 metros, embora fossem hot-dog, eram pesadas devido ao tamanho e nós acabamos vivendo momentos de pura adrenalina ao tomarmos ondas gigantes sobre a cabeça - felizmente todos conseguiram passar.

Após cerca de uma hora buscando uma onda boa - e grande - na lage, terminamos esta surf-session épica mais para inside da praia, onde as ondas quebravam com, até, dois metros. Foi realmente uma queda que exigiu o máximo de quem se propôs a cair e dropar as morras pesadas que quebravam neste dia - alucinógeno.

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A famosa praia do Cardoso no Farol

O final de tarde deste segundo dia de ondas no Farol foi no bom e velho Cardozão - praia mais famosa da região (foto ao lado) -, o swell já baixara e as ondas estavam quebrando com até 1,5 metros na série, e um intenso crowd disputando as maiores que quebravam formando picos de dois metros. Apesar do crowd, e depois de toda a adrenalina vivida naquela manhã, esta session foi apenas para relaxar e dropar boas ondas tendo ao fundo o belíssimo pôr-do-sol deste paradisíaco surf-spot.

Chegou domingo (12/04/2009), o último dia da barca. As ondas já estavam menores, quebrando com, no máximo, 1,5 metros. Logo pela manhã o Cardozo quebrava perfeito, porém, devido ao crowd intenso em função do feriadão, resolvemos checar a praia de Santa Marta (foto ao lado) - o canto esquerdo da Praia Grande - ao lado (sul) da praia da Galhetas. O mar estava excelente: ondas de 1,5 metros - direitas e esquerdas -, abrindo, extensas e com canal perfeito no canto junto ao morro, mais uma vez, com sol forte e água morna. Apesar do crowd, que foi aumentando conforme o passar das horas, e de alguns locais fazendo cara feia para nós, o surf foi incrível, todos puderam explorar seu repertótio de manobras: cutbacks, rasgadas, floaters, hang-fives e, até, tubos - pura diversão. Fizemos dois banhos, um de manhã e outro a tarde, saindo todos de mala e cabeça feita. Foi uma queda para fechar a surf-trip do Farol com chave de ouro.

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Pedro na praia de Santa Marta

Fim do dia, fim do feriado, fim da trip e, assim, mais uma vez, todos nós tivemos que voltar para as nossas vidas cotidianas, todos sonhando em retornar ao Farol para, mais uma vez, viver momentos de prazer e adrenalina neste point mágico do litoral brasileiro. Um point que, como diz a manchete deste post*, não deixa nada a dever para o Hawaii ou qualquer outro surf-point de destaque mundo afora.

Infelizmente: Fim.


* Veja o post de Maio de 2008 "O Hawaii é aqui"
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Artigo
O Jornalismo na Atualidade

Um artigo de Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto – Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (São Paulo-SP)

Resumo: O presente artigo busca refletir sobre o jornalismo dentro da nova era de comunicação desintermediada proporcionada pela Internet e mídias digitais de um modo geral. Analisa as questões que permeiam esta importante habilitação comunicacional diante das novas possibilidades e práticas do jornalismo através da plataforma. Aborda o surgimento dos diários virtuais (blogs), sua relação com o jornalismo contemporâneo e sua relação com as grandes marcas tradicionais do jornalismo. Sem se embasar em qualquer tipo de monocausalidade, o texto a seguir convida o leitor a perceber os ganhos que a Internet trouxe para o mundo da comunicação e, sobretudo, para o mundo da notícia e do jornalismo.

Disponível para download em arquivo PDF.

Introdução

Sobre o cenário que se amolda em torno do Jornalismo com a emergência de novas mídias, sobretudo a Internet – a rede das redes –, uma questão se levanta: irá a Internet reconfigurar completamente os alicerces dessa tradicional habilitação comunicacional? Dirigindo-se tal problemática para a mais tradicional forma de se veicular jornalismo, os grandes jornais impressos e suas seculares instituições, especula-se: ele irá desaparecer completamente frente ao novo meio?

A hipótese que se lança sobre essas inquietações é, na melhor das hipóteses, a Internet altera os alicerces do jornalismo como um todo, assim como de toda a mídia de um modo amplo e generalizado, pleiteando, inclusive, um papel de dominância junto aos principais veículos dos mass media, papel esse que em um passado não tão longínquo fora cumprido por estes veículos impressos. Mas ele não desaparecerá, o máximo que se pode afirmar sem se recair no erro de uma falsa profetização é que ele será totalmente absorvido pela Internet e a ampla gama de dispositivos móveis conectivos que cada vez mais estão à disposição do público em todo os cantos do globo planetário.

A falsa profetização do fim do jornalismo tem como base a queda na tiragem de vários impressos ao redor do mundo – sobretudo nos Estados Unidos, país detentor de uma das maiores e mais fortes imprensas escrita mundial (Meyer, 2007) –, porém, o estudioso mais atento perceberá que no compito geral, o número de leitores de jornais e notícias em geral tem aumentado quando se soma o total de leitores de todos os meios. Na verdade, o jornalismo nunca esteve tão em alta como está na atualidade, o indivíduo que busca informação tem uma ampla gama de opções para se informar, seja pelo tradicional jornal impresso, seja pela Internet ou por outros meios como o rádio e a televisão aberta ou a cabo. Observa-se que novos canais noticiosos surgem incessantemente em todos os novos meios, assim, além da Internet, é possível se saber quais são as novidades sobre os mais diferentes e inimagináveis assuntos desde os novos jornais gratuitos distribuídos nos grandes centros urbanos, até via torpedo do celular, passando por um incontável número de plataformas e tecnologias de interação, isto é claro, somando-se todos os mais tradicionais veículos que há muito estão inseridos no mercado informacional comunicativo.

Outro fator relacionado ao “fim do jornalismo”, mais uma vez tendo como base a queda nas vendas dos impressos, está relacionada com os novos hábitos das novas gerações. A geração atual não tem o mesmo hábito de comprar jornais como sua precedente, é uma geração acostumada em consumir novidades sem ter que pagar por isso, os noticiários televisivos são, nesse caso, os grandes vilões que consolidaram esse novo hábito de não se pagar para se informar. Já a geração futura, a geração pós-Internet, também conhecida como geração nativa da web, muito menos. Mais do que não possuir o hábito de tirar a carteira do bolso para comprar informação, a geração atual está muita bem familiarizada com as novas formas noticiosas interativas digitais e habitualmente se informa pela Internet ou qualquer outra plataforma digital conectiva, um indicativo de que, cada vez mais, a Internet será a grande plataforma jornalística no futuro que se aproxima.

O novo paradigma para o jornalismo nesta era cada vez mais conectada está enraizado com uma de suas mais importantes características, a influência social. O jornalismo veiculado pelas novas mídias terá de exercer influência naquilo que lhe é mais fundamental, o compromisso social (e não somente no compromisso com os anunciantes/parceiros comerciais), pois, se não assim o for, as portas abertas dentro do espaço ciberespacial comunicacional receberão de braços abertos quaisquer novas iniciativas que se propuserem a praticar um jornalismo compromissado com a sociedade e com o leitor. Novos canais digitais poderão “roubar” a credibilidade das antigas marcas centenárias caso elas deixem de lado aquela que é a característica mais importante do jornalismo, ou seja, a sua relevância social.

Inovação

Outra palavra-chave intimamente ligada ao jornalismo nessa nova era digital é a inovação. Nenhuma mídia se dá à inovação como a grande rede e os dispositivos que a ela se conectam, sendo assim, novidades não param de surgir no novo meio e os meios tradicionais buscam nela novos caminhos para não perderem a sua afinidade com o público leitor. Todo veículo tradicional tem, hoje, o seu site na Internet onde dispõe de novos recursos informativos que os colocam muito além das possibilidades antes limitadas pelos meios estáticos por onde se propagavam. E mais, as incessantes inovações em tecnologia da informação de base digital, cada vez mais, colocam a Internet à frente dos veículos tradicionais e as empresas que tem colocado suas fichas na busca de novas soluções informativas vem se destacando dentro do cenário da notícia. No mundo, o grande exemplo de inovação aliado ao sucesso empresarial dentro do âmbito das novas mídias é a empresa norte-americana Google, isso se levando em conta apenas os seus serviços relacionados com o mundo da informação, mesmo que outras iniciativas da empresa, tais como a rede social Orkut (sobretudo no Brasil), o “canal” de vídeo digital Youtube e a sua plataforma de blogs Blogger, se mostram como novos espaços por onde o jornalismo também se faz presente, especialmente nos blogs, que são um capítulo à parte no que tange o jornalismo nessa nova Era. O estudioso espanhol Manuel Castells (2003) demonstra em seus estudos que a grande vantagem da inovação está no pioneirismo de quem inova, pois uma inovação de sucesso se converte em vanguarda mercadológica: o detentor da inovação é como um piloto de Fórmula 1 que larga na pole-position com os demais pilotos correndo atrás de si tentando ultrapassá-lo, e mais, dependendo da dimensão inovativa, o inovador pode lucrar vendendo as soluções e o know-how que adquiriu, obtendo lucro com sua inovação, o que pode impulsionar a criação de novas inovações em uma espécie de círculo vicioso de sucesso. A inovação que Castells refere-se é justamente a atitude da Google dentro ciberespaço. O sucesso da gigante norte-americana segue essa lógica, foi impulsionado por um novo algoritmo que inicialmente voltava-se apenas para a busca de páginas pelo vasto mundo da web e, com o sucesso de tal empreitada inicial, hoje se volta não só para o mundo da notícia, mas, sobretudo, para o mundo da publicidade e propaganda, além de outros inúmeros novos recursos que extrapolam qualquer possibilidade de listagem em um curto parágrafo.

No Brasil, o grande exemplo de inovação está no portal UOL do Grupo Folha, o maior site brasileiro e o maior de língua portuguesa do mundo. O UOL, ao lado da Globo.com – portal das organizações Globo –, se colocam como os maiores sites tupiniquins justamente por não terem medo de inovar. Mas quando se fala em notícia os aplausos se direcionam ao UOL, pois o portal nasce de uma marca cujo foco maior sempre foi à informação, o jornal Folha de S.Paulo. Já o portal Globo.com é o site da maior empresa de comunicação do Brasil, que detém tal liderança graças ao seu canal televisivo focado em variedades, não apenas em informação. Sendo assim, constatar que no novo meio a Folha, através do portal UOL, está à frente da maior empresa comunicativa do Brasil, nos dá a dimensão do ganho que a Internet traz para o mundo da informação e o quanto a inovação tem sido a base do sucesso para as empresas informativas que se aventuram no novo meio[1]. Definitivamente, tal dado demonstra que a Internet jamais pode ser culpada pela crise de tiragem dos jornais impressos, pelo contrário, se os jornais impressos já não vendem como antes, a Internet é a plataforma por onde ele sempre continuará existindo. Pode-se afirmar que a grande rede é a tábua de salvação para os jornais impressos, cuja crise data de muito antes de seu surgimento e se relaciona muito mais com os novos hábitos informativos das novas gerações e da própria conduta dos veículos que focam sua energia no lucro em detrimento da qualidade da informação jornalística. O único papel da Internet dentro deste cenário de crise dos jornais impressos é a aceleração destas tendências que se iniciam na década de 60 (Meyer, 2007)[2].

Weblog

Mas a inovação não é uma exclusividade de grandes empresas de tecnologia ou que investem em tecnologia, a inovação também está no usuário da Internet e em como ele utiliza os novos meios para disseminar a informação. Nesse sentido, a grande e consolidada inovação dentro do mundo da notícia está no surgimento dos diários virtuais (blogs ou weblogs). A “revolução” dos blogs começa com o surgimento de várias plataformas gratuitas que permitem qualquer usuário da web criar o seu diário virtual sem grandes dificuldades. Com essa facilidade, os blogs passaram a se disseminar pelo novo meio como a peste bubônica durante a Idade Média. Peste para as grandes marcas do webjornalismo que se viram em meio a uma concorrência “desleal”: como poucas marcas podem competir com milhares de internautas que, a cada dia, criam milhares de novos blogs e passam a veicular informações dentro de um volume que qualquer empresa, por maior que seja, não é capaz de absorver? Esta ainda é uma dúvida que aflige os executivos das grandes marcas da notícia mundo afora. Se isto é ruim para as grandes marcas, por mais que elas também tenham os seus blogs, é bom para quem busca informações que não são contempladas pelas pautas jornalísticas da grande mídia. Os blogs absorvem uma infinidade de assuntos e pautas que, até então, não faziam parte da mídia, não “cabiam” na mídia, ou qie simplesmente eram impossíveis de existir sem os novos aparatos hoje disponíveis. Outro ganho dos blogs está no caráter opinativo e pessoal das mensagens que, majoritariamente, se encontram em suas páginas em oposição ao caráter informativo da grande mídia. Esse diferencial dá ao blog uma dimensão que multiplica a visão de mundo da mídia, uma visão mais próxima da realidade, uma vez que muitos blogueiros podem expor a sua opinião, a sua visão de mundo sem a interferência (ou com menos interferência) de outros interesses que não estejam ligados com os seus próprios. Essa característica do blog, conhecida pelos grandes veículos como independência, também revela um dos diferenciais da Internet em relação às mídias tradicionais: na grande rede existe um espaço para que a mídia exerça sobre ela mesma aquilo que ela se propõe fazer em relação à sociedade e aos interesses públicos: vigília. A Internet é canal onde a mídia pode vigiar a própria mídia e este novo fator, sem dúvida, traz um ganho dentro daquela característica que destacamos logo no início deste artigo: o compromisso social.

O grande exemplo dos blogs como ferramenta jornalística enraizada no compromisso social está na discussão da problemática ambiental que hoje aflige o destino da raça humana. ONGs, ambientalistas, entidades de preservação ambiental e direitos humanos estão encontrando nas novas mídias um grande espaço para o debate e a busca de soluções para essa problemática. Neste cenário, os blogs tem se mostrado como um meio democrático e de grande serventia para as pessoas e entidades que buscam publicizar diversas questões relativas à preservação do meio ambiente ou, ao contrário, servir de canal de denúncias de práticas que desrespeitam o meio ambiente. As pautas levantadas através dos blogs relativas às questões ambientais, inclusive, inundam a grande mídia a cada dia, seja na TV, no jornal ou até mesmo nos grandes portais noticiosos da Internet. Este exemplo mostra a força da nova mídia no âmbito do jornalismo e dentro da mídia como um todo. É, mais uma vez, um dos demonstrativos da força e da importância da Internet dentro da atualidade midiática e social.

Os fatos que até aqui revelamos em relação ao blog são apenas pequenos exemplos dentro um mundo de novidades que surgem dentro dessa esfera, tanto dos blogs (conhecida como blogosfera), como da própria Internet. De uma maneira ampla, é fácil entender o ganho dos blogs em relação ao mundo da notícia, antes praticamente monopolizada ao redor de grandes e tradicionais marcas, pois eles não seguem uma única ideologia ou a uma única linha editorial (ou poucas). Mesmo que cada blog, individualmente, tenha a sua linha própria de pensamento, a sua pauta ou o seu foco, dentro da blogosfera, os assuntos e as ideologias estão abertas a todos e mais diversificados assuntos. A pluralidade e a profundidade são os ganhos para a mensagem midiática nessa nova esfera comunicacional e isto pode ser entendido como a expressão da própria inteligência coletiva (Lévy, 1996) dentro do âmbito das novas mídias e todo complexo midiático. Nesse sentido, a inteligência coletiva dos cidadãos conectados expressa a própria evolução do jornalismo na atualidade, tal habilitação ganha em inteligência deixando as limitações de um mundo informativo antes restrito aos grandes veículos e as grandes marcas da informação (o que se pode expressar como um fator que “quebra a espinha dorsal” do jornalismo praticado por grandes corporações). Pode-se afirmar que, na contemporaneidade, o jornalismo ganha em inteligência e evolui com a introdução da Internet no palco da mídia, sendo assim, o jornalismo da era pré-Internet só pode ser visto como limitado, ou até mesmo burro, em relação ao que se tem disponível no momento atual.

O Jornalismo virou uma “conversa”

Muito em função dos blogs e diversas outras plataformas de informação baseadas nas mídias digitais, expõem-se que o jornalismo está se transformando em uma “conversa”. A arte de informar no âmbito da nova mídia deixa as características típicas das mídias tradicionais, baseadas em um receptor passivo e se transformam em um diálogo em função das características interativas da grande rede. O jornalista ou o jornal não apenas informa o leitor/usuário, mas sim conversa com ele (Ward, 2006). É preciso muito cuidado ao se afirmar que, de fato, o jornalismo se transforma em uma conversa na atualidade, o mais correto seria dizer que o jornalismo se torna mais dialogal em função das características dos novos meios, mas não se transforma em uma conversa. Para exemplificar isso, vamos imaginar uma conversa em uma mesa de bar. Se quatro, cinco ou seis pessoas estão batendo papo em uma mesa, pode-se dizer que elas participam de uma conversação, mas se você aumenta esta mesa para quinze ou vinte pessoas, o diálogo começa a se dispersar. Provavelmente a conversa em um lado da mesa não será a mesma da do outro lado da mesa. Neste exemplo, a Internet representa uma gigantesca mesa onde diversos assuntos são debatidos, onde diversos e diferentes diálogos acontecem simultaneamente, algo também entendido como uma Torre de Babel. Apesar disso, nada impede de alguém, em dado momento, levantar a voz, em tom de discurso, e conseguir chamar a atenção de todos na mesa, algo que poderia ser, se pensarmos agora na grande rede, o papel de grandes marcas da informação, que concentram as atenções (Benkler, 2007). Imaginando-se um site de um grande veículo jornalístico ou mesmo qualquer blog de grande audiência, podemos compará-los como imensas mesas de bar por onde diversos assuntos são colocados e debatidos, mas isso não significa que o jornalista esteja dialogando com o usuário diretamente. Basta voltarmos ao fato já exposto anteriormente, quando dissemos que a multidão de navegantes é infinitamente superior ao número de instituições e de jornalistas, o que torna matematicamente impossível se formar um diálogo entre essas duas partes.

O que se observa nos blogs e nos sites informativos pode ser resumido em dois fatos básicos:

1-) As inúmeras pautas postas tanto por jornalistas quanto por internautas de um modo geral fomentam debates diversos e, na maioria das vezes, não articulados e conectados. Nesse caso, a conversa em si se dá entre pequenos grupos de internautas que repercutem os diversos assuntos encontrados na grande rede em pequenos e múltiplos espaços. Alguns espaços encontrados na nova mídia podem exercer esse papel deliberadamente, onde jornalistas e empresas jornalísticas produzem informações em conjunto com o internauta, como, por exemplo, nas plataformas de jornalismo open source e comunidades virtuais.

2-) A “conversa” que se referencia ao novo espaço midiático é algo que pode ser entendido como um monitoramento da opinião pública. Sendo a Internet uma mídia de duas vias, ela permite ao detentor do espaço comunicativo, o monitoramento da repercussão de suas pautas, de modo que pode inserir novas pautas com base nessa repercussão, formando-se assim uma espécie de diálogo, mas que não chega a ser um diálogo do jornalista com o indivíduo único, mas sim com a massa de indivíduos conectados, com a sua audiência. Nesse sentido, a inteligência binária da grande rede permite uma sintonia muito maior entre o jornalista e as empresas com a opinião pública, permite se fazer um jornalismo capaz de atender as exatas demandas do público.. O diálogo aconteceria, dessa forma, entre jornalistas/instituições e as massas, o que é possível devido a audiência da web ser mais estreita, ou seja, a massa de internautas se dividindo em pequenos contingentes que interagem por diversos canais.

Relacionada com essa questão está uma afirmação que é constantemente atribuída ao novo meio por diversos estudiosos da nova mídia, entre eles, podemos citar Manuel Castells (2003) e Pierre Lévy (1996), que dizem que na Internet “o usuário é coprodutor da informação que consome”. A primeira ponderação a respeito desta característica da grande seria afirmar o oposto, pois, como enfatizamos, a Internet é a mídia do usuário, que não apenas consome informação, mas também a produz, sendo o contingente de usuários muito superior ao de instituições, talvez o mais correto seria dizer: “as instituições são coprodutoras das informações que veiculam”. Em relação ao mundo da notícia, poderíamos apenas afirmar que enquanto se contam marcas institucionais às centenas, os blogs se contam aos milhares, e a cada dia essa proporção aumenta mais.

Mas, voltando à afirmação de Castells e Lévy, questionamos: como o usuário é coprodutor da informação? Se ele entra em um site noticioso como, por exemplo, o Estadao.com.br, ou qualquer outra grande marca da notícia. Em qualquer site desse porte, o usuário terá inúmeras informações ao seu dispor, mas como ele se torna coprodutor? Tais sites irão lhe fornecer poucos campos para a inserção de comentários, enviar e-mails e meios de personalizar as notícias que quer receber de acordo com seu interesse/demanda, só isto já se configura como uma coprodução da informação? Cremos que não. O usuário pode se utilizar de outras ferramentas dispostas na web, dentre elas podemos destacar o blog, ferramenta que permite qualquer cidadão conectado se tornar um pequeno. Este pequeno publisher filtra, adiciona, reconfigura, mixa e repercute informações no ciberespaço. Existem outras ferramentas que, além ou ao lado dos blogs irão permitir diversos tipos de interação e produção no nível dos usuários da grande rede: as redes sociais, os mecanismos de jornalismo open source, os wikis e as ferramentas de microblog (ou micro redes sociais), plataformas de publicação de conteúdo multimídia e diversas outras. A diferença destes espaços, sobretudo dos blogs, em relação aos grandes sites noticiosos, está no fato de que neles o usuário é o senhor da informação que produz e repercute, e pode controlar com facilidade o conteúdo que veicula e interage. A chave do sucesso dos blogs e outros espaços interativos centrados no usuário está na facilidade com que qualquer pode se introduzir no mundo da informação e do jornalismo, é por isso que na Internet, cremos, serem as instituições as “coprodutoras da informação que usuário produz”. Isto pode ser também entendido quando se observa diversas iniciativas que ganham relevância por meio dos usuários e depois passam a ser incorporadas por grandes marcas. Aqui, os blogs são, mais uma vez, o grande exemplo de como a informação produzida pelo usuário acaba contaminando as grandes marcas que, assim, passam a segui-lo.

Grandes marcas em uma grande mídia

Para ilustrar este tópico, vamos raciocinar em torno das três maiores marcas da notícia brasileira: a Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e a Globo. Para este raciocínio, vamos nos ater na seguinte questão: o que significam estas marcas dentro de uma mídia que é global, que é, segundo o termo teórico (Lévy, 2006), desterritorializada? Em relação às duas primeiras citadas (Folha e Estadão), o que elas, como marca, representam? Poderíamos dizer que elas representam a cidade ou o estado de origem. Mas o que representa esta referência geográfica dentro de uma mídia que não possui fronteiras?[3] O que significa a “província” de São Paulo em relação ao mundo todo? Uma análise que leve em conta este simples fato, o nome desses veículos, revela que eles não estão condizentes com a nova mídia e, ainda, tal constatação demonstra que a Globo, esta sim, mais uma vez, se põe na dianteira em relação as suas concorrentes, como se pudesse prever o futuro, o grupo comunicacional possui uma marca cujo nome tem valia para todos os meios por onde ela ressoa o jornalismo, do diário impresso carioca à Internet, passando pelo Jornal Nacional – a maior voz do jornalismo brasileiro.

Uma das dificuldades das marcas jornalísticas em sua aventura de inserção no novo meio é, como se pode observar, se colocarem como marca que reflete uma das maiores características da grande rede: o seu alcance global. A Internet é uma mídia que se constrói com marcas cujos títulos possuem um apelo que não só remetem a sua desterritorialização, mas que refletem também a jovialidade do público. As marcas de maior destaque possuem nomenclatura de apelo fonético, são simples e legais, construídas com logotipos coloridos, despojados, interativos, são, também, curtas, facilitando a digitação de seus endereços web (URL) em um navegador. Para se chegar a esta óbvia constatação, basta-se observar algumas das marcas de maior sucesso da Internet: Google, Orkut, Yahoo, Youtube, MSN, apenas para citar algumas das maiores da atualidade. A Folha solucionou este problema com a criação do portal UOL, uma marca de inovação que engloba todo o potencial interativo da plataforma digital, incluindo novas formas de criação e veiculação da notícia que ultrapassam em muito as limitadas possibilidades do jornal impresso do grupo, cuja marca é veiculada junto ao portal através de uma espécie de marca adicional, a Folha-UOL. Embora se possa ponderar ao fato de que a Folha-UOL sejam duas marcas do mesmo grupo, ou que o UOL seja uma extensão da Folha, tais considerações não são objetos que demandem a preocupação dos usuários destes espaços, sejam do portal ou do site de notícias da Folha On-line, o site que corresponde ao jornal Folha de S.Paulo em sua versão para Internet. O usuário do UOL é, em primeira instância, um usuário do UOL e não da Folha, é o assinante UOL, dado que o portal é, antes de tudo, um provedor de acesso à grande rede. Nesse sentido, a marca UOL carrega a marca Folha no ciberespaço através do portal, e não o contrário. Embora muito se fale que o UOL é construído sob o know-how informativo do Grupo Folha, construído sobre os alicerces dessa tradicional marca da notícia paulistana, entretanto, a presença do Grupo Folha na Internet seria melhor descrita como UOL-Folha, e não o contrário. O site da Folha On-line corresponde à cerca de 3% da audiência total do site do portal UOL, sendo que outras sessões do portal contam com uma audiência muito maior que a Folha On-line. Pode-se afirmar com êxito que o UOL “carrega nas costas” a Folha através de seu portal, isto é um fato incontestável.

Seguindo esta linha de reflexão, fica fácil entender porquê o site do Estadão está muito atrás de seus concorrentes, a Folha e a Globo, pois não possui uma marca que se encaixe dentro das características do novo meio. Sem um grande portal para carregá-lo como dispõe a Folha, e com um site sem apelo de marca, esse tradicional nome da notícia paulistana sequer figura entre os sites top 100 brasileiros[4], enquanto os seus concorrentes figuram entre os top 10. Isto é o reflexo de um temor conhecido como canibalização, que seria o fato do site de notícias ocupar o lugar que antes pertencia ao jornal impresso e, devido às características do novo meio, transformá-lo em algo totalmente diferente daquela marca construída ao longo de décadas. Este é o grande dilema do Grupo Estado em seu posicionamento frente ao novo meio. O grupo baseia a sua inserção na web no seu know-how secular de empresa jornalística, procurando replicar em seu site o mesmo padrão de qualidade adquirido através de seu jornal sem se abrir para as inovações como faz a Folha através do UOL e a Globo através de seu portal, o que se mostra como uma estratégia errônea, pois não contempla todas as possibilidades informativas do novo meio e tão pouco possui um apelo de marca que traduz essas possibilidades. Sem um espaço para inovações, o Estadão vê os seus adversários abrirem enorme vantagem dentro da audiência ciberespacial. Se dissemos que a inovação coloca as empresas informativas na pole-position da corrida ciberespacial, podemos dizer que, nessa disputa, o Estadão ainda briga por um lugar no grid de largada.

Considerações Finais

Na atualidade midiática, com a introdução da Internet no grande palco da mídia, podemos afirmar que nada mudou em relação ao jornalismo. O jornalismo na atualidade é presente na Internet assim como, historicamente, sempre esteve presente em quaisquer que fossem os meios disponíveis para a disseminação da informação, dos arautos romanos aos blogs atuais, esta é a principal características do jornalismo: a sua presença na sociedade informando os seus cidadãos. Não é o jornalismo que muda, são os meios que evoluem e, assim, ele passa a ocupar esses novos espaços absorvendo as características a ele disponíveis. O jornalismo, a arte de informar e reportar, de narrar o cotidiano, é algo intrínseco do ser humano, dessa maneira, é algo que está presente na atualidade seguindo as novas tendências comunicacionais que tem por base a nova grande mídia erigida nesta nova era de informação digital interconectada, a Internet. As mudanças do jornalismo na contemporaneidade refletem as mudanças que englobam a mídia e a sociedade globalizada como um todo.

Com isto em mente, sobre a hipótese lançada no parágrafo inicial deste artigo, fica evidente que o jornalismo, independente de qual seja a plataforma, o suporte ou o meio, marca a sua presença ao lado da humanidade, sendo assim, mesmo que se, por ventura, a plataforma impressa a qual nos referimos venha de fato a desaparecer, será resultado de uma evolução que encampará a mídia e a sociedade por completo, proporcionando um jornalismo muito superior ao que é praticado na atualidade. O indício do fim do jornalismo impresso indica uma evolução sem precedentes para a história do jornalismo.

Notas

[1] Pode-se afirmar que a liderança do UOL frente a Globo no ciberespaço é também resultado do pioneirismo do Grupo Folha que entrou na Internet como provedora de acesso cerca de quatro anos da Globo (em 1996), que até 2000 só mantinha uma página web no ar. Este pioneirismo também pode ser entendido como um exemplo de aposta na inovação que conferiu a Folha esta liderança que até hoje se mantém.
[2] A Internet acelera essa problemática no sentido de possibilitar a convergência de diversos meios para a plataforma de comunicação digital, movimento que é acompanhado por empresas de diversos setores da mídia, da tecnologia e da infra-estrutura comunicacional, que passam a fundir-se em poucas empresas, formando imensos oligo/monopólios cada vez maiores e cada vez mais focados no capital (Lima, 2004).
[3] Com exceção das diversas línguas existentes mundo afora.
[4] Segundo o sistema de métrica mundial Alexa (http://www.alexa.com/, 15/02/2009).

Referências Bibliográficas

BENKLER, Yochai. The wealth of networks: how social production transforms markets and freedom. New Haven and London: Yale University Press, 2006.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
___________. Sociedade em rede. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e Weblog: a Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo – SP: Faculdade Cásper Líbero, 2008.
FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
___________. O que é virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.
LIMA, Venício A. Mídia, teoria e política. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem – (Understanding mídia). São Paulo. Editora Cultrix. 1964.
MEYER, Philip. Os jornais podem desaparecer? São Paulo: Contexto, 2007.
SAAD, Beth. Estratégias para a mídia digital. São Paulo: SENAC, 2003.
TERRA, Carolina Frazon. Blogs corporativos: modismo ou tendência? São Caetano do Sul: Difusão, 2008.
WARD, Mike. Jornalismo on-line. São Paulo: Rocca, 2006.


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Frases
Comunicação & Internet

21/04/2010

Por Pedro Luiz O. Costa Bisneto - Comunicólogo

  • Sobre a evolução comunicacional eregida pela Internet numa comparação a evolução advinda da era do vapor:

"Estamos novamente em meio a uma vaporização comunicacional"

  • Baseadas no estudo de Marshall McLuhan:

    "Esse novo meio é quem ditará as novas expressões, as novas mensagens, com todas as características midiáticas que possui, englobando, inclusive, as características que pertencem às mídias tradicionais, dentro da atualidade comunicacional"


    "Para o jornalismo na web, 'o weblog é a mensagem'.”


  • Cenário atual da comunicação:

    "O palco da comunicação na atualidade com o advento da Internet, poderíamos, apenas para uma rápida compreensão desse contexto, intitulá-lo de fase das 'Gerações Públicas Binárias, Conectivas e Massivamente Generalizadas'."

  • "O telefone e o computador separados são apenas devices, gadgets, juntos, se tornam mídia"

  • Crise ética do jornalismo (relacionando às teorias de Guy Debord e Manuel Castells):

    "Se existia um mundo que se afastava da realidade nos veículos embordeirados nos limites de suas próprias fronteiras totalitárias, no mundo virtual sem fronteiras e limites[1], ele também pode alcançar horizontes nunca dantes imaginados, de forma que a Galáxia da Internet também é a Galáxia do Espetáculo"

[1] Desterritorializado e desintermedializado.

  • Sobre a Internet:

    "Como mídia, a Internet é segmentada por natureza"

    "Ao mesmo largo que ela se abre para a coletividade, ela se estreita para a intimidade do indivíduo – a pessoalidade do meio"


    "A interatividade dentro do fluxo de informações da grande rede, capaz de abraçar todos, expõe a força do todo em relação às formas mais centralizadas de criação e veiculação da informação"


    "Se no passado temia-se o poder que os Estados Unidos tinha através do botão que uma vez apertado poderia destruir o mundo através de um holocausto nuclear, hoje, teme-se o poder que emana da 'chave' capaz de desligar a Internet"

  • Blog:

    "A blogosfera (...) pode ser um exemplo de como a peer production se mobiliza pelo terreno cibernético. Como os pares interconectados convergem sobre algumas tecnologias disponíveis na atualidade. Poderíamos dizer que o blog é, inclusive, uma manifestação jornalística da peer production"

  • Jornalismo:

“O próprio jornalismo nasceu de um ato de convergência, Gutenberg não inventou a prensa pensando em criar o jornalismo. O jornalismo foi uma apropriação da prensa de tipos móveis pelas pessoas da época”


"No dia seguinte ao maior congestionamento automobilístico vivido na cidade de São Paulo, o Jornal da Tarde apresentava na sua primeira página (como de costume), como maior destaque, a chamada para as ofertas do caderno Jornal do Carro, enquanto uma pequena manchete, em uma coluna à direita, noticiava o fato que parou a cidade no dia anterior. Esse é um grande exemplo de como a credibilidade dos jornais pode ser minada com o tempo"


Referências

BAUDRILLARD, J. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’água, 1997.
BENKLER, Yochai. The wealth of networks: how social production transforms markets and freedom. New Haven and London: Yale University Press, 2006, pp. 212-272.
BURKE, Peter e BRIGGS, Asa. Uma história social da mídia. De Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
COELHO, Cláudio N. Pinto e CASTRO, Valdir José de (orgs). Comunicação e Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Paulus, 2006, pp. 9-106.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Lisboa: Móbilis in Móbile, 2003, pp. 9-23; 40-53.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem – (Understanding mídia). São Paulo. Editora Cultrix. 1964. 407p.


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A Pá de Cal
A Morte de Armando Nogueira

30/03/2010

Moribundo há algum tempo, morto ontem, hoje é o dia em que o jornalista Armando Nogueira cumprirá o destino que à todos nós é comum, o sepultamento abaixo de sete palmos de terra.

Com ele, outro moribundo, entretanto já morto há mais tempo, também recebe a sua pá de cal, para alegria geral de muitos que vêem nesse zumbi escolástico um impecílio ao maravilhoso mundo da mídia que hoje nos rodeia de forma tecnologicamente sedutora: a ética jornalistíca e midiática.

Armando Nogueira dizia ver que as pessoas ficavam melhores depois da morte, ironia, na verdade, são aqueles que não tem ética é que ficam piores, se postando à sombra da lápide dos grandes ídolos, tentando-lhes sugar o que resta de aura, pois buscam aquilo que estão destituídos. Assim, se vê as mais diversas homenagens, as citações dos bons momentos, a busca do exemplo, por parte dos demagogos, dos falsos profetas - é preciso se separar o jôio do trigo. A mentira acoberta a verdade e dela se veste, o lado de fora da bela viola recebe por dentro o pão bolorento.

Armando Nogueira nunca foi perfeito, foi apenas ético. Foi cego pela ética, só despertou quando viu fincar infectuosas mandíbulas no fraco elo que a une ao jornalismo. Com o que restou da ponta do coleira, viu impotente o monstro que ajudou a parir sair livre pelo mundo em busca de carne fresca para saciar seu voraz apetite. Nesse fúnebre banquete, está seu próprio dragão lhe mentindo honrarias, profeta do Diabo em homenagem à Deus.

Mas que A. N. seja poupado, pois até a tal "glória de Deus" deu origem ao Senhor do Mal. Afinal, vivemos em um mundo de tentações e seduções, são poucos que resistem, menos ainda os que tem os subsídios para afastar de si o cálice, muitos que os tem e os mandam privada abaixo.

Para esses apóstolos do mal, morto Armando Nogueira, já vai tarde, pois a sua senhora já foi mandada além há muito tempo.

Foi-se a ética, foi-se Armando Nogueira. Antes ele moribundo, agora nós. Filhos sem pai, órfãos de um jornalismo extinto pela evolução midiática. Enfim a pá de cal está posta sobre o cadáver de um jornalismo que agora perde definitivamente a linhagem de um de seus últimos genitores.

Só resta, então, nessa sociedade de mortos-vivos, esperarmos a morte para, quem sabe, sermos melhores mesmo sabendo que seremos piores.

Ele era uma estrela solitária, agora somos milhares.


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Manifesto
NÃO À PENA DE MORTE

Por mais que seja absurda a situação da violência e da impunidade no Brasil, PENA DE MORTE é algo absolutamente desnessário em nosso país - desnessário em qualquer parte de um mundo que cremos ser balizado pelos ideais da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diga-se de passagem.

Que se estabeleça uma pena de PRISÃO PERPÉTUA SEM DIREITO À CONDICIONAL para o caso de crimes hediondos. O sujeito comete um crime bárbaro e fica preso para o resto da vida, simples – para nós do lado de fora dos muros, dá no mesmo. Ele morre "para a sociedade", de forma que não precise sermos nós a cometer a barbárie que é a execução de qualquer que seja o bárbaro e seu crime cometido. E sem corrermos o risco de matarmos pessoas condenadas de forma errônea, capisce?

Outro detalhe: a pena de morte só pode existir, embora não devesse, em um Estado no qual a Justiça para crimes menores e suas respectivas punições fossem devidamente aplicadas, o que não é o caso do nosso país. Aqui é difícil se cumprir a lei e se aplicar as penas mais brandas, imagine-se a "penalidade máxima" que é a execução de um indivíduo? Por aqui primeiro precisamos fazer com que se cumpram as leis que já existem, depois, precisamos revisar o nível das punições, ainda, rever certas regalias dos condenados e, enfim, depois de tudo, veremos que de fato não era necessária a instalação de tal penalidade.

Todos sabemos que se existisse pena de morte por aqui, somente os bandidos pés-de-chinelo seriam executados, o que não resolve os nossos problemas, pior, poderia se tornar mais um mecanismo para se executar pessoas, da mesma forma que os "Bope" da vida (ou da morte) fazem na calada da noite periférica dessa terra "sem lei" que é o nosso Brasil.

O Brasil precisa mais de colarinho-branco na cadeia, do que negro ou pobre sendo executado pela Justiça. Um cara que rouba "lá em cima", indiretamente mata muito mais gente do que possa qualquer um com uma arma na mão e, detalhe, contra o sujeito armado nós ainda temos alguma chance de tentar nos prevenir, contra a roubalheira dos políticos, que mata muito mais, pouco podemos fazer à exceção de tentar escolher bem os políticos à cada eleição - mas parece ser insuficiente..

Tem muita coisa ruim no país que precisa mudar - e com urgência -, principalmente em relação à impunidade e o(s) código(s) criminal(s), entretanto, uma coisa boa nós temos, a ausência da Pena de Morte. Que esse quesito permaneça assim.

NÃO À PENA DE MORTE!


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Massacre em Realengo
Aquilo que queríamos

Se em determinado post anterior estávamos indignados com o motorista que atropelou ciclistas em PA, então o que dizer sobre o massacre de crianças em uma escola pública no Rio de Janeiro? Nada. Os pêsames, as análises e as hipocrisias nós deixamos para o resto da mídia - que negocia aumento no valor publicitário da audiência dos programas e das páginas que sensacionalizam a tragédia -, aqui só nos resta fazer uma reflexão mais profunda sobre o contexto da sociedade na qual esse tipo de barbárie ganha a realidade.

E, em uma reflexão mais apurada, só nos resta concluir que era isso o que queríamos, era isso que faltava. Era o que queríamos quando dissemos "não" à proibição no plebicito sobre a questão das armas há alguns anos, quando somos um dos principais países produtores e exportadores de armas, muitas delas traficadas no mercado negro interno e, também, quando, com uma simples lei hipócrita e que nos foi imposta pelos reis da hipocrisia - leia-se EUA -, criamos os nossos Al Capones e depois declaramos guerra ao estado das coisas que nos mesmos criamos, mentindo dizendo que precisamos de armas para nos defender de nós mesmos, em algo que pode ser entendido como uma espécie de "suicídio coletivo".

É o que queremos quando criticamos a eleição de um palhaço circense mas aplaudimos a de bandidos que zelam pelas leis que não lhes ferem. Quando enchemos o tanque de nossos carros novos, comprados sob isenção de impostos concedidos para compensar uma crise no exterior cuja indústria alimenta tanques de guerra que invadem países para roubar gasolina, abastecendo os próprios veículos invasores e a poluição do nosso ar enquanto agente reclama do "cigarro" (cujo imposto dos viciados compensa aquela isenção dada aos automóveis). É isso que queremos quando colocamos a diversão na frente da obrigação, da resolução dos problemas primários do nosso país, patrocinando mega-eventos esportivos enquanto muita gente sequer tem uma privada funcional em casa. É o que queremos quando comemoramos a mentira de sermos uma das dez maiores economias do mundo - os ricos mais ricos e os probres mais pobres - enquanto o nosso povo é soterrado em favelas ano após ano sem que nenhuma previdência seja tomada. É o que queremos quando deixamos infrações e crimes tomarem seu curso para que possamos lucrar com multas e indenizações judiciais ao invés de cortar o mal pela raíz.

Enfim, parabéns Brasil. Parabéns sociedade moderna, estamos chegando onde queríamos. Agora fazemos parte da sociedade da violência globalizada, os massacres de lá também são os de cá. Esse é o resultado de um Estado que tenta curar a doença matando o doente, mesmo sabendo que o seu contágio já atingiu todos nós.


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Nota de Falecimento
Morre Bozo, mas as palhaçadas continuam
A 15 de março de 2009 em Beverly Hills, Estados Unidos, falece Alan Livingston aos 91 anos, o criador do palhaço Bozo

O palhaço mais famoso do mundo, Bozo, faleceu nos Estados Unidos com a morte de seu criador segundo informes das agências internacionais de notícias. O personagem, que chega a ser sinônimo de palhaço no seu país de origem, fez grande sucesso no Brasil durante os anos 80, época que seu show, em versão tupiniquim, era uma das principais atrações da programação infantil da TVS, a "Televisão Santos", o canal do Silvio Santos que depois veio a ser popularizado como a rede nacional SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).

Porém, o brasileiro saudoso do famoso palhaço não precisa se entristecer, a lenda do Bozo está mais viva do que nunca na realidade de nosso país. Ao invés de um único Bozo, o país conta atualmente com milhares deles, os seus próprios cidadãos.

Da época do Bozo para os dias atuais, muita coisa mudou. Hoje temos uma rede de telefonia, tanto fixa como móvel, privatizada que atende todo país, mesmo assim, o preço do telefonema continua caro e inviável para muitos, sendo a melhor opção para um telefonema pouco dispendioso, o bom e velho orelhão, isto é, se você conseguir encontrar um que funcione pois a a rede de telefones públicos nunca esteve tão abandonada quanto agora, simplesmente não se conserta mais telefone público em nosso país e nem se instala novos. Isto sem falar no desrespeito às leis e aos consumidores praticados pelas operadoras, todos os dias os jornais denunciam os abusos e nada muda, haja palhaço para aguentar.

Também temos agora a nossa disposição a Internet, que não funciona no orelhão, mas que pode servir como telefone caso você tenha acesso. No entanto, o preço da conexão no país está entre os mais altos do mundo e, fora dos grandes centros urbanos, não há opções de escolha de provedores e aquele consumidor que queira entrar na web terá de ceder aos caprichos do monopólio à disposição. Isto sem falar na obrigatoriedade de se ter que assinar um provedor de conteúdo, um ultraje ao estatuto do consumidor que é simplesmente ignorado, palhaçada.

Temos também petróleo, porém não temos vontade política para extraí-lo, é mais barato importar, mesmo que isso signifique ter que submeter aos interesses dos cartéis internacionais. Temos também o álcool, porém ainda falta a força política para substituir a gasolina por este combustível que é também mais ecológico. Nós criamos o álcool e foi só. E o preço de nosso combustível está entre os mais altos do mundo, uma verdadeira comédia circense.

Enquanto isso, o custo de vida aumenta, impostos são criados, o desemprego dispara. Em suma, a palhaçada continua. O cidadão brasileiro mantém a lenda do Bozo mais viva do que nunca, pois, como se costuma dizer nos picadeiros de nosso país: "o show não pode acabar", e sem palhaço, não tem circo...


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Cinema
AVATAR: Enfim um filme melhor que Cidadão Kane

O cinema entrou em uma nova era, a era do 3D. Sim, claro, eu sei: é fato que o 3D já existia há algum tempo, but not like this! Quem assistiu antigos filmes em 3D e assistiu Avatar 3D percebe logo a evolução - ou revolução -, percebe que o filme foi feito de um jeito que antes do advento do computador não seria possível. Pois o filme não faz uso apenas das câmeras 3D existentes até então (que hoje são bem melhores que as antigas como qualquer câmera de cinema), seus planos e cenários são construídos e elaborados com a técnologia 3D digital.

Alguém até pode criticar a estória contada no filme, retificando que se trata de clichêt, mas a linguagem do cinema sempre foi e sempre será construída com clichêts e esteriótipos, pois é o único jeito de se contar uma estória (ou história) em duas ou três horas de projeção, mesmo quando a película trata de um tema verídico ou documental.

Porém, Avatar é mais que uma estória sendo contada, é uma nova experiência em se vivenciar a tela grande. Pode-se entender a nova técnologia cinematográfica também como uma resposta à nova concorrência das mídias eletrônicas ao mercado cinematográfico, assim, a mensagem é clara: você pode até baixar filmes na Internet ou comprá-los no mercado negro, mas viver a experiência proposta em Avatar 3D, só no cinema mesmo. É uma resposta similar aquela dada pelo Cinerama da década de 40/50, quando o mercado cinematográfico sofreu um baque com a concorrência da então incipiente televisão. Agora, mais uma vez a história se repete e o cinema finca sua bandeira como a suprema arte imagética: realmente não há como sucumbir ao poderio do escurinho do cinema e da tela grande, ainda mais em 3D.

Assim como Cidadão Kane foi durante muito tempo apontado como o "melhor filme de todos os tempos" pela revolução que trouxe na concepção cinematográfica, Avatar chega para tomar o trono e re-revolucionar a velha arte. Até Orson Welles deve estar aplaudindo de onde quer que esteja.

Na arte de fazer cinema, James Cameron é o novo avatar de Orson Welles.


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Internet
O Google é a Mensagem
Google dominando o Brasil

A Google não está dominando o mundo, mas o Brasil, sim. Uma consulta ao site de métrica Alexa (http://www.alexa.com/) mostra o site do sistema de buscas Google em segundo lugar logo atrás do Yahoo! na liderança da web-audiência global. Mais dois sites pertencentes a Google também figuram entre os top 10 mundiais, o Youtube (3º) e a plataforma de blogs Blogger (9º)[270]. O Google Brasil também é líder em audiência entre os sites de língua portuguesa, seguido pelo UOL (2º), Globo.com (3º), Terra (4º) e iG (5º); o Google Portugal ainda figura entre os top 10, na sétima posição (dados de Dezembro/2008).

Já entre os top 10 brasileiros, a Google possui quatro sites, com direito a dobradinha no topo do ranking com o Google Brasil (1º) e o Orkut (2º), e, os demais, Youtube (5º) e Google.com (8º). A plataforma Blogger aparece em 11º lugar do ranking. A empresa brasileira mais bem rankeada é o UOL, em 4º lugar (61ª mundial) – o Brasil, nessa disputa, não vai ao podium e fica sem medalha. Os outros sites brasileiros que figuram entre os top 10 são: Globo.com (6º) e Terra (9º), num total de apenas três entre dez sites, as demais sete posições são todas ocupadas por empresas norte-americanas.

Qualquer análise da Google adverte o fato de as grandes inovações para a comunicação no âmbito das novas mídias estarem surgindo fora das empresas comunicacionais, sendo a própria Google, uma das que vem criando soluções para o mundo da informação através de variados sistemas e tecnologias. Para o Brasil, o cenário é ainda mais “perigoso”, pois as novidades não só estão surgindo fora do âmbito das empresas de comunicação, mas também de fora do País. E, ao contrário de outros países que apresentam empresas ou mesmo iniciativas governamentais que visam fazer frente à Google, por aqui não se vislumbra nada capaz de frear o seu avanço. Inclusive, dois portais noticiosos de empresas tradicionais do país, a Folha e o Estadão, são usuários de sistemas Google e, também, clientes, ou seja, utilizam tecnologia licenciada frente à líder do ciberespaço. Nesse sentido, a web brasileira expressa aquilo que o país sempre foi: submisso aos seus conquistadores, um prestativo e gentil servo – pela rede, os Estados Unidos estendem, através da tecnologia, a sua supremacia sobre o Brasil. Como se isto não bastasse, em um evento voltado para webmasters brasileiros, o evangelizador dos sistemas de busca da Google Adam Lasnik afirmou estar insatisfeito com a web brasileira, pois “encontrou muitos sites feitos em Flash e sem integração com as ferramentas Google”. Talvez a Google possa comprar a Adobe (empresa detentora do Flash) para resolver esse problema. A fome da Google por mais audiência tupiniquim, pelo visto, parece não estar saciada.

O weblog é a mensagem?

Em relação aos blogs nacionais, o sistema de indexação, busca e rankeamento BlogBlogs (http://www.blogblogs.com.br/) apresenta quais são os blogs de maior destaque do País ou, ao menos, os mais linkados entre aqueles que estão cadastrados neste sistema, que é o mais popular entre os blogueiros brasileiros. O sistema classifica os blogs através do número de ping-back, ou seja, pelos blogs que são mais linkados, e aponta o blog do Interney como o de maior destaque da blogosfera tupiniquim.

A posição de liderança entre os blogs brasileiros do Interney corresponde, no sistema de web-audiência Alexa, à 343ª do ranking brasileiro. Dessa forma, aquela suposta liderança que os blogs possuem frente aos grandes portais noticiosos nacionais só pode ser creditada a algumas coberturas ou repercussões específicas; na média de acessos, os portais estão muito a frente dos blogs. É claro que esses portais largam na frente, pois oferecem muito mais do que notícias, englobam variados serviços e sub-sites cujas audiências lhe garantem essa liderança frente aos blogs, dentre eles os chats que, segundo o especialista em webmarketing Paulo Kendzerski (WBI Brasil), são as ferramentas que garantem a liderança desses portais. Se se enfatiza que os blogs levam vantagem nos sistemas de busca baseados em links, da mesma forma os portais que possuem salas de chat levam vantagem na audiência cuja métrica é embasada no tráfego de usuários (como no sistema Alexa). De forma que este número não é absoluto para afirmarmos de forma pontual que os portais brasileiros são os líderes da audiência jornalística na web, porém demonstra a sua liderança como grandes plataformas de conteúdo para a web-audiência nacional. Nesse sentido, dentre as empresas que detém os maiores jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, O Globo, Extra e O Estado de S. Paulo), duas são líderes de audiência por aqui, o Grupo Folha através do portal UOL e a Globo através do seu portal, embora, neste caso, o alicerce da empresa seja a TV e não seus jornais impressos (O Globo e Extra). Isto demonstra a grande vantagem que esses conglomerados possuem na sua aventura de inserção no mundo da World Wide Web.

Mas é preciso destacar que existem diversos blogs e plataformas de blogs dentro desses portais que lhes conferem um aumento de tráfego. Também não podemos nos esquecer que a plataforma Blogger da Google figura na 9ª posição da audiência mundial e 11ª brasileira, de modo que esses números delatam que “o weblog é a mensagem” ou, ao menos, uma das mais fortes mensagens vistas no “cyberspace”. Talvez, se um dia tais sistemas alcançarem as primeiras posições de liderança de tráfego, próximos aos sistemas de busca – líderes da audiência na atualidade –, a gente possa, sim, de forma contundente, declarar que o “weblog é a mensagem”, não somente ao jornalismo mas à web como um todo.

Existe também uma outra forma de olhar para os números revelados acima que apontam para a veracidade da frase “o weblog é a mensagem”, mesmo que esta seja uma mensagem “fabricada”, manipulada pela própria dinâmica dos sistemas de métrica. Enquanto o sistema BlogBlogs se baseia no número de links que apontam para os blogs, o Alexa baseia-se no tráfego. Aqui se revela a vantagem que os blogs possuem no meio de tantas formas de mensura: o site de maior tráfego no Brasil (e segundo do mundo) é aquele que busca páginas com base no número de links. Ao lado deste fato, existe outro que mostra o sucesso dos blogs atrelado a uma grande plataforma pertencente à mesma empresa, de modo que, dentro da frase citada acima, questiona-se até que ponto não poderia se dizer que “o Google é a mensagem”, tanto dos blogs como da completa atualidade ciberespacial.

Mas é fácil entender o porquê do sucesso da Google. É uma empresa totalmente centrada no usuário, entre estes, indivíduos, empresas e sites de um modo geral. De certo modo, ela dá a medida do nível, muito próximo, em que tanto indivíduos quanto empresas e instituições compartilham o cyberspace. A grande vantagem da Google sobre os webjornais e empresas citadas é que ela não precisa produzir conteúdo para obter audiência/valor publicitário, ela simplesmente oferece uma bandeja para que seus clientes possam compartilhar e usufruir qualquer que seja o conteúdo. A Google, como dizia o slogan de um produto masculino: “não precisa fazer força para agradar”. O grande sucesso da empresa talvez seja esse, algo que vai além da tecnologia de seu algoritmo, ela sempre se posiciona de maneira a facilitar o uso da web em diversos sentidos para os seus “clientes”. A Google, por exemplo, não precisa se preocupar com questões de copyright; conquanto ela cria mecanismos para aqueles que querem reivindicar esse direito, cria outros para que os usuários possam compartilhar conteúdo, inclusive, burlando o copyright. Na atualidade, pode-se mesmo afirmar que a Google está fazendo algo que históricamente ninguém conseguiu fazer, agradar gregos e troianos.

As objeções de Yochai Benkler

A Google também se mostra como o perfeito exemplo para o entendimento das objeções levantadas pelo estudioso norte-americano Yochai Benkler (Torre de Babel, concentração da audiência, monopólios digitais, filtragem de dados e espionagem, função cão de guarda e exclusão digital). A empresa se apresenta na atualidade como a grande centralizadora de atenções no espaço ciberal. O seu sistema de busca e a plataforma de blogs Blogger são dois grandes exemplos dessa centralização, sem mencionar a tecnologia. Aliás, alguns dos top sites que listamos acima, sobretudo o portal UOL, a Globo.com e o Terra, os maiores portais brasileiros (que figuram entre os top 100 mundiais), são grandes concentradores de atenção. A sua disputa pela liderança da audiência no ciberespaço nada mais é que uma disputa pela concentração das atenções, e quem concentra mais, lidera mais. A Google lidera dentro dessa lógica, sendo que ela concentra em suas mãos algo que pode ser considerado como “ouro puro” na nova era digital, ela concentra a propaganda. Enquanto muitos se perguntam como ganhar dinheiro na Internet, ela responde como: ganhando e fazendo os outros ganharem dinheiro.

A Google também pode ser considerada uma grande Torre de Babel, ela possui diversos mecanismos que ajudam a incluir o cidadão na nova mídia. Ao mesmo tempo que ela inclui diversas novas vozes na mídia, ela provê os mecanismos para a filtragem do diálogo, começando pelo seu sistema de busca e englobando diversos outros. A empresa em si apresenta e usa a seu favor essas duas características antagônicas, possíveis obstáculos a “democratização” da web: ela é uma Torre de Babel que concentra as atenções no âmbito das novas mídias.

Outras duas objeções apontadas por Benkler que podemos observar na Google referem-se à questão da espionagem, que se destaca através da “parceria” que a empresa detém com a CIA, e a questão da exclusão digital. Essas característicam remetem a outra característica antagônica da empresa. Conquanto ela trabalha com a CIA, ela cria tecnologias e mecanismos para vencer a barreira da exclusão, como os seus mecanismos de tradução instantânea de sites e outros que visam vencer a fronteira das línguas na Internet. Se se diz que a Internet é uma mídia que possui características dualísticas, o mesmo pode se dizer da Google, e ela sabe como usar muitas dessas características a seu favor. Favorecendo os usuários ela favore a si mesma.

Monopólio Tupiniquim

Se Gordon Moore referenciou o Google como "o que existe de mais impressionante no ciberespaço", para nós brasileiros o UOL é o que existe de mais impressionante na Internet tupiniquim e, para os mais otimistas, para a audiência global de língua portuguesa. O UOL consegue a façanha de bater a Globo no ciberespaço, prova de que o grupo de Octávio Frias aprendeu a fazer Internet – aprendeu a centralizar atenções –, se não pelo site da Folha Online mas através do portal que lidera a audiência nacional, e, teoricamente, como menos dinheiro. Embora esse tipo de liderança em geral se deva à maior capacidade de investimento dessas megacorporações, neste caso, a disputa pela audiência ciberespacial, o Grupo Folha está a frente da Globo, uma empresa com faturamento bruto cerca de quatro vezes maior que o da Folha – o pioneirismo do UOL ainda se reflete nessa liderança. Mas há que se destacar o trunfo que as empresas brasileiras líderes de audiência na web possuem: são provedoras de acesso que se beneficiam de uma lei que obriga os usuários de serviços pagos de acesso à web, o que inclui a banda-larga, a assinarem um provedor de conteúdo, e essas empresas são provedoras de conteúdo - seria apenas coincidência? Não seria este um dos exemplos de Benkler de como algumas empresas podem exercer o seu monopólio sobre a rede?

Referências Bibliográficas:

BENKLER, Yochai. The wealth of networks: how social production transforms markets and freedom. New Haven and London: Yale University Press, 2006.
BENKLER, Yochai. Coase’s penguin, or Linux and the nature of the firm, 2002. http://www.yale.edu/yalelj/112/BenklerWEB.pdf., 10/07/2008.
BENKLER, Yochai e LESSIG, Lawrence. Esfera pública conectada e a produção do Commons, http://wikipos.facasper.com.br//, 14/06/2007
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. A Internet e a Esfera Pública. Monografia, 52pp. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2007.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e Weblog: a Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado, 371pp. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2008.


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O início do fim do mundo

Junho 2008

Você acha realmente que quando o mundo estiver iniciando o seu processo de autodestruição alguma manchete igual à de cima irá ser veiculada pela mídia? Não. A notícia que anuncia o fim do mundo virá fragmentada em diversos fatos aparentemente não relacionados, tais como problemas ambientais, guerras, fome, revoluções etc.

Mas, se tal manchete tivesse que ser escrita, ela já poderia ter sido escrita, pois já estamos vivendo os primeiros estágios daquilo que acarretará no fim do mundo, pelo menos no fim do mundo como hoje o conhecemos. Essa seria a manchete adequada para as recentes notícias que envolvem a mídia globalmente, assim como o global problema que noticiam, a fome.

Quem prestou atenção no noticiário recente pode perceber a sutileza de como é veiculada a questão do aumento dos preços do alimento relacionada com a questão dos bio-combustíveis. Como denunciava o filósofo francês Jean Baudrillard, há décadas estamos mudando toda a paisagem urbana do nosso mundo moderno para que os carros possam circular. Hoje, o buraco é mais fundo, as pessoas estão passando fome para que os carros continuem circulando. E pior, ninguém fala nada, ninguém pensa numa alternativa para os carros movidos à combustão, grande vilão dessa situação que, agora somada a fome, também contribui para o aquecimento global.

Essas pequenas notícias representam a sub-manchete da grande reportagem do apocalipse final a qual rumamos de peito aberto.


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Surf
O Hawaii é Aqui

Some people like entertainment theirselves with any in-land sports activity, for us, we like surfing!*

Farol de Santa Marta, Laguna - SC
Visual do Farol de Santa Marta, Laguna - SC

Quem não tem muito dinheiro para fazer uma surf trip* para paraísos surfísticos tais como o Hawaii ou a Indonésia, não precisa se contentar em surfar as merrecas crowdiadas daquele surf feijão com arroz da Pitangueiras (SP), do Arpoador (RJ) ou da Praia Mole (SC) - entre milhares outros spots de similar crowd que existem Brasil afora. Com menos grana, bom planejamento e um olhar atento nos sites de previsões, pode-se fazer uma trip de nível internacional, surfando ondas grandes e perfeitas, em pleno território brasileiro.

Nos últimos 15 dias, Eu e meu colega Antonio Roberto, percorremos o litoral sul de Santa Catarina, passando pelo Farol de Santa Marta em Laguna e pelas praias de Imbituba e Garopaba, surfando ondas grandes e de nível internacional: uma viagem de sonho para qualquer surfista. Iniciamos com um olho nas previsões que nos mostravam a entrada de três grandes ondulações marchando rumo ao litoral catarinense, e o outro olho no guia de surf que nos dizia que, pelas condições do vento e direção do swell, muito certamente esta região costeira de Santa Catarina estaria perfeita para a prática do surf.

Farol de Santa Marta - 21 a 27 de Abril de 2008

Veja também o Álbum de Fotos da trip

A trip começou na segunda-feira, dia 21, quando chegamos para um final de tarde no Farol de Santa Marta e surfamos ondas de quatro pés num mar de formação irregular na Prainha, a praia do centro do vilarejo do Cabo de Santa Marta que abriga um dos maiores faróis de navegação e pesquisa oceânica do Brasil. Foram as primeiras ondas de um swell* de leste que ainda prometia subir muito. E subiu. No dia seguinte, a mesma Prainha apresentava ondas perfeitas com até 1,5 metros, abrindo a partir do costão à direita, sob o farol, numa formação rara de tal pico. Apesar de neste dia as outras praias da região apresentarem ondas grandes, o vento só permitiu um surf com qualidade neste local, e nós aproveitamos.

Na quarta-feira, as ondas já chegavam a 2 metros, com vento fraco e terral. Enfim pudemos nos deliciar nas direitas gigantes e no surf hot-dog da praia do Cardozo, uma das mais famosas da região, que finalmente começava a funcionar. E, para fechar com chave de ouro, fizemos o final de tarde na Prainha, novamente em perfeitas direitas a partir do costão do farol, com cerca de quatro pés.

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Visual do Swell entrando na baía do Farol

A quinta-feira amanheceu com o surf-boletim matutino da rádio local anunciando séries de 3 metros, o que nem era preciso. Bastava-se abrir a janela da casa onde ficamos (em cima de um morro com vista para a Prainha e a Praia Grande), para se ter uma visão impressionante do mar: gigantescas massas de água apareciam em linhas muito distantes da praia e, de tão grandes, pareciam quebrar em câmera lenta, de tanto que demorava para o lip chegar à base da onda. Se o boletim do mar da rádio anunciava ondas de 3 metros, Antonio e eu vimos, naquele momento, ondas de até quatro metros marchando à Praia Grande. Decidimos então, percorrer algumas praias da região para escolher aquela que tivesse as melhores condições para o surf. Definitivamente aquela visão do oceano anunciava que o dia não era daqueles que você pode ir se atirando em qualquer onda, sob o risco de morte até. Fizemos um checkwave nas praias da Tereza e da Galhetas que apresentavam ondas muito grandes de seis a oito pés, arrebentação distante, muito aquém e fechando o canal à direita que ambas praias possuem. Detalhe: não tínhamos visto ninguém surfando ainda, inclusive na praia do Cardozo, a qual tínhamos passado na ida, ou seja, antes de checarmos as praias da Tereza e da Galhetas (somente alguns surfistas surfavam merrecas no inside da Prainha pela manhã). O que aconteceu foi típico: pesquisamos as condições em várias praias para concluir que a melhor era a primeira que tínhamos visto: o bom e velho Cardozão. Quando chegamos de volta à praia, vimos enfim, alguns surfistas no mar, umas quatro ou cinco cabeças, e mais uma meia-dúzia observando o mar e se preparando para entrar, incluindo nós mesmos naquele momento. O mar estava épico, ondas de dez a doze pés quebravam em períodos esparsos - permitindo tranqüilo acesso ao pico pelo canal à esquerda - com um inside de 6-7 pés totalmente surfável. No mar, Antonio e eu observamos lindas e gigantes ondas perfeitas quebrando, incluindo um seriado de cerca de doze pés que quase nos surpreendeu no outside. Foi a nossa saideira. Tanto quanto épico, perigoso o mar estava, assim optamos naquele dia, por um final de tarde mais tranqüilo, novamente nas direitas perfeitas da Prainha sob o farol, em ondas de 3-4 pés (perdendo a força, já que de manhã ali quebravam ondas de até sete pés atrás do costão do farol). Nesta session descobri uma vala em frente ao costão de rochedos à esquerda da Prainha onde o backwash formava uma onda que quebra em sentido oposto à praia o que, numa alusão ao filme "Endless Summer", surfamos e apelidamos de "in 'n' out".

Já na sexta-feira, o swell perdeu um pouco da força, mesmo assim o mar estava grande, apresentando ondas de 6-7 pés. Mais uma vez, o Cardozo fez as honras do big-surf com ondas perfeitas, extensas e com vento terral, uma surf-session inesquecível. Mas o dia não parou por aí, novamente checamos as praias mais ao norte do Farol e, com o mar um pouco menor, desta vez a Tereza apresentava condições perfeitas para o surf. Direitas abrindo para o meio da praia, chegando num inside cavado de onde vimos um surfista saindo de um lindo tubo. Um canal que te deixava no pico como se fosse um teleférico representava um convite que não poderíamos recusar e, assim, fizemos um dos melhores finais de tarde da viagem, memorável.

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Praia da Tereza bombando grande e pesado

O mar manteve a força no sábado, porém mudou um pouco de direção, agora vindo de leste com influência de sudeste, alterando um pouco a formação das ondas na região. Neste dia então, optamos por fazer uma pequena trip para a praia do Gravatá, passando pela Praia do Moles - onde um rio e um grande pier de pedra separa o Cabo de Santa Marta da cidade de Laguna. O acesso à praia é feito através de uma trilha por um pequeno morro de onde se pode observar Laguna e diversas praias ao norte do Farol, desde da praia do Mar Grosso (em Laguna), passando pelo Tamborete (Moles), Gravatá, Siri até a Praia da Tereza. As condições para o surf não estavam ideais, o mar bombava sem parar ondas de seis pés e os ventos off-shore/side-shore deixavam a formação irregular e fechando um pouco. No mar, canto esquerdo do Gravatá, apenas um bodyboarder e um surfista local de Laguna se arriscavam nas rápidas e pesadas morras. A chegada ao point se fazia por um canal ao lado das pedras que passava sob o line-up, onde a forte correnteza obrigava o surfista remar convicta e constantemente para se posicionar de maneira segura no pico, sob a pena de tomar uma série monstruosa na cabeça sendo assim obrigado a sair do mar e tentar uma nova empreitada pelo sinistro canal - fora o possível perrengue - ou, ser arrastado para o costão de pedras que fica entre o Moles e o Gravatá. E por falar em perrengue, foi o que aconteceu com Antonio. Ele se arriscou pelo canal e conseguiu se posicionar no pico, mas teve que sair do mar duas vezes após dropar duas ondas e ser espirrado do line-up pelas séries que quebraram sobre sua cabeça. Eu, mais cauteloso e ciente de que não estava com uma prancha boa para as condições do mar (um longboard 9'), sequer me arrisquei em tais ondas, tive que me contentar com os prazeres de assistir ondas gigantes quebrando e de todo o visual dessas belíssimas e virgens praias do Farol, o que por si só, já fez o passeio valer a pena. Mesmo frustrados por não termos conseguido pegar as melhores ondas no Gravatá, o surf não parou por aí, na volta, fizemos um check na Praia da Galhetas. Na direita da praia, a partir do canal, via-se valas que cresciam dos 0,5m até dois metros com maiores já mais para meio da praia, um crowd de 30 cabeças se espalhava pelas valas conforme o feeling do surfista: dos merrequeiros do canal até nós, Antonio e eu, que nos posicionamos e dropamos as ondas de dois metros. Como já estava ficando usual, fizemos a mala em mais um final de tarde alucinógeno.

O domingo foi a nossa despedida do Farol, e feita em grande estilo. O Cardozo já tinha perdido a força, apresentando ondas irregulares (vento side-shore) de 1,5 metros e um crowd intenso devido ao fim-de-semana. Nos dirigimos novamente a Galhetas, o que se mostrou a melhor escolha. Como no dia anterior, o canal se mostrava funcional, as ondas cresciam e chegavam aos dois metros no meio da praia e, aquém do costão de pedras por trás do canal, séries perfeitas de seis pés se enroscavam nas pedras formando uma direita perfeita que, com sorte, emendavam até o inside onde o crowd se concentrava e continuavam abrindo em direção ao meio da praia. Apenas um surfista solitário se arriscava neste pico, surfando as direitas de sonho e voltando ao point na caminhada pela praia e depois entrando no mar pelas pedras, diretamente sob o line-up. Antonio e eu remamos para fazer companhia ao surfista solitário e pegamos excelentes direitas, e só deixamos o pico pois um grande peixe não identificado, que temeu-se ser um tubarão, foi avistado nadando no outside muito próximo de onde estávamos. Depois, cansados da longa remada até este longínquo outside e temendo os tubarões, finalizamos a surf-trip do Farol de Santa Marta nas morras de dois metros que se formavam mais para o meio da Galhetas. A palavra sobre esta despedida: indescritível, só quem surfa dias mágicos como foi este último do Farol, pode imaginar como foi.

Embora fosse a despedida do Farol, muita onda ainda estava por vir. Enquanto arrumávamos as malas com destino à Praia do Rosa em Imbituba, o boletim do mar para a próxima semana prometia: um novo swell de sul e um ciclone extratropical nos dava a certeza de que ainda viveríamos muita adrenalina no big-surf. Vivemos e sobrevivemos.

Imbituba e Garopaba - 28 de Abril a 04 de Maio de 2008

A segunda-feira, 28 de Abril, em Imbituba, amanheceu com o mar merrequeado e tempo fechado, com ondas de dois pés na praia do Rosa, uma frente-fria chegara, as ondas, porém, não. Foi o único dia de ondas fracas de toda viagem, embora eu tenha conseguido pegar umas excelentes merrecas com meu longboard (na verdade, a única prancha do meu quiver que utilizei em toda viagem que ainda contava com uma 6'6"). Foi um dia para descansar e rezar por melhores ondas, e elas vieram.

Na terça-feira o mar já apresentava ondas de 1,5 metros na Praia do Rosa, com direitas abrindo do Rosa Sul em direção ao Rosa Norte, extensas e perfeitas. Enquanto um crowd com alguns principiantes se espremia no canal à direita, Antonio, eu e outros poucos surfistas mais aventurados, desfrutamos praticamente sozinhos o pico onde as maiores ondas da série quebravam, foi o primeiro brinde às big-waves de Imbituba, formidável.

Na quarta-feira, iniciamos o surf em ondas de quatro pés no Rosa Sul, o mar baixara um pouco em relação ao dia anterior devido à atuação do vento. Com as ondas perdendo força, resolvemos checar outras praias da região, tais como a do Ouvidor (que estava mexido), e optamos em fazer o final de tarde na praia da Silveira, já no município de Garopaba. Embora a famosa direita da lage de pedra da Silveira não estivesse funcionando adequadamente, onde quebrava apenas um metrinho de onda, a vala mais à esquerda, conhecida pelos locais como "Mike Tyson", funcionava lindamente com ondas de cinco, chegando a seis pés no seriado surpresa e abrindo para os dois lados. Apesar de um certo localismo, com alguns black trunks nos olhando feio, foi possível pegar várias ondas perfeitas, extensas e muito manobráveis, uma das melhores quedas de toda viagem, num pico épico internacional (sede de campeonatos mundiais).

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Visual da praia do Rosa com swell de 7 a 9 pés

Quinta-feira, 01 de Maio, este foi o dia mais desafiador do big-surf de toda viagem. O mar voltava a subir, embora o ciclone ainda não tivesse chego. O swell ganhava força de sul com atuação do também vento sul que soprava fortemente. Dessa forma, as condições no Rosa ficaram muito ruins para o surf (que apresentava ondas de 4-5 pés storm). Decidimos então checar a praia da Vila, no centro de Imbituba, pois este cenário, sul-com-sul, colocava essa lendária onda como uma das melhores opções da região. E foi mesmo. O mar estava épico, com ondas de 6-7 pés, esquerdas rápidas e direitas que abriam muito, mesmo que um pouco irregulares devido ao forte vento. O canal à direita dava acesso direto ao outline onde quebravam as pesadas e rápidas morras. Eu, com minha longboard, na mesma medida que surfei ondas grandes e perfeitas, tive lições de humildade perante a força do mar nas mais pesadas ondas que tomei na cabeça em toda trip - caldos sufocantes - mas o preço do sofrimento valeu pelas desafiadoras ondas surfadas. Enquanto isso, Antonio fez a mala nas direitas e saiu do mar com um grande sorriso no rosto, afirmando ter sido a melhor queda de toda viagem. Fora sim, além de uma melhores, uma das mais pesadas e que mais transbordou adrenalina até então.

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Visual da praia do Porto, vala do Navio Afundado - Imbituba

Na sexta-feira, o tempo virou completamente, a frente-fria ganhava força e já se começava a sentir os efeitos da tempestade que geraria o tão esperado ciclone extratropical que, naquela noite, estaria atuando na região litorânea entre o sul de Santa Catarina e o norte do Rio Grande do Sul (exatamente onde estávamos). As ondas, no entanto, devido a forte atuação do vento, ficaram insurfáveis, todas as praias apresentaram ondas grandes e formação completamente storm. Tempo para churrasquear, se encervejar e esperar pela atuação do ciclone e o alinhamento do swell.

À noite de sexta para sábado marcou a chegada do tão esperado ciclone. Na TV, alerta dos bombeiros, defesa civil em prontidão por toda região sul. Em Laguna (perto do Farol onde estávamos dias antes) e no Arrio do Silva (divisa com RS), velhos pescadores afirmavam "nunca terem visto as ondas quebrarem tão grandes e distantes da praia", era o prelúdio do que estava para chegar. A tempestade foi forte, ventos com cerca de 80km assobiaram na janela da casa onde estávamos, na vizinhança ao lado, algumas árvores tombadas e antenas de TV despencadas, mas todos sobreviveram a tempestade. Apesar da forte tormenta, no amanhecer pós-ciclone, já se observava o sol sair timidamente entre as nuvens. No mar, os efeitos da tempestade foram extremamente significantes, o mar subira de leste e apresentava ondas com até 4 metros em toda região sul do pais, segundo o informe da rádio. Fizemos um checkwave na praia do Rosa e vimos morras de 2,5 metros, com formação irregular, quebrando de morro a morro, do Rosa Sul ao Rosa Norte. Diante de tal cenário, concluímos que a única opção surfável da região, devido à imensidão do mar, seria aquele tipo de pico que "só quebra quando o mar está gigante", e tal pico na região era a praia do Porto de Imbituba.

A Praia do Porto é um cenário singular para a prática do surf. O point fica numa pequena baia que se estende entre o porto de Imbituba ao sul, e o costão do morro ao norte que faz divisa à praia D'água. Na parte sul, um gigantesco moles protege o porto das ondulações no longínquo outside. Caminhando-se para o norte na costa, uma faixa de areia subdivida por três pequenos moles se estende do porto até o costão. Próxima do Costão, na faixa de arrebentação das ondas, jaz um grande navio afundado cuja popa e proa podem ser avistadas despontando acima da superfície d'água, um dos ícones da praia. Devido à proteção dos diversos moles, somente grandes ondulações de leste geram ondas nesta praia e, quando geram (como nesse dia), criam um point único. Os pequenos moles que subdividem a praia criam diferentes valas cujas ondas vão aumentando de tamanho do porto ao costão. No primeiro moles, ondas de 0,5m para iniciantes, no segundo, ondas de 1,0 metro cheias, no terceiro, 1,5 metros power e, se aproximando da "vala do navio", ondas cascudas de até 2 metros. A acesso à praia é feito por uma favela e, um pequeno estacionamento ao lado de um campo de beach soccer, dá acesso às valas dos moles, local onde a surfistada se aglomerava. No mar, várias cabeças se dividiam entre os três moles, optamos por entrar pelo primeiro, onde a rebentação era fácil, e remar para o terceiro moles, onde as ondas quebravam com cerca de 4-5 pés na série. Embora um pouco crowdiado, pois todos surfistas da região estavam por ali, o surf foi fenomenal. Ondas cheias e fáceis de dropar no outside, chegando num inside cavado e tubular. Para terminar a session, ainda remamos para a última vala, entre último moles e o navio afundado, para surfar as ondas maiores que ali quebravam, e pegamos a nossa saideira nas morras 5-6 pés.

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Visual da praia do Porto - Imbituba

No dia seguinte, domingo, o mar manteve a força, ganhando influência de sudeste. Os ventos continuaram fortes e o cenário do dia anterior se repetiu: a única praia que apresentava ondas surfáveis era a Praia do Porto. Com o mar de sudeste, as ondas já não quebravam como no dia anterior, mas altas ainda rolavam no terceiro moles e na vala do navio. Ao passo que a vala do primeiro moles da praia estava flat, podia-se observar ondas gigantes quebrando e passando por cima do gigantesco moles que protege o porto no outside. Já no mar, via-se ondas de até 3 metros passando por fora, rumando para o costão da praia D'água e para praia que vem em seguida, a da Ribanceira (ao norte), realmente um cenário psicodélico. A surf-session foi incrível, o mar, com formação clássica, permitia dropes rápidos em ondas bem emparedadas e muito manobráveis - tubos, hang-5, floaters e rasgadas. Mais uma vez, finalizamos o surf próximos, desta feita mais ainda, das morras na vala do navio e, essa foi também a onda que finalizou a viagem.

Como, infelizmente, não se pode apenas viver surfando (sem ser um surfista profissional), à noite já estávamos na estrada, voltando para os nossos lares, nossa vida cotidiana e nossas obrigações. Na bagagem de volta, trouxemos a eterna lembrança e aquela satisfatória sensação de que realmente "fizemos a mala" nesta inesquecível surf-trip.

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15 anos de Farol

Fim.


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Mini-Dicionário do Surf - Termos em Inglês, Expressões, Neologismos, Gírias etc

Em ordem alfabética

A
-Altas/altas ondas: ondas grandes e perfeitas.
-Arrebentação/rebentação: local onde as ondas estão quebrando e formando massas de espuma branca que se dirigem à praia/costa.

B
-Bachwash: "água-voltando", repuxo que se forma em sentido contrário à praia depois que uma onda atinge a praia/costa e forma uma onda que caminha em sentido oposto, podendo as vezes ser surfada (“in ‘n’ out”).
-Batida: manobra onde o surfista projeta o fundo de sua prancha, o quanto mais verticalmente conseguir, em direção ao lip da onda.
-Big-surf: surf em ondas grandes.
-Black trunk: surfista grande, feio, forte e mal-encarado. Geralmente nativo/caiçara.
-Board: prancha.
-Bodyboard: modalidade onde se surfa deitado com auxílio de uma pequena prancha de peito (conhecida como moreybuggie ou morey) e pés-de-pato.
-Bodyboarder: aquele que pratica bodyboard.

C
-Caldo: quando a onda mantém o surfista submerso por muito tempo, sufocando-o, quase afogando-o. Acontece geralmente quando o surfista cai da prancha na onda (vaca ou wipe-out), ou uma onda muito forte quebra em cima dele (“tomar na cabeça”).
-Canal: parte do mar onde as ondas não quebram, permitindo acesso fácil para as ondas em vários spots, forma-se geralmente nos cantos das praias próximos aos costões e, em dias de mar agitado, geralmente apresentam forte correnteza em direção ao outside.
-Checkwave/check: checar as condições das ondas/mar.
-Crowd, crowdiado: aglomeração de surfistas numa mesma onda/praia.

D
-Direita: onda que quebra à direita do surfista quando este voltado para a praia.

E
-Esquerda: onda que quebra à esquerda do surfista quando este voltado para a praia.

F
-Fazer a mala: pegar várias ondas boas, surfar bem, pegar ondas perfeitas.
-Feeling: (sentimento), refere-se a vontade e atitude do surfista perante às ondas.
-Flat: mar sem ondas.
-Floater: manobra onde o surfista flutua com a prancha sobre a espuma branca e/ou desliza com o fundo da prancha pelo lip da onda.

G
-Go for it: expressão típica de surfistas ou skatistas que se refere a coragem (para dropar ondas grandes e perigosas ou descer rampas altas e vertiginosas).

H
-Hang-5: manobra típica de longboard, quando o surfista caminha até o bico da prancha e coloca um pé (5 dedos) na borda da prancha.
-Hang-10: manobra típica de longboard, quando o surfista caminha até o bico da prancha e coloca os dois pés (10 dedos) na borda da prancha.
-Haole: surfista iniciante, refere-se também aos surfistas que não são nativos ou são de fora de um determinado lugar/praia, ou de surfistas que não moram em cidade de praia.
-Hot-dog: ondas cheias/gordas.
-Hotspot – do inglês literal "ponto-quente"; vala/bancada especial e/ou desconhecida para prática do surf.

I
-Inside: linha que divide a faixa de rebentação das ondas e parte em direção à praia/costa. Onde as ondas geralmente quebram mais fortes e tubulares.

J

K

L
-Line-up: linha entre o outside e o inside onde as ondas estão quebrando. Posição de risco para o surfista pois as ondas podem quebrar sobre sua cabeça.
-Lip: a parte da onda que quebra formando uma espuma branca; cortina d'água que se projeta à frente e à base da onda quando ela quebra.
-Localismo: quando nativos de uma determinada praia ou pico querem dominar o surf em determinadas valas, chegando até mesmo a impedir outros surfistas de pegarem onda onde estão.
-Local: surfista nativo.
-Longboard: prancha grande ou simplesmente pranchão, com medida mínima de 9 pés (3 metros). Modelo mais tradicional de prancha e que remota aos primórdios do desenvolvimento do esporte.

M
-Mar grosso: o mesmo que mar grande, com ondas grandes.
-Mar/onda cascudo(a): mar com ondas grandes, fortes, pesadas e perigosas.
-Merreca: onda pequena, com até 2 pés de altura (cerca de meio metro). Mar merrequeado=mar pequeno.
-Merrequeiro: surfista que só pega onda merreca, onda pequena.
-Mini-model: prancha pequena ou simplesmente pranchinha. Modelo de prancha mais moderno e que permite surfar ondas com mais velocidade.
-Moles/Mole: também conhecido como "pier de pedra". Barreira de pedras feita para segurar o mar e/ou as ondulações.
-Morra: onda muito grande, forte e pesada.

N

O
-Off-shore/side-shore: "vento-terral de lado", vento terral que não está perfeitamente alinhado com as ondas, vindo de lado e deixando-as balançadas e, dependendo da intensidade, prejudicando a prática do surf.
-Onda mexida: onda balançada, irregular, repicada ou engruvinhada. Prejudicando ou impedindo a prática do surf.

-Outside: linha que divide a faixa de rebentação das ondas e parte para mar aberto.
-Outline: linha do outside onde o surfista se posiciona para pegar as ondas (um pouco mais ao fundo do line-up).

P
-Pés: medida americana utilizada para ondas e pranchas (3 pés~1 metro).
-Período: intervalo de tempo entre as ondas que quebram no mar, quanto mais baixo, mais tempo demora para uma onda aparecer e quebrar na praia/costa. Período alto=”mar bombando”, significa que as ondas entram uma atrás da outra, tornando a rebentação difícil de ser atravessada pelo surfista.
-Perrengue: passar momentos de perigo e/ou dificuldade no mar.
-Pico: mesmo que point.
-Pier: construção que avança mar adentro, servindo tanto para barrar o mar, quanto de anteparo de barcos e pescadores.
-Point: ponto/pico onde quebram ondas, pode ser tanto uma vala quanto uma praia como um local qualquer da costa, uma cidade, ilha ou, até mesmo, uma bancada de pedras ou coral distante da praia.
-Power: (poder, energia) forte, pesado.

Q
-Queda: o mesmo que surf-session, dirigir-se à prática do surf, entrar no mar para surfar.
-Quilha: peça de formato fino e curvo que se estende do fundo da parte traseira da prancha e serve para dar estabilidade ao surfista, permitindo manobrabilidade, assemelha-se, pelo formato, com uma barbatana de tubarão.
-Quiver: conjunto de pranchas de um surfista, com diferentes modelos para diferentes tamanhos e tipos de ondas.

R
-Rasgada: manobra onde o surfista faz uma virada rápida com a prancha, forçando o pé sobre o fundo, "cortando" a onda com a rabeta e as quilhas, espirrando uma cortina d'água, "rasgando a onda".

S
-Session/surf-session: tempo que o surfista permanece no mar surfando.
-Seriado: uma série de tamanho maior do que as que estão quebrando regularmente naquele momento.
-Série: seqüência de ondas que quebram em intervalos (ou períodos) regulares.
-Side-shore: vento que vem de lado às ondas, também conhecido como "ladal", deixando as ondas balançadas e prejudicando a prática do surf.
-Spot: ponto no mar onde quebra uma onda surfável.
-Stand-Up Paddle Surf: "Surfe de remar em pé", modalidade de surfe na qual o surfista se mantém em pé sobre um pranchão com alta capacidade de flutuação e se utiliza de um remo para se deslocar sobre a superfície d'água e surfar.
-Storm/mar storm: (mar tempestuoso) mar com ondas mexidas, irregulares.
-Surf: (surfe, surfar) pegar onda, deslizar sobre as ondas.
-Surf trip: (viagem de surf) surfistas viajando em busca das ondas.
-Swell: ondulação.

T
-Teleférico: quando a correnteza de um canal leva o surfista direta e rapidamente ao ponto exato onde as ondas quebram.
-Top-to-botton: (de topo ao chão, em queda-livre) quando a espuma se projeta à frente, diretamente para a base da onda, criando uma cortina d'água (lip) que, por sua vez, forma um tubo. Genericamente, refere-se a ondas fortes e tubulares.
-Tubo: manobra onde o surfista se posiciona por baixo do lip sendo completamente coberto por ele, ficando assim, literalmente dentro da onda.

U

V
-Vala: o mesmo que spot: ponto no mar/costa onde quebra uma onda surfável.
-Vento maral (on-shore): vento que sopra do mar à costa (de costas para as ondas). Péssimo para a prática do surf, deixando o mar com ondas irregulares e mexidas (ou storm).
-Vento terral (off-shore): vento que sopra da terra para o mar (de frente para as ondas), melhor para a prática do surf, que ajuda a manter as ondas mais lisas e alinhadas.

X

W
-Wing-Swallow: um tipo de rabeta de prancha que tem forma de “W”, proporciona manobrabilidade.

Y

Z


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Resenha - The Vanishing Newspaper
A Profecia de Meyer

Análise sobre o filet mignon da obra científica Os Jornais podem desaparecer?
de Philip Meyer (São Paulo: Editora Contexto, 2007).
Baixe esse texto revisado em 13/08/2014 em formato PDF

Anteriormente em nossos estudos, refletimos sobre a relação das novas mídias com as dificuldades que os jornais impressos perpassam na conteporaneidade midiática. Fica claro que o novo “alicerce” da mídia digital altera todo panorama dos negócios comunicativos, uma mudança que afeta a mídia como um todo, inclusive o jornalismo e o mais antigo representante desta arte e negócio, o jornal diário impresso. Mas qual seria a clara causa que explicaria o fato de apenas os jornais diários estarem sofrendo com essas mudanças? O estudo de Philip Meyer, Os Jornais podem desaparecer?, é muito preciso ao apontar os fatores que levam à crise dos impressos e, segundo o autor, poderão levá-los à extinção antes da metade deste século.

Os Jornais Podem Desaparecer?
Os Jornais Podem Desaparecer?
- Philip Meyer

A segmentação

Logo na introdução de seu estudo, Meyer expõe qual é a peça-chave que faz a Internet levar os impressos à crise: a segmentação. Citando os estudos do sociólogo Richard Meisel[1], ele mostra que a segmentação da mídia, que envolve todos seus setores, é uma tendência que vem de muito tempo e, cada vez mais, se intensifica. Dessa forma, Meyer percebe que “a Internet é apenas a mais recente de uma série de avanços que contribuíram para a ‘segmentação’ da mídia” (Meyer, 2007:12). E depois complementa: “Ao atender de modo cada vez mais eficiente quem busca informação segmentada, a Internet acelera essa tendência em direção a públicos menores” (Meyer, 2007:12). Ao mesmo tempo em que a segmentação é um fator que está diluindo os leitores por novos meios, quadro agravado com a ascenção da Internet, essa tendência explica a busca ávida por “conteúdo” vista nos portais informativos da web, incluindo os jornais impressos que lá se encontram, tanto em parcerias com grandes provedores, como provendo acesso e diversos novos canais comunicacionais em uma mostra que, no terreno cibernético, é preciso se expandir para englobar os novos e, cada vez menores, públicos.

O modelo de influência

Mas como se explica o fato de a Internet agravar a crise dos jornais impressos? Meyer responde a esta questão com o que chama de “o modelo de influência”. Segundo ele, “os jornais estão no ramo de expor leitores aos anunciantes”. Neste ramo, o negócio ganha valor quando o jornal consegue exercer influência sobre o público leitor, quanto maior a influência, maior o valor do veículo. Meyer aponta que “um jornal produz dois tipos de influência: influência social (...) e influência comercial” (Meyer, 2007:17), e relaciona essas instâncias com o valor do jornal: “A influência de um meio de comunicação pode aumentar sua influência comercial. Se o modelo funcionar, um jornal influente terá leitores que confiam nele e (...) mais valor para os anunciantes” (Meyer, 2007:18). A Internet está mudando o quadro sólido por onde esse modelo se estruturou no decorrer do século XX, pois “as novas tecnologias (...) mudam a natureza do público” (Meyer, 2007:18-19), além de outros fatores que alteraram o caminho por onde a publicidade se espalha: “A impressão mais barata e de melhor qualidade também tornou a publicidade de malas-diretas mais atraente e contribuiu para a segmentação da mídia muito antes de existir a Internet" (Meyer, 2007:19). Nesse último quesito, é evidente que as tecnologias de rede com seu alto poder de contabilização e análise de dados, dentro da lógica da customização da informação (e também da propaganda), tendem a agravar esse quadro.


No seu estudo, Meyer aponta para um fato inexistente antes da era “pós-Internet”: a escassez de atenção (Meyer, 2007:19-20). Com a diluição da atenção do público diante das novas opções oferecidas pela web, os jornais impressos, que durante o desenvolver do seu negócio sempre se preocuparam mais em maximizar o lucro, estariam cometendo um erro: “os jornais deveriam estar mais interessados em conquistar uma percentagem relevante [de atenção na Internet] do que em maximizar a lucratividade a curto prazo” (Meyer, 2007:26), ou seja, os jornais deveriam reverter seu lucro em investimento em inovação. O fato se agrava quando pensamos que os grandes jornais (no Brasil especialmente) deixam de ser comandados por famílias e passam a responder à sede de lucro dos acionistas, “Uma visão ainda mais abrangente (...) vê a pressão dos investidores corroer o profissionalismo em diversas áreas (...). A corrosão dos valores de profissionais liberais pode ser uma estrutura útil para examinar o que está acontecendo com os jornais” (Meyer, 2007:25). Uma questão que se relaciona com a ética jornalística e que a coloca diretamente ligada à desvaloração do jornal impresso como um dos negócios comunicativos disponíveis na atualidade, e que se intensifica cada vez mais, principalmente quando se percebe que os novos acionistas dos jornais, principalmente os grandes jornais, são grandes conglomerados midiáticos que se guiam com foco na lucratividade dos meios.

Dentro do seu modelo de influência, Meyer passa a medir valores de confiança nos jornais, comparando-os com dados de leitura dos mesmos, durante o período de 1967 a 2002. O gráfico (Figura 1) destas medições mostra que:


A Profecia
Figura 1 *

A linha de tendência cai a uma taxa média de 0,6 ponto percentual por ano, o que levaria a zero em 2015. Mas (...) o declínio deu sinais de nivelamento após uma quebra brusca entre 1991 e 1993. Agora vamos ver o que aconteceu com o hábito de leitura diária dos jornais no mesmo período (Figura 2). Esta é uma linha íngrime, e há menos variação ano a ano. A declividade é um pouco superior a 0,95 ponto percentual por ano. Tente prolongar essa linha com uma régua e ela mostrará que não haverá mais leitores de jornais no primeiro trimestre de 2043 (Meyer, 2007:27).

Mudança de Hábitos
Figura 2 *

Eis a “profecia” do estudioso. Porém, o próprio Meyer questiona a validade de sua projeção: “O fato de que tanto a confiança quanto o número de leitores vêm diminuindo a uma taxa semelhante no mesmo período não significa que uma coisa seja causa da outra” (Meyer, 2007:27). Em outro gráfico, Meyer mostra que a baixa no número de leitores também se relaciona com o hábito de leitura das novas gerações que, cada vez mais, lêem menos jornais: “Desde que a geração dos baby boomers [nascidos no pós-guerras] envelheceu, sabemos que os jovens lêem menos jornais (...). Durante anos, nos consolamos achando que eles se tornariam parecidos conosco e adotariam o hábito de ler jornais quando fossem mais velhos. Isso nunca aconteceu” (Meyer, 2007:28). Quanto à questão da diminuição da influência do jornal, expõe: “(...) precisamos de um projeto experimental que compare o uso dos jornais em comunidades com diversos níveis de credibilidade durante um longo intervalo de tempo” (Meyer: 2007, 29), ou seja, um longo estudo sobre credibilidade[2], item que, como se evidencia, pode ser a chave para a sobrevivência, ou para o fim (caso mal trabalhada), dos jornais impressos dentro da nova era comunicacional interconectada.

Embora o estudo de Meyer aponte para o fim dos impressos, em parte pela perda de sua influência perante o público, entendemos que essas instituições têm chances de reverter esse quadro, a credibilidade pode ser reconstruída, re-trabalhada e, até, valorizada como marca, inclusive através dos novos meios. Se o público jovem é desabituado à leitura de jornais e, cada vez mais, tende a migrar para os novos meios interativos, tudo leva a crer que os jornais tentarão migrar para essa nova esfera onde poderão, inclusive, conquistar a confiança desses novos públicos e, quem sabe, reverter esse quadro relacionado a sua influência. E mais, o estudo de Meyer aponta a influência dos impressos em grande parte relacionada com a cidade (condado) de sua origem e, sendo a Internet uma mídia global, um grande jornal poderia utilizar o seu valor de marca para conquistar públicos mais amplos, além do seu condado de origem. Mas como medir isso? Essa é uma dúvida que ainda põe em cheque os modelos de negócio na Internet, e foram as exatas palavras do diretor do Ibope Inteligência Marcelo Oliveira Coutinho Lima[3] ao se referir às novas iniciativas provenientes do usuário na web que ganham a atenção de milhares de internautas (como um simples vídeo no Youtube), em contrapartida à escassez de atenção típica do novo meio sofrida por grandes órgãos de mídia que investem milhões em publicidade.

O próprio Meyer aponta a Internet como uma saída para os jornais impressos dentro dessa tendência, dentre outras alternativas, ele sugere: “Entre na indústria substituta” ou “Trate de exaurir a posição do mercado” (Meyer, 2007:42), esta última seria uma tática de “espremer a laranja ao máximo”, extraindo todo lucro possível antes do fim do negócio, estratégia que Meyer também chama de “pegue-o-dinheiro-e-corra”. Em seguida, ele discorre sobre esses dois cenários táticos que as empresas podem adotar em um momento de crise como o que se desenha no presente.

1-) Pegue o dinheiro e corra

Neste cenário[4] “os donos aumentam os preços e simultaneamente tentam manter a sua rota de lucratividade com as técnicas usuais: diminuir espaço editorial, cortar pessoal, reduzir a circulação em áreas remotas (...) manter baixos salários” (Meyer, 2007:49). Essa seria uma maneira de resolver o problema financeiro, mas que não se sustentaria em longo prazo, pois “cobrar mais e entregar menos não é uma estratégia que possa ser mantida por tempo indefinido” (Meyer, 2007:48)[5]. Ainda cremos que, nessa estratégia, a credibilidade do jornal acaba sendo colocada em segundo plano e, como vimos na presente análise, a credibilidade é parte fundamental dentro do “modelo de influência” proposto por Meyer. Portanto, deixar a credibilidade em segundo plano significa, em longo prazo, diminuição na influência do jornal sobre a comunidade, portanto, implica na sua desvalorização perante o público e, conseqüentemente, perante os anunciantes. Ainda, neste cenário, podemos perceber que a Internet e os novos aparatos digitais vêm servindo como uma maneira de diminuir custos, neste sentido, ela se mostra como uma ferramenta que não engrandece a antiga mídia e, embora possa dar fôlego financeiro para empresas com a automatização de tarefas e redução de pessoal, no longo prazo, entretanto, é uma tática que não colabora para o fortalecimento da credibilidade do veículo perante a comunidade e a opinião pública.

Sobre o valor da credibilidade, Meyer expõe que ela “explica 19% da variação residual nos preços dos anúncios publicados. Seu efeito é estatisticamente significante” (Meyer, 2007:63), e complementa: “(...) um ponto percentual de melhora da credibilidade vale um aumento de 2,5% no preço de tabela do espaço publicitário de um jornal” (Meyer, 2007:64). Fica claro que apostar em táticas que levem à diminuição da credibilidade do jornal não podem compôr uma estratégia sólida e duradoura, por mais que se mantenham altas as taxas de lucro dentro do curto prazo.

2-) Insira-se no novo ambiente

Este cenário é assim descrito por Meyer: “Os donos atuais – ou seu sucessores – aceitarão a realidade da nova competição, investirão no aprimoramento de produtos que explorem totalmente o poder da mídia impressa e transformarão os jornais em grandes players num mercado de informação que inclui a mídia digital”, que depois aponta: “No segundo cenário, as empresas jornalísticas aprimorariam, em vez de degradar, seus produtos editoriais” (Meyer, 2007:50). Assim entendemos que, nessa tática, as possibilidades de manutenção e fortificação da credibilidade são maiores, já que não há degradação no produto, ao contrário, ele se renova.

As empresas jornalísticas que hesitam em explorar os novos ambientes podem realmente falir, pois dificilmente conseguirão vender o seu negócio. Segundo Meyer, durante muito tempo os jornais foram um negócio com altas taxas de lucro. No novo cenário midiático atual, essas margens caíram drasticamente e, segundo sua visão, “(...) não existe uma transição simples de uma indústria acostumada a margens de 20% a 40% para uma que se contente com 6% ou 7%” (Meyer, 2007:48). Os jornais são um bom negócio quando apresentam alta lucratividade, uma vez esta em baixa, tornam-se um “mau negócio”. Para ilustrar essa situação, Meyer faz a seguinte reflexão:

Se eu lhe vender uma galinha que bota um ovo de ouro por dia, você me pagará um preço baseado na sua expectativa de retorno sobre o investimento (ROI, na sigla em inglês), que deve ser maior do que o banco pagaria num certificado de depósito, mas não muito maior. Ao negociarmos o preço que você quer pagar (e que eu quero vender), ambos estaremos buscando um ROI favorável (...). E partiremos do princípio de que a galinha continuará a botar ovos à mesma taxa. Avance um pouco no tempo. A galinha (...) passa a botar um ovo de ouro por semana. Isso faz de você um grande perdedor. Veja, a galinha continua sendo ótima. Você pode resignar-se à diminuição de receita ou vendê-la para um terceiro (...) que ficará orgulhoso (...) simplesmente porque pagou um sétimo do valor gasto por você (Meyer, 2007:49).

Considerações em relação à problemática exposta

Independente da “profecia” que demonstra através de seu modelo, o estudo de Meyer aponta para dois fatores que levam à queda da circulação dos jornais: a mudança dos hábitos de leitura das novas gerações de leitores e a queda da influência dos jornais, instância esta que se relaciona, inclusive, com a credibilidade do veículo. Além disso, o estudo aponta para uma desvalorização do negócio frente às novas possibilidades oriundas também do novo meio cibernético. A relação da Internet nisso tudo está na quebra do monopólio da informação, hoje o jornal tem um novo concorrente que, aos poucos, vai lhe sugando público e verbas publicitárias, baixando sua lucratividade. Afora os dados que apontam para o fim do jornal impresso em 2043, a verdadeira profecia de Meyer, aquela que parece melhor definir o novo cenário do jornal impresso dentro da era digital, talvez esteja na seguinte frase: “No futuro, haverá espaço para os jornais num ambiente sem monopólio. Eles não serão tão lucrativos, e isso será um problema para seus donos – sejam proprietários privados ou acionistas –, mas não para a sociedade” (Meyer, 2007:48).

Em suma, esta é uma problemática que a sociedade não precisa se preocupar. Aos donos dos jornais, diante do novo cenário analisado, enfim, "eles que são brancos (e muitos de olhos azuis) que se entendam".

Notas:

* Gráficos ilustrativos desenhados com base nos gráficos do livro de Meyer citados no texto.
[1] Richard Meisel, The decline of mass media. Massachusetts: Public Opinion Quaterly, 1973.
[2] Além de um estudo sobre credibilidade ser muito amplo, como este de Meyer, trata-se de um objeto muito complexo e com múltiplos pontos de difícil análise. No Brasil só existe um estudo de credibilidade feito pelo Ibope e alguns poucos outros que analisam a questão sobre diferentes focos, o que dificulta a compreensão maior desse objeto dentro do cenário midiático nacional. Uma das facetas subjetivas desse objeto aparece num estudo do economista norte-americano Matthew Gentzkow intitulado What Drives Media Slant (O que leva a imprensa a ser tendenciosa). O estudo mostra que os interesses econômicos pesam mais nas distorções do noticiário que a ideologia, e vai além, afirma que tais distorções seguem o gosto do público, como uma forma de manter a credibilidade do veículo. Duas matérias veiculadas no Observatório da Imprensa abordam essa questão. Este fato também demonstra como é possível se trabalhar a credibilidade.
[3] Em palestra na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo-SP) em 23/05/2008.
[4] Cenários apresentados pelo estrategista empresarial Michael E. Porter (em Meyer, 2007:49-50).
[5] Uma notícia veiculada no jornal Folha de S.Paulo em 19/07/2006, intitulada “New York Times corta 250 empregos e diminui tamanho”, exemplifica bem esse cenário descrito por Meyer (Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2611200603.htm, 09/11/2008). Já um estudo dissertativo de Ruth Penha Alves Vianna (1992), doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha), constata que a prática de “espremer a laranja” é algo não só praticado em função da perda de receita de um determinado veículo. Antes mesmo da chegada da Internet, a própria Folha de S.Paulo, em seu processo de automatização (implantação de computadores na redação), demitiu toda a sua equipe de revisores (Monteiro, 2002:139 citando Vianna, R. P. Alves. Informatização da imprensa brasileira. São Paulo: Loyola, 1992). Pode-se constatar que as duas estratégias apontadas por Meyer, inserir-se na nova mídia e “espremer a laranja”, podem ser adotadas em conjunto.

Referências Bibliográficas

COSTA BISNETO, Pedro Luiz de. Internet, jornalismo e weblog: a nova mensagem. Estudos contemporâneos de novas tendências comunicacionais digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2008.
GENTZKOW, Matthew and SHAPIRO, Jesse M. What Drives Media Slant in http://www.nber.org/papers/w12707, 08/09/2008.
MEISEL, Richard. The decline of mass media. Massachusetts: Public Opinion Quaterly, 1973.
MEYER, Philip. Os jornais podem desaparecer? São Paulo: Contexto, 2007.
MONTEIRO, Gilson Vieira. Por um clique: O desafio das empresas jornalísticas no mercado da informação – Um estudo sobre o posicionamento das empresas jornalísticas e a prática do jornalismo em redes, em Manaus. 1v. 298p. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo – Ciências da Comunicação. São Paulo, 2002.
VIANNA, R. P. Alves. Informatização da imprensa brasileira. São Paulo: Loyola, 1992.


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Futurologia
De Volta para o Futuro - Jornalismo e a Internet
Por Ms. Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto

As reflexões a seguir partem do pressuposto de que novas mídias continuem embasadas nos alicerces fundamentais sobre os quais foram criadas, ou seja, a liberdade, a reciprocidade, a cooperação e a informalidade (Castells, 2003).

Vários estudiosos apontam para o aumento incessante do consumo de informação online, de forma que, com o tempo, a Internet deve se tornar a principal plataforma de consumo de informações e notícias. A ascensão da web semântica e o aumento da mobilidade, inclusive com o surgimento de novas plataformas, dentre as quais o e-paper e, adicionando-se o custo ecológico que deverá aumentar e recair sobre a produção do papel, nos faz crer que o jornal impresso desaparecerá, sendo totalmente absorvido pelas novas formas de mídia. Inclusive, as novas gerações, não habituadas a pagar para consumir informação, também ratificam o desaparecimento dos impressos de um modo geral, que tenderão a ser um objeto de luxo devido ao seu alto custo, principalmente quando aquela tida como geração nativa da Internet crescer e se tornar majoritária dentre a população economicamente ativa. Outro fator que também indica o desaparecimento dos impressos está no alto custo de sua cadeia produtiva e distributiva, de modo que a convergência das empresas de mídia, tecnologia e infraestrutura comunicacional em torno do bit, as Comunicações, deverão optar pelos meios digitais como forma de valorização do negócio advinda da economia de custos que as redes informativas proporcionam. Assim, pode-se vislumbrar que o problema ecológico publicizado hoje será o slogan de amanhã, quando as empresas transformarão a "crise do ecossistema" terrestre em valor de negócio no que tange à produção e distribuição de informação (algo que já pode ser observado em outras áreas da atividade humana).

Com essas novas possibilidades de consumo de informação através da plataforma binária, assistiremos a um aumento dos conteúdos on demand e da possibilidade crescente do usuário se esquivar da publicidade. A própria publicidade deverá se deslocar em direção aos navegantes, de forma que o público terá uma participação cada vez maior dentro do bolo publicitário geral da mídia. A segmentação da publicidade via mala-direta, que já é fato nos dias atuais, tende a ser uma lógica que cada vez mais se institucionalizará em função das possibilidades que o mundo digital oferece em termos de personalização da informação e da propaganda, inclusive utilizando as mais revolucionárias tecnologias de ponta, quando teremos os agentes inteligentes, que serão atrelados não só ao acesso à informação, mas também à publicidade. Essa é uma lógica cujos pilares agora estão sendo construídos e cujas palavras-chave nós já mencionamos: segmentação e fragmentação. O mecanismo AdSense da Google representa, na atualidade, a primeira inovação dentro dessa lógica que tende a se tornar majoritária dentro do ciberespaço e da mídia em geral. Se isto será positivo ou negativo para a mídia e o público, não cabe aqui analisarmos.

Ainda sobre a morte dos jornais impressos que, na verdade, não ocorrerá, pois ele apenas mudará de suporte (do impresso para o chip), nós descartamos complemente o argumento em que muitos se apóiam para justificar a sua sobrevivência. Muito se diz que o jornal sobreviveu ao rádio e à TV, por isso sobreviverá também à Internet. Tal argumento não possui nenhuma base científica, seria o mesmo que dizer que um sujeito que não morreu após ser baleado duas vezes sobreviveria se baleado uma terceira vez – depende de onde o terceiro tiro venha a atingir – nesse sentido, a Internet é um headshot. Cremos que outros fatores, como os mencionados acima, se sobrepujarão a esta crença e o jornal impresso desaparecerá completamente, passando aos meios digitais onde, aí sim, continuará existindo. Em suma, o impresso morrerá, o jornalismo não, assim como qualquer outra forma de comunicação que se valha dos suportes impressos na atualidade.

Enquanto os jornais impressos não morrem, verificaremos uma série de mudanças que visarão à manutenção desse negócio que foi extremamente rentável durante séculos (numa menção ao estudo de Philip Meyer, poderíamos dizer que o jornal impresso não desaparecerá sem que antes a laranja seja espremida até soltar a última gota de suco). Aqui vale apontar apenas aquelas tendências que identificamos durante este estudo. A primeira delas é que, em função do deslocamento da mídia para o usuário, os grandes veículos foquem suas energias no que eles tem de melhor; como filosofava Marshall McLuhan, eles tenderão a refletir o suprassumo da “arte de fazer jornal”. Assim, as editorias mais fortes, em especial as investigativas, deverão se tornar o filet mignon do jornal; estes tenderão a tornarem-se cada vez mais analíticos do que puramente informativos. Mas, se a tendência do jornal é buscar o seu “estado da arte”, também poderemos assistir à disseminação dos pequenos tablóides gratuitos, cujo alicerce fundamental está nas parcerias com a publicidade e as agências de notícias, já que o jornal, como vimos, está no ramo de expor o leitor aos anunciantes. Fato que já está acontecendo nas ruas de São Paulo, inclusive.

A busca de novos formatos para o jornal, inclusive o tablóide, também poderá ser uma opção das empresas jornalísticas no intuito de manter o público leitor, procurando servir-lhe com um produto melhor, inclusive se valendo da segmentação com novas publicações especializadas e diversos novos conceitos de design aplicados em reformas editorias gráficas. Para o cenário brasileiro, entretanto, não se espera nenhuma mudança pioneira, qualquer mudança que venha a acontecer aqui deverá seguir os novos modelos que surjam nos Estados Unidos e na Europa, pois este tipo de estratégia (copiar os modelos do primeiro mundo) vem sendo uma praxe das empresas jornalísticas nacionais ao longo de sua história.

Por fim, antes do desaparecimento completo dos impressos, algo tem que acontecer: a Internet ser acessível ao maior número de pessoas possível, o que passa pela introdução de uma gigantesca massa da população mundial dentro do ambiente cibernético. O caminho para essa introdução massiva ao novo meio poderá, em princípio, fomentar novos hábitos de leitura que venham trazer um incremento no consumo de jornais, revistas e outras plataformas tradicionais de mídia. Dessa forma, antes de seu desaparecimento, é bem possível que se veja um “boom” no consumo de materiais impressos que precederá o próprio fim das mídias impressas, num grande suspiro “pré-mortis”.

Ousando um pouco mais dentro desse exercício de futurologia, poderíamos dizer que já estamos vivendo esse “boom”, pois, enquanto o jornal perde leitores, outras formas de mídia impressa vivem um momento de esplendor. Enquanto vivemos uma explosão no consumo de impressos, o mais antigo desse representante (excluindo-se o livro), já agoniza em seus estágios finais de vida, ao mesmo tempo em que se prepara para uma nova vida: a vida após a morte, a Internet.

Assim como os religiosos pregam que a morte é uma passagem para um patamar superior da vida, podemos filosofar dizendo que a Internet é a passagem para um nível superior do Jornalismo. O "mundo espiritual" ou o "paraíso" do Jornalismo jaz na sua completa transição para a plataforma binária.

Referências bibliográficas:

CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e Weblog: a Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo – SP: Faculdade Cásper Líbero, 2008.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem – (Understanding media). São Paulo. Editora Cultrix. 1964.
MEYER, Philip. Os jornais podem desaparecer? São Paulo: Contexto, 2007.


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Testimonial
Yes, life beyond Earth DOES exist

A friend of mine and his entire family told me that they saw an OVNI! I believe because although my friend could be lying, his father and mother would never lie. They described what they saw: three objects in disc shape without wings flying above the skyline, not far from the soil, making circle movements around each other very fast. And they had a strong and shinning light which blinked in regular breaks. Suddenly the objects stopped in the air hanging like choppers and started a movement converging to the same point – the three objects became one. Finally, like a rocket, they pulled out straight to outer space and disappeared in the night.

After deeply thinking about this phenomenon, my friend told me his theory about the OVNIs and what he thinks about the existence of life beyond Earth. While everything we know about the creation of Universe is that Big-Bang theory, one thing is certain: the Universe has something like five billions years or millions of millions years of existence. In other words, we are here, now, after all this long time. But we can't forget that the development of life on Earth had a break when a comet stuck our planet, leading a lot of life forms to disappear. From the ashes of that comet, like Fenix men arose until we get here and nowadays.

Now imagine another system where the life development had not been interrupted. A planet, somewhere, that had never been crashed by any space object. It's not nonsense to imagine that the life in this outer planet is more advanced, has more intelligence and technology than we have here. Think: how many years are we behind? How many years have we lost after that comet stuck our planet? Something like two hundred millions years. Now imagine how much more developed could we be if had we had all this years we lost to grow up and develop our intelligence? (Notice: when I say "us" I mean: the life on Earth). It's that simple: they just had the time we didn't.

That's my friend’s theory. Those OVNIs we see come from some kind of intelligence that is, at least or something like, two hundred millions years more advanced than us. And what are they doing here? They are doing with us the same thing we do with, for an example, the animals in Africa. They are observing us, studying us and, why not, entertaining their selves watching our primitive way of living or, perhaps, they are just passing by. We suppose they are so much more developed that they had left behind things we practice here, like making war, destroying the environment and other primitive actions. That explains why they have not invaded our planet, they have not interfered with our development or have done things we ever imagine an extraterrestrial would do.

Thank God they are not men.


The Allien response:

Here is the ET talking, the same from the group that your friend saw in your description. You are very smart; I want to state that you are right: we are here only to entertain our selves with yours, how can I say? Your RIDICULOUS and too primitive way of life. You have guessed wisely.

Some centuries ago we had considered the option of invading your planet in order to create an advanced base in our voyage to other systems. But we decided to stay after, because if we did, we would lost our favorite “show” which is laughing about the way you think you master the universe, your arrogance.

Your theories about the creation of universe, the spirit life and, the funniest one, about an existence of a supreme entity – God – who has control of everything, it’s amazing how far they are from the reality, how far they are from the true forces that govern life, the stars, all the galaxies and the whole universe, and the others universes. One black hole has more power and more life than any God you can imagine…

We are the life that are nearest from those forces, and you, are very, very far from us and from the true life existence, and, I’m sorry to tell, but there is no life after death, because there is no death. Life and death are parts of the same thing.

That’s the major tip: there is no separation from what you call material and spiritual life. Why is so difficult you learning that?

The other thing I can warn you is: we are waiting you to develop your intelligence in acceptable levels for us, or you to destroy your own planet. After that, we will resume our plans to create an advanced star port on your home planet, with or without you. It seems you are about to reach the second option, that’s too sad for you, but not for us…

You haven’t realized that the life in your system is the result of the lucky you have about the position you are at the galaxy, and it’s a strategic position for us traveling around the galaxy and on the way to other galaxies and dimensions. Buy you haven’t developed enough intelligence to figure it out.

And, to complete my response, we hadn’t had more time, we just have more wisdom. Time does not exist; did you forget the Einstein’s Relativity theory? But you almost found the main point: the time for us is further more rapid than yours – in a blink we watch thousand of turns of your planet around your star (sun) –, and that’s because we live nearest the “milk way” center, can you understand it?

I guess not... You are so narrow-minded…


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Jornalismo & Internet
Tendências para o Jornalismo

A nova grande tendência para o jornalismo praticado através das novas mídias está intimamente ligada com o novo paradigma comunicacional que tende a uma simplificação da informação e no acesso à mesma, o que acarreta numa democratização para os cidadãos que consomem as mais diversas formas de informação, notícia e conteúdo. Isso leva a crer que esse novo mar de informações agora acessíveis criará indivíduos mais conscientes de seu papel dentro da sociedade. Um exemplo da beneficie no acesso à informação é a maneira como a Internet facilitou e democratizou o acesso às informações de cotações da bolsa de valores e nos serviços de classificados, que são as bases fundamentais do jornalismo (como expõe Marshall McLuhan). Esse tipo de melhora no acesso à informação e a conteúdos diversos evoluirá constantemente, inclusive porque agora a mídia tem agregada a si os benefícios da inteligência coletiva (que também beneficiam o surgimento de cidadãos mais conscientes).

Outra tendência deverá se tornar realidade quando alcançarmos o novo patamar coevolutivo da Internet através da web semântica, que agregará o conceito de agentes inteligentes em serviência a um acesso mais dinâmico, esperto e personalizado à informação (como diz Nicholas Negroponte), outro vetor que beneficiará, mais do que nunca, o aumento e o acesso à inteligência coletiva.

Outro fator, inevitável, ligado ao jornalismo, se deve ao constante processo de virtualização inerente das novas tecnologias que surgem incessantemente, tende-se a repensar as bases epistemológicas dos estudos de jornalismo a fim de acompanhar as novas peculiaridades informativas advindas das relações interativas dos meios digitais, mas que nada tem a ver com a discussão de o jornalismo ser ou não uma área do saber acadêmico ou não pertencer à Comunicação - outra discussão de base espistemológica que engloba o campo comunicacional na atualidade.

Outra mudança de base epistemológica está na própria plataforma aberta das novas mídias que, cada vez mais, serão o palco por onde toda uma nova geração de jornalistas exercerá a sua profissão sem precisar se preocupar com os velhos gatekeepers da velha mídia, sendo, eles mesmos, os seus próprios gatekeepers. O jornalismo de autor, baseado em narrativas mais próximas da opinativa e literária, passará a ser uma tendência à qual os cursos de jornalismo se verão obrigados a convergir e, assim, educar os seus estudantes para esta nova prática. Porém, uma outra figura característica do Jornalismo, o editor e/ou publisher, não desaparece na Internet. Ele se modifica, pois não pode mais agir como o grande gatekeeper que era - centralizado e monopolizado -, mas continua existindo e sua importância é, e ao que tudo indica, sempre será vital para a prática jornalística dentro da esfera ciberal.

O eu-centrismo que se verifica nas novas mídias tende a se intensificar, de modo que teremos um aumento da interatividade e do papel do usuário nas pautas editorais, defendendo seus próprios pontos de vista e sustentando opiniões e visões diferente das dos meios de massa, onde poderemos ter uma completa subversão de valores, com o usuário pautando a mídia e não mais o inverso.

Mas é também fato, de que para estas tendências verificadas se transformem em um "nova ordem", a Internet terá que mantér as suas características básicas fundamentais, ao mesmo tempo em que traga novas soluções e inovações para o mundo digital e, como não poderia deixar de ser, seja um meio acessível a quase total população global.

Referências Bibliográficas

CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
COSTA BISNETO, Pedro Luiz de Oliveira. Internet, Jornalismo e weblog: a Nova Mensagem. Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, 2008.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MARTINO, Luiz C. De qual comunicação estamos falando? (p. 11-25) e Interdisciplinaridade e objeto de estudo da Comunicação (p. 27-36), Revista Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis-RJ: Vozes, 2001.
MARTINO, Luiz C. Os cursos de teoria à luz do Jornalismo, Revista Líbero nº 17. São Paulo: Biblioteca Prof. José Geraldo, junho de 2006, p. 21-29.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
RUELLAN, Denis. Corte e costura do jornalismo, Revista Líbero nº 18. São Paulo: Biblioteca Prof. José Geraldo, dezembro de 2006, p. 31-40.


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Reflexão
Estamos cercados!

O famoso estudioso das novas mídias, o espanhol Manuel Castells, constata: “só notícia ruim é notícia” (Castells: 9). Esse princípio básico do jornalismo, “só notícia ruim é notícia”, nos remete às questões que abalam o atual cenário do mundo da informação: o sensacionalismo do noticiário, o infotenimento[1] – aquele jornalismo que não conscientiza ninguém, apenas diverte –, a espetacularização geral da mídia dentro de sua lógica comercial capitalista neoliberal.

Essa frase nos faz pensar a respeito de qual seria o antônimo dessa afirmação. Se a única notícia que é notícia é a notícia ruim, ou seja, a notícia que vende jornal, que chama atenção do público, a notícia boa seria a “notícia que não é notícia”, portanto, a notícia que não vende jornal. Mas notícia que é notícia, como afirma o espanhol, é notícia ruim, então, do ponto de vista jornalístico atual, sensacional, notícia boa é a notícia ruim. Nesse raciocínio, inclusive, poderíamos nos perguntar qual seria o sentido, dentro dessa lógica comercial atual do jornalismo, de existirem notícias que não vendem? Portanto, qual o sentido de existirem notícias boas no noticiário? Nenhum, não é? Apesar dessa constatação, um olhar mais atento aos veículos jornalísticos nos mostra que ainda há muito espaço para a notícia boa, pois existe sim uma “notícia boa que é notícia” e que, assim, também vende bastante jornal, talvez até mais que as notícias ruins. Essa “notícia boa que é notícia” é a publicidade. Enquanto o jornalismo é responsável por vender as notícias ruins da sociedade, a publicidade, com todo o seu positivismo, faz o oposto, nos traz as boas novidades que a sociedade produz e nos oferta: os produtos, os objetos, as soluções, as tecnologias, os estilos de vida etc, ou seja, tudo que é maravilhoso e vantajoso para todos. A publicidade é a notícia boa que permeia a notícia ruim do jornalismo atual.

No mundo do jornalismo onde se quebram as fronteiras que antes o separavam da publicidade, dessa forma, ficamos totalmente cercados: em uma ponta está o positivismo da publicidade e, na outra, está a notícia ruim sensacionalista, que não informa, apenas entretém. De um lado, o mundo hiper-real publicitário denunciado pelo filósofo francês Jean Baudrillard, do outro, a realidade afastada numa encenação sensacionalista, espetacular, revelada pelo seu compatriota Guy Debord, e no meio, a consciência crítica de todos nós, abandonada.


Notas:
[1] Informação e Entretenimento = Infotenimento

Referências:

BAUDRILLARD, Jean. O Sistema de Objetos. São Paulo: Perspectiva, 1997, pp. 9-17; 116-123; 173-191; 205-230.
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio D’água, 1997, pp. 7-14; 97-113.
BAUDRILLARD, Jean. Tela Total. Porto Alegre: Sulina, 2003.
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
COELHO, Cláudio N. P. e CASTRO, Valdir José de (orgs). Comunicação e Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Paulus, 2006, pp. 9-106.
DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Lisboa: Móbilis in Móbile, 2003, pp. 9-23; 40-53.
MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem – (Understanding Mídia). São Paulo: Cultrix, 1964.


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Gaming
Doom II - The Door of Hell
Definitive Edition

The Door of Hell

After facing the Hell on Phobos and escaping of have your flesh consumed, returning to your home planet to find it slaughtered by demons, being forced to face the and beat the Masters, discovering that evil could even be more evilved and, finally, defeating the inferno's menace known as Plutonia Experiment, now you realize what, in fact, this nightmare you've being through is: endless. And now you have to fight one more chapter of this eternal battle.

You have found the door that leads to Hell; you have found THE DOOR OF HELL. And, congratulations, because you've been brave enough to open it.

This chapter starts when you find yourself at home, after having accepted the awful truth: the zombie-men, Imps and all monsters from Hell are your eternal neighbors, and you, finally, have learned how to live in peace with them. But neither you and nor them were really satisfied with this situation. You have in mind that you can defeat they, and so them in their minds. In accordance with Hell, you two challenge yourself to decide this matter on a boxing fight. And this is the moment when this story starts. Step foward to live it, or to die it......

Saiba mais Saiba mais...

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Article
Who's Pedroom Killer?

People asked me to talk about games. What can I tell them about this subject? I will start talking about my career as a gamer, after all, they are not talking to anyone, they are talking to the Brazilian official Doom II[1] deathmatch champion, who won the national championship twice and in sequence. And, let’s remember, I’m also a journalist, more, I’m almost a master in journalism, this résumé authorizes myself to write an article in first person and about myself.

I started playing games when I was a teenager; I bought my first videogame (an Atari) with my own money because my mother was against videogames. Even playing a lot on my Atari console, my great experience in gaming was when I got my first computer, then a asked a friend of mine to make a copy of a game he had and was a famous one in that age (1994), Doom II – Hell on Earth. Playing Doom was a deep experience for me. Until Doom I used to enjoy playing games, after it, I started to love this activity; it really became an addiction for me that remains until nowadays (and I don't bother healing it).

I spent so much time playing this game that I became champion of it, and people come to me asking tips for this game. People use to reach me by my personal Doom website. My nickname is also based in this game: Pedroom means Pedro plus Doom, and Killer because I use to kill a lot of adversaries in deathmatch gaming.

Further than playing Doom, my pleasure is also to develop new levels for the game. I have started creating a single room with many Ciberdemons[2], and now I’m finishing my own version of a complete new and full 32-levels episode for the game. Although I haven’t finished designing this episode, it has a title yet, and it is “The Door of Hell”. For a coincidence, it is the same title of the Doom movie which was released two years ago. Did they steal this title from my episode (even not complete, it was released on my site that time)? No problem, I don’t care. In fact, if would they, for me, a honor would be.

The Door of Hell
Pedroom's Doom II - The Door of Hell

My Doom episode (learn backstory above) is unique, only there you will find scenarios like soccer field, boxing gymnasium, basketball square, cine theater, Iguaçú waterfall and the one I like the most: the Tsunami wave. My own version of Hell that even Dante could not describe is also found in this new episode. There are also four levels with the World War II environment, based on Wolfenstein 3D[3] game and levels adapted from others Doom’s compatible games, like Heretic[4] and Final Doom. And, finally, there are four scenarios inspired in movies that I like: The Texas Chainsaw Massacre, Star Trek, The Guns of Navarone and Platoon.

Today, if you ask me what’s next when I finish designing my own Doom episode, I will tell you: more levels, more episodes and more dooming… Because the Hell awaits.

Notes

[1] Doom II is a three-dimension-first-person-shoting-kill game which environment is the future and the Hell. It’s a tech-demoniac game.
[2] Ciberdemon is the most important and hard-to-kill enemy you can face in Doom game.
[3] Wolfenstein is the first three-dimension-first-person-shoting-kill game created which environment is the World War II and the Nazism. It was released in 1990 by the same company that created Doom, iD Software.
[4] Heretic is a game released by Raven (an American designing games company) which works into Doom’s engine and has the same philosophy but inside a medieval environment.


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Sinopse
Haoles

O documentário Haoles busca retratar a vida dos surfistas normais, pessoas comuns, com vidas comuns e que quando podem, juntam-se aos amigos e correm atrás das ondas. Surfistas que apesar das limitações, não medem esforços para fazerem o que mais gostam: viajar, surfar e curtir a vida.

Ao contrário da maioria dos grandes documentários de surf, financiados por grandes marcas ligadas ao esporte, que sempre embasam seus filmes com surfistas profissionais, este filme busca retratar a vida dos surfistas comuns, aqueles que adimiram os grandes competidores, compram roupas e equipamentos de grandes marcas, surfistas que, indiretamente, financiam os grandes profissionais e toda a indústria do surf consumindo seus produtos, pessoas que ninguém conhece, ninguém liga, mas que são a verdadeira base desse esporte, um dos mais populares do mundo, e o segundo mais praticado no Brasil, atrás apenas do futebol.

Haoles irá recrutar três grupos de jovens paulistanos, a cidade brasileira que, apesar de não ter praia, tem o maior contingente de surfistas do país. Seguiremos estes jovens em suas aventuras atrás das ondas, mostraremos as emoções e os dramas vividos por eles em sua busca por diversão e boas ondas. Para mostrar as diferenças facetas dos jovens surfistas, esses três grupos seriam, um de garotos, outro de garotas e outro misto. Além desses grupos, o acompanhamento de outros grupos de surfistas praianos também pode ser incluído, de forma a contrastar a vida dos surfistas da "cidade grande", com os surfistas praianos, os "locais" da praia como são conhecidos, com isso, enfatizar o quão diferente é a vida do surfista "haole" do surfista "local".

Haoles trata-se de um documentário longa-metragem nunca feito anteriormente, que deixará de lado o espetáculo dos grandes surfistas profissionais e suas maravilhosas ondas para dar lugar aos verdadeiros surfistas, aqueles que só buscam curtir a vida através desse esporte que é muito mais que apenas um esporte, é um estilo de vida. Esse estilo de vida que contamina as pessoas e os jovens é o foco deste documentário inédito.


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Review
Suburbs Corner Bar

The suburbs corner bar is the best place you find to eat, drink and have fun out downtown . The first good news about the suburbs corner bar is the convenience: every corner has one. The second thing you notice when approaching a suburban corner bar is the happiness, you'll always hear the sound of many voices talking, screaming and laughing. The sound of a broken glass is also usual in a corner bar. The third unfailing thing you realize when entering the corner bar is the smell. A mix of alcohol, urine and garbage: an awful breath which will invade your nostril, almost knocking you down. Take care not to slip on your first step on a corner bar, if you fall over the wrong person or table (taking everything down), it may be the last time you fall unless, it is inside your coffin.

After getting used to the environment (which normally takes a few minutes if it is the first time you go to a corner bar), you can enjoy the place. You can drink, eat, talk to people, play some games or gamble, and flirt with the girls. But be careful, if you give a pick-up line at an accompanied girl you may get a man's "affection" instead of a woman's one. Normally, it's easier to find a struggle than a night of love in a corner bar. Other piece of advice is: don't waste your time trying to meet girls on a corner bar without money, the girls there are all "warriors", as they usually refer to them.

If you are not supposed to flirt, you can play games: cards, people like to play "Blackjack" or "Truco", there are also snooker and dice if you prefer. You also can gamble, for that, just go to the bar's fund, where you'll find an old man or woman sitting by a small table with a lot of little pieces of paper over it, you have found the "animal game" spot: just take a pick over an animal and bet on it, then all you have to do is to stand by your choice and wait a week for the result.

There is an old saying which says: "Did we come here to talk or to drink?". People use to go to corner bars to drink, so drinks are the bar's specialty. The number one drink is the "lemon pinga", but people drink a lot of beer too. The drinks are all high whiskey graduate, so avoid drinking too much. They use to serve drinks dressed in plastic cups because people break too many glasses at corner bars (don't be bothered about that). The only non-alcoholic drink is cola or Tubaina. Although people go to corner bars to drink, you can also eat there. The menu is plenty of options, all plates include rice, beans, French fries, salad, and you can ask for different kinds of meat: chicken, steak, pig's knee, sole, liver and fish. Tonight, they also serve pizza and, an option only on Sundays, is the macaroni. If you are not that hungry, you can ask for a lunch or an entry, there is a huge variation of sandwiches and hamburgers, clabber salami, cheese balls, toasted bacon, eggs, bread and manioc to escort your drink. Don't matter if the food comes too spicy or roasted, some times even the cook goes drunk on corner bars and it may happen. For dessert you can enjoy an industrialized ice cream, or a smuggled chocolate bar. Other smuggled options are smoke and coffee.

At last, if you are a "corner bar heavy user", you can look for other kind of stuff which is sold out of the corner bar, on the street, right next to the place. There you always find a guy known just as the "Alemão", he is the one who sells special "things" which will lead you to a "higher world", but those things are something we are not supposed to talk about...


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Essay

I'm going to talk about the new networked public sphere which has emerged with the Internet. This new public sphere has particular characteristics that oppose it to the traditional public sphere broadcasted by the mainstream media or mass media.

The Networked Public Sphere

The first thing we must know about the new networked public sphere is, in fact, what is a public sphere. A public sphere is a sphere, or a space, where private citizens discuss the wills of the society. The opinion that emerges from this sphere is what is known as the public opinion.
Nowadays this sphere is controlled by mass media and it hasn't been being the space where people decide the society's wills or any political matters, in fact, it has been acting as the medium of the private life, where the "being together in society" pass by through the media. It's a sphere that'd been joining people and peoples around the world through major eventes such as the World Cup, the Olimpic Games and others, local or international events.
There is also another public sphere which has been gaining space on media. It's the sphere which express the conflicts of a globalized world. The conflicts between races, cultures, religions and markets, however this sphere is missed of a central point matter of political issue. Therefore, we can state that today there isn't indeed a public sphere which emerges from private citizens, unless, that one which is controled by mass media and has its own interests which are, no ever, the interests of the public.
With the arisen of Internet and its network characteristics, this is an issue which is about to change and, in fact, there is already something happening, and it's something we must think about. A new public sphere where citizens connected by Internet can access information and argue about their own wills.

The "book of society destiny" is on the Web. Are you going to click on it or are you going to ignore it? This is, for sure, a place where your fate must take you, and remember, it will be your path to the future of the society.

Sources: J. Habermas, Mauro Wilton, Venício Lima, Y. Benkler, G. Lucas

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Cinema
O Gladiador e a Jornada do Herói Mitológico

O Gladiador

O “Gladiador” e a Jornada do Herói Mitológico
Um filme de Ridley Scott

Baseado no Roteiro de Christopher Vogler (a partir do livro de Joseph Campbell, “O Herói de Mil Faces”) em “A Jornada do Escritor”, montado por Luiz Eduardo Rincón. Análise de Pedro Luiz, Mario David, Celso Agostinho e Gabriel Lages. Texto de Pedro Luiz.

Dados do Filme

  • Título do Filme: Gladiator, EUA, Universal Pictures, 2000;
  • Direção: Ridley Scott;
  • Elenco:
    • Russel Crowe, como Maximus;
    • Joaquin Phoenix, como Commodus;
    • Richard Harris, como o Imperador Marcus Aurelius;
    • Connie Nielsen, como Lucilla;
    • Estrelando também: Oliver Reed, Derek Jacobi, Ralph Moeller, Spencer Treat Clark e Djimon Hounsou (como Juba).
  • Duração: 154 min;
  • Oscars: Melhor Filme, Ator (Russel Crowe), Figurino, Efeitos Visuais e Som;
    • Outros prêmios: Ganhou também o Globo de Ouro, MTV Movie Awards e prêmios no Japão, Inglaterra e outros no próprio Estados Unidos.

O Herói

O herói desta jornada é Maximus Decimus Meridius, comandante dos exércitos do norte, General das Legiões Felix, servo leal do Imperador Marcus Aurelius. É um guerreiro em fim de campanha de uma longa batalha que fez parte das invasões bárbaras germânicas que assolaram os romanos no século II. Maximus é casado e pai de um menino, possui várias características que se revelam durante sua jornada, típicas do herói hollywoodiano: é conquistador, forte, másculo, honesto, honrado, justo, desejado, sedutor, fiel, amoroso, generoso, glorioso, misericordioso, libertador, possui espírito de liderança, bravura, sabedoria, resistência, temperança, desenvoltura, coragem, devoção, virtuosidade, é como seu nome diz: o máximo.

O Antagonista

O antagonista
Imperador Commodus (à esquerda), o rival do Gladiador Commodus, o Imperador Maximus, o Gladiador

Marcus Aurelius Commodus Antoninus, filho do Imperador Romano de mesmo nome, é o vilão dessa estória. Suas características são opostas as do nosso herói, assim, adjetivos como crueldade, maldade, desonestidade, infidelidade, orgulho, vaidade, covardia, desonra, estupidez, fraqueza, submissão, amoralidade, loucura e luxúria fazem parte de sua obscura personalidade, ele ainda é conspirador, invejoso, emasculado, iconoclasta, assassino, tirano, estuprador, manipulador, trapaceador, sanguinário, incestuoso e infeliz. Uma figura absolutamente do mal, o típico vilão de Hollywood, que deve ser totalmente combatido, física e ideologicamente, morto, enterrado e esquecido. Commodus Gladiador

Primeiro Ato - Apresentação

O Mundo Comum

Ano 180 d.C., Império Romano: o General Maximus (Russel Crowe)[1], está andando por entre suas tropas, prestes a enfrentar a última batalha de uma longa guerra entre o Império e os Bárbaros Germânicos. Maximus é saudado por seus guerreiros: infantes, artilheiros e cavaleiros, de longe, a figura do velho Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) – o César – o observa com um olhar de cansaço.

Antes da batalha, Maximus convida seus comandados à glória máxima, a morte por Roma: “se morrerem, estarão no paraíso... pois vocês já estão mortos...”, “o que vocês fazem na vida, ecoa na eternidade”, brada o Líder, aqui a batalha assume ares de “Guerra Santa”, embora o Império Romano ainda perseguisse os cristãos e possuísse uma pluralidade de deuses, o Deus a quem lutavam era o César[2].

Após a batalha e a vitória dos Romanos. Marcus Aurelius, pergunta ao General Máximo qual é a recompensa que ele deseja após tantas glórias pelo Império, ele diz: “voltar para casa”. Ressentido, velho e cansado, Marcus Aurelius já não acredita mais na “glória de Roma”, tudo que o Imperador quer é descansar em paz, deixando seu Império na mão dos justos, e a justiça para ele, é a pessoa do General Maximus. E quanto a Roma? “É uma idéia”, diz o Imperador ao seu mais fiel escudeiro.

Neste ínterim, Commodus (Joaquin Phoenix) – filho de Marcus Aurelius – aparece em cena junto de sua irmã, Lucilla (Connie Nielsen), ele confidencia à irmã que o convite inesperado de seu pai deveria ser para que ele assumisse o poder o Império, algo que ambiciona. Commodus se encontra com Maximus e outros senadores do Império, enquanto Commodus demonstra ressentimento com a política e os senadores, estes demonstram sua admiração por Maximus, um deles, Graius, diz: “com esse fiel exército, você teria muito poder na política”, demonstrando assim, que de fato há uma conspiração do senado que tenciona tomar o poder em Roma e re-instaurar a República. Commodus, acreditando que herdará o trono, convida Maximus a servi-lo, e ainda demonstra ressentimento em relação ao general, inveja por sua irmã Lucilla ainda amar Maximus, com quem tivera um romance no passado.

Chamado à Aventura – Recusa ao Chamado – Encontro com Mentor

Marcus Aurelius CHAMA Maximus À AVENTURA para ser o “protetor do Império”, para ficar com o poder, por merecimento por suas glórias, sua pureza e sua honestidade. Quando questionado pelo general sobre Commodus, o Imperador responde: “ele não é um homem de moral”. Maximus RECUSA O CHAMADO, simplesmente diz “não”, tudo que ele quer é voltar para a família. O Imperador insiste, o fato de Maximus negar-se ao cargo demonstra o porquê dele ser o “escolhido”, e acrescenta: “você é o filho que eu deveria ter tido”. Este é também o ENCONTRO COM O MENTOR, onde Maximus, guerreiro que luta pela “glória de Roma”, está face a face com o representante máximo de Roma, o Imperador, o mentor à qual demonstra total devoção e respeito. Muito em função disso, Maximus pede para pensar sobre a penosa tarefa a qual o Imperador o convocara, e o prazo para resposta é o amanhecer do dia seguinte.

A Trama

Neste ponto, temos toda a trama dessa épica estória desenhada. O General Maximus é o grande vitorioso, herói de guerra, de inúmeras batalhas e glórias, amado e respeitado por seus comandados. O Imperador Marcus Aurelius, velho e cansado, não confia no filho, Commodus, e quer passar o seu poder a quem o mereceu, Maximus. Commodus nutre uma inveja e ressentimento em relação a Maximus, por este ser admirado por seu pai e ser amado por sua irmã, quer então, tê-lo sob seu jugo, ainda é ambicioso e quer herdar o trono, mas... Ele não sabia que seu pai já havia convocado Maximus para assumir o Império, e este teria que decidir se aceitava até o amanhecer...

César
Imagem de César

Novo Chamado à Aventura – Travessia do Primeiro Limiar

Antes mesmo de o sol nascer, Commodus, toma ciência da decisão de seu pai e o estrangula. Ao saber da morte de Marcus Aurelius, Maximus, desconfia da trama de Commodus e recusa-se a apertar a mão do novo Imperador. Por detrás da cama onde jaz seu pai, Lucilla chora, pois sabe o que está por vir e, assim que se vê frente a seu irmão, o esbofeteia.

Commodus manda prender e executar Maximus. Subitamente, Maximus está frente a uma nova aventura, fugir de Commodus, voltar para casa e salvar sua família. Maximus cruza o seu PRIMEIRO LIMIAR, deixa de ser soldado de Roma e é condenado à morte. Mesmo preso, Maximus consegue livrar-se de seus executores e fugir, a AVENTURA O CHAMA para salvar sua família da ira de Commodus.
Porém, Maximus chega tarde ao seu destino, os soldados de Commodus já os mataram, e o ex-general fica impotente diante de seus corpos enforcados e queimados...

Assim, Máximos é compelido a um NOVO CHAMADO À AVENTURA, que é a busca da justiça para sua mulher e seu filho, a busca por VINGANÇA, um chamado para o qual não há recusa.

Novo Mentor – Travessia do Último Limiar

Salvo por mercadores de escravos, Maximus é vendido para um ex-gladiador e rico comerciante, Próximo (Oliver Reed). Este possui e treina gladiadores, parece-se com um sargento militar na forma como trata seus lutadores, convocando-os à glória na arena. Como escravo-gladiador, Maximus – que passa a ser conhecido como “Espanhol” – é obrigado a lutar mas, mais uma vez, RECUSA O CHAMADO, insubordinando-se ao seu novo “dono”, o seu NOVO MENTOR.

Porém, quando chega o momento de adentrar a arena, Próximo diz à Maximus e sua trupe de gladiadores: “vocês são condenados à morte... só resta morrerem com Glória”, a glória da arena. Maximus sabe que para sobreviver e buscar sua vingança, é preciso lutar, buscar a glória na arena, ou irá morrer sem vingar sua família. Sem possibilidade de voltar atrás, impelido à luta, Maximus faz então, a TRAVESSIA DO ÚLTIMO LIMIAR, onde não há mais caminho de volta. Volta para onde ele se sente em casa, o campo de batalha.

Mais um Chamado à Aventura – O Elixir

Enquanto isso, em Roma, Commodus é acuado por seus senadores, precisa do apoio do povo para destituir o senado e reinar sozinho. Sem habilidade para promover guerras que trazem a “glória de Roma” como seu pai fazia ao lado de Maximus, Commodus adere à política do pão e circo, e promove a volta dos jogos, as batalhas de gladiadores no Coliseu de Roma[3]. Pratica que havia sido banida por seu pai anos antes.

Longe dali, “Espanhol” já lidera sua trupe de gladiadores em Zucchabar, uma província romana, quando é chamado por Próximo, este o convoca para dias de glórias nas arenas do Coliseu de Roma diante do César. Maximus diz que tem interesse em ficar diante o Imperador, e de pronto atende a este novo chamado. Seu novo mentor diz: “ganhe a multidão, e ganhará a liberdade”, como havia sido com ele próprio. Esse NOVO CHAMADO À AVENTURA, desta feita é acompanhado de uma recompensa, um ELIXIR: a liberdade. Um elixir, ou a ARMA MÁGICA que trará à Maximus enfim a tão sonhada liberdade que o leva direto a sua vingança.

Testes, Aliados e Inimigos e a Aproximação da Caverna Oculta

O PRIMEIRO TESTE que “Espanhol” tem de enfrentar junto com sua trupe de gladiadores no Coliseu de Roma é uma re-encenação de uma batalha entre romanos e bárbaros cártagos, vencida pelos romanos. A trupe de Espanhol tem a dura tarefa de desempenhar o papel dos cartágos derrotados. ALIADO de seus gladiadores e com seu INIMIGO presente à Arena – o Imperador Commodus – Espanhol, lidera e vence seu primeiro obstáculo, mudando a retratação do que deveria ser uma vitória romana e termina como uma derrota. Entusiasmado com a batalha, Commodus quer conhecer Espanhol, apenas para descobrir que ele é, na verdade, aquele que acreditava estar morto, o General Maximus. Feita a revelação frente a seu antagonista, logo a multidão está gritando o nome de Maximus.

Após essa revelação, Lucilla tenta se aproximar de Maximus, convidando-o para fazer parte de uma conspiração liderada pelo senador Gracchus (Derek Jacobi), que visa à derrubada de Commodus. Porém, mais uma vez, Maximus RECUSA O CHAMADO.

O SEGUNDO TESTE de Maximus é enfrentar o invicto gladiador Tigris, o gigante de Gália, numa batalha “one ‘n’ one[4]”. Apenas para dificultar esse “teste”, os gladiadores eram cercados por tigres presos a correntes em volta da arena.

Ao final da luta, com Tigris subjugado, Maximus volta-se ao Imperador, este aponta seu polegar para baixo indicando o desfecho da batalha. Maximus, como não poderia se esperar de outra forma tratando-se de um filme hollywoodiano e seus típicos clichéts, recusa-se a executar seu oponente, e todos ouvem um grito que vem das arquibancadas: “Maximus, o misericordioso”. Maximus, a cada luta, ganha a multidão, a sua arma mágica para a liberdade e a vingança. A cada luta também, Maximus APROXIMA-SE DA CAVERNA OCULTA: enfrentar Commodus e fazer justiça ao assassínio de sua família.

Após o triunfo, ainda na arena, Maximus é cercado por Commodus e seus guardas, é humilhado pelo Imperador que zomba da morte de seu filho e do estupro de sua esposa[5].

Maximus torna-se uma verdadeira celebridade, admirado pelos homens, desejado pelas mulheres, um verdadeiro popstar dentro do contexto romano do séc. II. Uma celebridade a qual Commodus não pode atentar sem se passar como um antagonista à misericórdia[6], ser visto como um bruto, tirano. Só resta uma saída para Commodus silenciar seu oponente: subjugá-lo em seu palco de glória, matá-lo na arena.

Após esse episódio, Maximus aceita a ajuda de Lucilla e do senador Gracchus para dar um golpe militar em Commodus, mas este descobre tudo, manda prender Gracchus e coage Lucilla, ameaçando a vida de seu filho Lucius (Spencer Treat), subjugando-a, obrigando-a inclusive, a lhe servir de favores sexuais incestuosos. Nesse ínterim, Próximo concede a liberdade a Maximus, tarde demais porém, os soldados de Commodus já haviam chego para matar Próximo e prender Maximus e seus gladiadores.

Provação Suprema

Finalmente, Maximus chega a Caverna Oculta, a sua PROVAÇÃO SUPREMA que era, como não poderia deixar de ser, enfrentar Commodus na arena do Coliseu de Roma, com um detalhe: Commodus o esfaqueara previamente, ou seja, trapaceou para garantir sua vitória na arena, enfrentando um adversário ferido mortalmente.

Recompensa

Maximus mata Commodus com sua própria faca após desarmá-lo. Deitado, ferido, Maximus concede o poder do Império ao senador Gracchus, pede também que seus homens sejam libertos. A morte de Commodus é a RECOMPENSA de Maximus, sua vingança está consumada, justiça à sua família está feita, liberdade a seus aliados e ao povo romano concedida.

Terceiro Ato - Resolução

Caminho de Volta - Ressurreição

Maximus morre na arena vitima dos ferimentos que Commodus[7] o infligira covardemente antes da luta. A morte é o seu caminho de volta, desejado logo após a batalha inicial dessa jornada, a volta para sua família. Então, seu CAMINHO DE VOLTA agora é o paraíso, onde seus entes queridos o esperam, e enfim Maximus segue seu tão batalhado destino – um sonho que tinha desde o início do filme.

A vida após a morte, a eternidade em paz junto com sua família no paraíso é a RESSURREIÇÃO de Maximus. Assim como a libertação de Roma do tirano Commodus e a mudança do regime imperialista para o republicano através da figura do senador Gracchus[8]. A vitória de Maximus também representa a liberdade para Lucilla e seu filho, Lucius, e também para seus homens. A ressurreição de Maximus e seus aliados é a morte de Commodus, a origem de todo o mal, um happy-end clássico com o triunfo do bem sobre o mal. A liberdade[9] é a recompensa para todos os “justos”, um final feliz.

Retorno com Elixir

O RETORNO do herói Maximus se realiza através do seu ELIXIR que é, como já mencionamos, a liberdade, que neste caso tem sua face na morte que o liberta, levando-o de volta ao seu filho e a sua esposa no paraíso, como era seu desejo e ele via no sonho que o acompanhava desde o começo dessa estória.


Análise Multiperspectiva do filme “Gladiador”

Baseada na obra de Douglas Kellner “A Cultura da Mídia”.
Análise e texto de Pedro Luiz.

Contexto histórico-ideológico

Épico romano, o filme Gladiador além de associar a glória do Império Romano ao próprio Império Norte-Americano, glorifica a si próprio, glorifica a produção hollywoodiana. O filme é praticamente um replay de antigos épicos romanos holywoodianos, a associação ao filme “Ben Hur” é clara, tanto que muitos se referem ao ator Russel Crowe, protagonista do Gladiador, como o “novo Shalton Heston”, protagonista de Ben Hur. Diversos aspectos de antigos clássicos como Ben Hur e Spartacus reaparecem de forma idêntica em Gladiador. Em termos de produção cinematográfica é como se Hollywood dissesse para nós: “vocês se lembram daqueles épicos que fazíamos antigamente e eram grandes sucessos? Pois vejam o que nós fazemos agora, temos certeza de que vocês gostarão”. E nós realmente gostamos, Hollywood prova que as velhas fórmulas de sucesso do passado ainda funcionam dentro da roupagem atual da linguagem cinematográfica, não só funciona como é premiada, tanto pela própria academia que a reconhece através de seus Oscars, quanto mundo afora, sendo assistido, aplaudido e recebendo diversos prêmios por todo globo terrestre.

Além das películas mencionadas acima cujos elementos são reaproveitados e reembalados no filme “Gladiador”, esse épico se trata de uma releitura de outro antigo filme de época romano: “A Queda do Império Romano” de Anthony Mann (EUA: 1964). A trama central entre o Imperador Marco Aurélio, seu filho, Cômodo, e seu General em torno da herança do trono de César é a mesma em “A Queda do Império Romano” – tão quantas algumas das coincidências em relação ao período real da História de Roma adaptado ao roteiro e seus respectivos personagens, os imperadores (apesar de uma clara falta de fidelidade documental aos fatos históricos em ambas as películas). A diferença está na caracterização do personagem antagonista, Cômodo, que não chega a ser tão amoral como figura em o “Gladiador” – longe da visão mais estereotipada do épico atual – e do personagem protagonista, o General de Marco Aurélio que, inclusive, leva outro nome, “Lívio” e sequer chega a ser gladiador, pois a história foca-se na disputa pelo poder entre ambos com relação ao destino de Roma, não em uma vingança pessoal como representado na figura de “Maximus” em o “Gladiador”. Inclusive, o final da história aponta para direções opostas: enquanto a trama de Mann se restringe a disputa que daria início a uma série de fatos históricos que redundam na queda do Império Romano – conforme diz o próprio título do filme –, na de Scott a mensagem é oposta, aponta para a volta da democracia e da liberdade em Roma, cenário totalmente fictício e, conforme análise deste estudo, de cunho ideológico em favor do que se poderia chamar, do latim, política via estadunidense. Talvez o filme de Mann não seja muito lembrado em imediata associação ao “Gladiador” de Scott por ter sido um fiasco de bilheteria, mas ambas as histórias mostram mais coincidências do que as previamente citadas.

Estados Unidos da América
Bandeira dos Estados Unidos da América

No contexto histórico do filme, o ano de 2000, os Estados Unidos estão sob a presidência de Bill Clinton, o último presidente democrata norte-americano nos últimos 26 anos. No campo de batalha, vem de uma vitória arrasadora sobre seu último grande adversário, o Iraque de Saddan Hussein, que invadira o Kwait na conhecida “Guerra do Golfo”. Os Estados Unidos também acabara de subjugar a Sérvia-Jugoslávia, devido a este país estar utilizando praticas de extermínio em sua particular guerra étnica que opunha os eslavos (sérvios) aos albaneses, na como ficou conhecida, “Guerra do Kosovo”, a face do inimigo nesta guerra era o líder sérvio-jugoslavo, Milosevic.

Ou seja, durante a criação desse filme, lançado em 2000, o Império Norte-Americano lutava por seu ideal de liberdade e justiça na Sérvia depois da supressão do inimigo árabe, o Iraque. Depois de ser criticado na era pós-Vietnã, o imperialismo norte-americano busca reerguer-se frente aos novos inimigos “bárbaros”, os eslavos brutos exterminadores, da mesma forma que o Império Romano no filme Gladiador se reerguia frente às invasões bárbaras germânicas com o Imperador Marcus Aurelius no ano de 180, sob a idéia de que “lutar por Roma é lutar por uma idéia”.

Não seria lutar pelos Estados Unidos, lutar por uma idéia? Sim, a idéia da justiça, democracia e liberdade. A justiça e a liberdade são as idéias que o escravo-gladiador Maximus irá buscar e lutar por, nesse épico hollywoodiano. A democracia aparece quando Maximus mata o Imperador e tirano Commodus, e o poder de Roma fica com o senado, tornando Roma uma República (como os Estados Unidos que é uma república), tornando Roma mais democrática. Em suma, apesar da “máscara” norte-americana, assim como fora a romana séculos atrás, já terem ambas “caído”, o ideal da liberdade, que passa pelo modus-vivendi ocidental capitalista, como fora o ideal de Roma e sua “civilidade” no passado, é algo que ainda sobrevive e vale a pena se lutar.

Entendemos dessa forma, que o ideal transmitido pelo filme Gladiador, vem de encontro aos ideais norte-americanos que, assim como Roma promovia a expansão de seu Império sob o ideal romano, hoje os Estados Unidos promovem o seu imperialismo através dos seus ideais de democracia, justiça e liberdade. É como se o filme dissesse que a questão imperialista é algo aceitável, desde que seja construída por um ideal justo, ou naquele jargão popular que diz “os fins justificam os meios”. É claro que tal mensagem só poderia partir do conquistador, algo que aparece no filme quando um oficial do General Maximus, Quintus, diz momentos antes da última batalha sobre os derrotados bárbaros germânicos que recusavam a render-se: “um povo deveria saber quando está conquistado”. A mensagem subliminar aqui é “não adianta lutar contra nós americanos, nós já vencemos a guerra”. Sim, venceram a guerra contra os comunistas, os árabes e os eslavos, e o capitalismo agora praticamente não possui mais fronteiras, existem poucos que recusam a render-se pois não sabem que já estão conquistados, e é contra esses poucos que o ideal da liberdade busca enfrentar.

Supremacia Branca

A questão das raças que aparece no filme também nos leva a identificar Roma e todo o seu glamour, como sendo o próprio Estados Unidos da América do Norte. Sob esse prisma, o império romano representa – incluindo todos os personagens que aparecem no filme Gladiador que são brancos, o elenco do filme que é branco; a vitória de um romano como o herói Maximus e a glória de Roma –, o triunfo e a glória da raça branca. Porém existe uma única exceção, o negro Juba (Djimon Hounsou), que é companheiro de Maximus, outro escravo-gladiador de Próximo. É praticamente o único negro que aparece durante o filme e possui um papel coadjuvante. Juba é o escravo amigo de Maximus, aquele que ouve as confidências do herói sobre sua família, é também um excelente guerreiro, um dos poucos que sobrevive e é libertado por Maximus ao final do filme. Apesar do papel secundário, Juba vive simbolicamente toda a história dos negros: é escravizado pelos brancos, depois luta ao lado dos brancos e por estes é libertado, passa então a lutar pelos ideais dos que libertaram-no[10]. A liberdade que Juba ganha ao final do filme é mais uma maneira de reforçar o ideal que entendemos como a palavra-chave deste filme – a liberdade – que na figura deste dócil, gentil e prestativo negro, é então estendida à toda raça negra.

A Questão Sexual

Masculinização é um termo que pode ser aplicado ao herói deste filme, Maximus. Isso fica claro na descrição dos adjetivos mencionados no tópico “O Herói” deste texto. Maximus glorifica a força do homem dentro de um contexto histórico romano, uma época de domínio do homem sobre a mulher. Assim fica claro que a questão ideológica em torno da liberdade feminina é contestada nesse filme.

Cena do filme Gladiador
O Imperador Commodus (à direita) e sua irmã Lucilla (à esquerda)

Enquanto o herói, Maximus, utiliza todo o vigor masculino, sua força física, para atingir seus objetivos e fazer justiça, o vilão do filme, Commodus, é visto como fraco e submisso à sua irmã, ainda é mostrado como um doente que a deseja sexualmente. A irmã de Commodus é apaixonada por Maximus, o que grandifica mais ainda a figura masculina do herói, que ao longo filme é mostrado sendo agarrado e beijado por mulheres fãs dos gladiadores. A mensagem é simples e clara: quem é do bem, quem triunfa, é adorado pelas mulheres, as tem sob seus pés; quem é do mal, é submisso às mulheres e desprezado por elas.

O fato de Commodus desejar incestualmente sua irmã, também coloca em cheque a liberdade feminina dentro de um mundo onde o feminismo e a liberdade sexual são fatos atuais no pós-modernismo. O sexo aparece em o Gladiador da mesma forma que no mundo pós-moderno, que romaniza as práticas sexuais, a luxuria incestuosa de Commodus, é uma menção direta as luxurias do mundo atual, onde a liberdade sexual dos homens, mulheres e também dos homossexuais, ganha força dentro de um mundo ocidental-ortodoxo onde figura a tradicional instituição da família judaico-cristã, com seus ideais que se opõem as essas novas práticas sexuais libertinosas romanas, vistas como luxúria dentro de seus dogmas religiosos ocidentais. Vale lembrar que o contexto histórico desse filme se passa numa época onde o Império Romano ainda perseguia os cristãos, então nenhuma das práticas sexuais que aparecem no filme podem ser associadas diretamente ao mundo cristão. A questão do homossexualismo aparece quando o senhor de Maximus (quando este se torna escravo-gladiador), Proximo, pergunta se o herói precisa de alguma coisa, uma garota ou um garoto (Maximus não precisava de nenhum dos dois). A mensagem diz para nós que homossexualismo é uma prática antiga, romana inclusive, e não era tanto um taboo antigamente como imaginávamos, sendo tratado aqui pelos antigos romanos, como algo simples, corriqueiro e que faz parte do dia-a-dia. A romanização sexual do mundo pós-moderno então, é associada diretamente a liberdade sexual feminina e homossexual, nos elementos sutis que aparecem no filme, mas talvez Hollywood esteja apenas buscando contemplar todos os públicos em suas produções, ilustrando parte do mundo pós-moderno em seus filmes. A própria figura de Commodus, totalmente submissa a sua irmã, suas lamúrias que soam como as de um menino mimado, também colocam em cheque a sua masculinidade, sendo ele associado ao mal, temos uma associação entre o mal, a luxúria e o hossexualismo, o mal e a submissão do homem perante a mulher, o mal e a emasculação do homem enfim. Quando o bem vence, Maximus mata Commodus, temos a vitória do bem sobre esses fatos que emasculam o homem no mundo atual, ou seja, mais uma vez o homem está por cima e a mulher lhe fica submissa. Não só o homem se sobrepõe à mulher, também os ideais judaicos-cristãos o fazem através da figura de Maximus, que é fiel a sua esposa e sua família mesmo após a morte deles.

Se observarmos o herói Maximus, vemos que ele não tem nenhuma das características libertinosas que aparecem durante o filme, não cede a nenhuma tentação, nenhum pecado capital lhe pode ser associado: gula, ambição, inveja, preguiça, orgulho e luxúria. Até mesmo o ódio, único pecado a qual Maximus sucumbe quando deseja vingar-se de Commodus que matara sua família, é algo que aparece muito sutilmente no filme, embora não possamos desvincular o pecado do ato vingativo, este não soa como pecado, soa mais como “justiça”, mesmo que feita pelas próprias mãos. Até quando Maximus executa sua vingança, ele ainda o faz sob a forma de um condenado-gladiador que é obrigado a lutar contra seu inimigo e em desvantagem, Maximus não executa a sua vingança na forma de um frio assassinato, o faz dentro da arena onde impera a lei da sobrevivência. Entre os pecados mencionados, vemos que Commodus possui diversos deles, a vitória de Maximus sobre Commodus então, é a vitória dos ideais judaico-cristãos sobre o pecado, sobre o mal, a qual estão associados às novas praticas sexuais do mundo atual e a própria liberdade feminina.

Triunfo Capitalista

O triunfo individual de Maximus, simboliza a vitória solitária do homem dentro da sociedade capitalista, que privilegia as iniciativas do individuo, do trabalhador, do proletariado em busca de conquistas em sua vida, conquistas que são associadas à liberdade, a liberdade de consumo. O ideal capitalista, sob a bandeira da liberdade, nos diz que somos livres para conseguirmos tudo que quisermos, desde que lutemos por nossos sonhos. Essa é a luta, onde Maximus atinge o fundo do poço, virando um escravo, ou seja, perde a sua liberdade, e depois vai reconquistá-la lutando na arena do Coliseu de Roma, chegando a mudar os rumos de um império. Essa trajetória heróica, individualista e, ainda, sob a bandeira da liberdade como colocamos, nada mais é que a realização do sonho americano, o ideal capitalista, que nos mostra a figura de Maximus, um empreendedor, um líder que mobiliza pessoas em torno de seu ideal libertário, que guia suas ações ao triunfo em seus objetivos libertando a si mesmo e a seus companheiros. As ações de Maximus são as ações do homem moderno que precisa lutar e batalhar sozinho seu espaço na sociedade capitalista, onde o seu ideal nos diz que qualquer um que assim o faça, irá conquistar seus objetivos. O sonho americano é um tema que aparece em vários filmes, poderíamos dizer que é típico de Hollywood, uma fórmula conhecida e que sempre é recebida com sucesso, um sucesso reconhecido pela própria Hollywood através do Oscar, que premiou Gladiador como melhor filme e outros filmes de mesma temática no passado, como Rocky, um Lutador (1976), Ben Hur (1959), Forrest Gump (1995) e muitos outros que foram indicados pela academia e ganharam diversos prêmios. Essa fórmula aparece em vários filmes onde o herói empreende sua jornada sozinho, triunfando contra o mal, aparece em vários clichéts na luta entre mocinhos e bandidos, tema deste e de muitos outros filmes hollywoodianos.

Platão.
Imagem esculpida do filósofo grego Platão

A Ética do Gladiador

Nos livro de ética de Álvaro Valls, “O que é Ética?”, o autor aponta nos estudos do filósofo Platão da Grécia antiga, quais são os quatro principais valores éticos do homem:

"Nas pesquisas efetuadas dialeticamente (...) Platão vai organizando um quadro geral das diferentes virtudes. As principais virtudes são as seguintes:

  • Justiça (dike) a virtude geral, que ordena e harmoniza (...);
  • Prudência ou Sabedoria (frônesis ou sofía) é a virtude própria da alma racional, a racionalidade (...);
  • Fortaleza ou valor (andréia) é a que faz com que (...) o prazer se subordine ao dever;
  • Temperança (sofrosine) é a virtude (...) equivalente ao autodomínio, à harmonia individual
    (1994: 27)”.

Lembramos que no filme "Gladiador", na cena que o imperador Marcus Aurelius conta ao filho Commodus que passará o Império à Maximus, Commodus refere-se à uma carta que o pai lhe havia escrito, onde ele comentava quais eram as quatro virtudes do homem. As quatro virtudes mencionadas por Marcus Aurelius eram exatamente as citadas acima, que Commodus reconheceu não possuir. Com o poder sendo passado para Maximus, subtende-se que o Imperador enxergava nele essas quatro virtudes (e ele de fato as tinha). A ética de Maximus, o Gladiador, é exatamente a ética de Platão.

Como colocamos anteriormente, liberdade, é uma das palavras-chaves desse épico cinematográfico, sendo ela tomada como um valor ético, pois também o é, pode ser somada aos demais valores acima mencionados, como os valores éticos do filme Gladiador.

Referências

_________. Crítica “O Gladiador” in Jornal Folha de S. Paulo, 24/05/2000.
ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Pensamento, 1995.
Gladiador. Dir. Ridley Scott. E.U.A: Universal Pictures, 2000.
IKEDA, Marcelo. Gladiador, um filme político in http://www.geocities.com/Hollywood/Agency/8041/gladiado.html, 22/05/2007.
KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. Bauru-SP: EDUSC, 2001.
RINCÓN, Luiz Eduardo. A Jornada do Herói Mitológico in II Simpósio de RPG & Educação. São Paulo: Uninove, 22 à 24/09/2006.
VALLS, Álvaro. O que é Ética? São Paulo: Brasiliense, 1994.
VOGLER, Christopher. A Jornada do Escritor. Rio de Janeiro: Ampersand, 1992.
WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil, Outubro de 2007.

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Feira
Campus Party Brasil
11 a 17 de fevereiro de 2008

Preparativos

Consegui um trabalho de colaborador na Campus Party Brasil, realizada no prédio da Bienal em São Paulo. O evento reúne empresas, CIOs, cibermaníacos, hackers e autoridades do mundo da tecnologia e diversas áreas relacionadas. São várias temáticas abordadas, inúmeros eventos e novidades do mundo da cibernética reunidos num grande pavilhão high-tech. Alguns dos temas são Astronomia, Blog, Robótica, Inclusão Digital, Software Livre, Games, Modding, Ecologia e Desenvolvimento Sustentável entre outros. Os frequentadores do evento têm acesso livre à Internet e podem ficar acampados na Bienal durante toda a semana, desfrutando de palestras, cursos gratuitos, concursos e fazendo o que bem entendem dentro da rede, além de serem apresentados às novidades que estarão despontando no mundo da tecnologia.

E já que vai começar a festa, vamos aos preparativos. Antes de ir para um evento desses, nada como um bom banho, por isso além do sabonete e da água, uma musiquinha cai bem, de forma que assim o fiz com o meu K7 player no banheiro. Depois do primeiro dia de feira, voltei pra casa (como eu tenho o privilégio de morar perto do Parque do Ibirapuera não precisei acampar na Bienal) e, inspirado por tantas novidades, fucei em alguns armários e o que encontrei? Uma agulha (calma! eu não sou nenhum junkie). Pude assim, consertar meu velho toca-discos e ouvir algumas raridades que há tempos estavam guardadas, afinal, nem sempre a tecnologia é a solução pra tudo. A velocidade de auto-superação do próprio Homem e suas inovações incessantes as vezes deixam para trás outras próprias invenções que já foram, e ainda podem ser, muito prazerosas, deixadas no limbo da inexistência pelo avanço frenético das novas tecnologias e seus sedutores devices.

As novas gerações, embora livres do trampo de trocar o lado do disco, não sabem o valor e a superioridade do som analógico sobre o digital, a superioridade da agulha física sobre a laser. O som MP3 ainda come poeira perto do som de um velho disco bolachão. Tem coisas que o tempo e qualquer tecnologia nunca superará, mesmo que agente precise viver no passado. Qual o próximo passo? Talvez passar um pano de pó sobre o velho projetor de slides que também estava lá no fundo da armário...

A Pequena Roda dos Blogs

Sobre o levantamento inicial através das pesquisas que conduzimos com os blogueiros que conversamos no decorrer da Campus Party, vale destacar a questão que remete ao título do presente post.

Apesar de toda liberdade creditada à blogosfera brasileira, um porém pode ser citado. A jornalista e blogueira Lucia Freitas (do blog Ladybug Brasil), responsável pelo setor dos blogs na feira, afirma que sempre que existe qualquer debate sobre blogs, ou no lançamento de um novo produto tecnológico qualquer, muitos patrocinados por grandes empresas, como o Terra, por exemplo, ou mesmo como se viu na Campus Party no início de 2008, são chamados sempre os mesmos blogueiros para participar (sendo a própria um desses membros assíduos).

Na Campus Party, como organizadora do Campus Blog, Freitas procurou mudar esse cenário chamando pessoas que estão fora dessa pequena roda em uma tentativa de abrir esse círculo. Foi uma maneira de ampliar e aumentar a diversidade da blogosfera nacional. Tal iniciativa de Freitas é fundamental, pois, se a blogosfera se fecha em reduzidos nomes, acaba restringindo esse novo espaço comunicacional interconectado, o que não seria saudável quando se entende a Internet como um novo canal desentermediado de ampla capacidade comunicacional, que é como a rede se apresenta.

Uma blogosfera fechada seria o mesmo que o fechado grupo midiático brasileiro que, hoje, além de poucas empresas (são oito grandes conglomerados de mídia nacionais), se constituem como um grande oligopólio. Uma blogosfera fechada também representaria um grande obstáculo ao diálogo, instância que é diretamente associada a esta ferramenta.

Considerações finais

Na Campus Party realizada em São Paulo no pavilhão da Bienal deste ano de 2008, feira que exibe as últimas novidades do mundo high tech, e que também reúne centenas de aficionados por computador, Internet e tecnologia de um modo geral: nerds, hackers, tecnólogos, empresários, estudiosos etc., todos contando com uma grande lan para compartilhamento de informações e acesso à web. No meio de tudo isso, de toda essa gente, dentre as diversas áreas temáticas da feira como Blog, Robótica, Inclusão Digital, Software Livre, Games e Modding entre outras, sem dúvida, percebemos que a área de Games foi a mais ativa e que mais movimentou a feira. O que nós queremos dizer é simples: a indústria carro-chefe do mundo cibernético é representada pelos games, de forma que a vocação maior da rede está no entretenimento. Este um fato que ficou muito evidente durante a feira.

E o jornalismo?

O jornalismo inserido em uma plataforma de entretenimento tende a seguir essa vocação, de modo que, se fora da web o infotenimento é uma lógica que vem ganhando força na atualidade, na Internet isto é lei. O conceito de infotenimento associado às mídias digitais precisa ser revisto e muito bem estudado para que se identifiquem os seus benefícios em contrapartida as muitas críticas, pertinentes, que já são objetos de muitos estudos e reflexões sobre o jornalismo e a Internet. Não se pode mais enxergar a lógica do entretenimento apenas como algo negativo; hoje, ela se apresenta como uma fórmula não mais descartável. É preciso encontrar soluções para o jornalismo na atualidade, para que ele possa exercer o seu papel de suma importância para a sociedade, ao lado da diversão e do entretenimento. O infotenimento também tem o seu lado positivo e construtivo, é preciso entendê-lo melhor. O jeito informal e divertido pelo qual os blogs interagem com a informação é um grande exemplo de como o infotenimento pode compor um excelente caminho para o jornalismo.


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Pequena Crônica da Vida Digital
E-comunicação, E-problemas

São Paulo, terça-feira, 22 de Janeiro de 2008

Recebo um e-mail da escola inglês me dizendo que o pagamento da última mensalidade não foi debitado. "Droga", penso eu, "a minha mãe deve ter esquecido de pagar a conta". Com preguiça de ir até a sala para falar com ela sobre o assunto e perguntar o motivo dela não ter pago a escola, simplesmente encaminho o e-mail para ela, pronto: problema resolvido.
Mais tarde, quando vou à cozinha para pegar um café, minha mãe está sentada em frente a seu micro, quando passo por ela, ela me interrompe:
- Filho, já respondi o seu e-mail sobre a escola de inglês.
- E o que você disse? Qual o problema? - questiono-a.
- Ora, vá ler o e-mail que eu enviei, depois do trabalho que tive para responder!
Com um café na mão, volto para o meu quarto e sento-me ao computador, abro meu e-mail onde há apenas uma mensagem nova. É uma mensagem com um aviso do serviço anti-spam do meu provedor de Internet, ou seja, spam do anti-spam, bobagem, deleto-a.
Já no dia seguinte, ao verificar minha caixa de e-mails como faço habitualmente todas as manhãs, lá está de novo a mensagem do anti-spam, "diacho, acho melhor verificar", penso com meus botões. Entro na caixa de mensagens do anti-spam e, junto com mais meia dúzia de avisos sobre a fatura em débito da escola de inglês, lá está a resposta da minha mãe, que coisa. Abro-a e leio-a, enfim o fim do mistério:
"Filho, o pagamento da escola de inglês não caiu porque o Internet-banking desativou o meu cadastro de débitos de cobrança via Internet, e o e-mail que me enviaram avisando que a conta não seria paga ficou preso no meu anti-spam e eu não vi".


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Política
A Mídia e Fernando Collor

São Paulo, terça-feira, 8 de Janeiro de 2008

A atuação da mídia na cobertura dos fatos que rondaram o Palácio do Planalto durante a crise que culminou na queda do presidente foi fator decisivo para o desfecho final da “Era Collor”. Coube à mídia investigar vários fatos, fazer denúncias, dar publicidade e debater a crise presidencial. Varias atuações da mídia se destacaram nesse processo, tais como as matérias da revista Veja com as denúncias de Pedro Collor e várias outras; a revista IstoÉ que trouxe à tona o elo final que possibilitou incriminar Collor na CPI de Brasília; a rede Bandeirantes que passou a transmitir a CPI ao vivo; o SBT com grande atuação de seus apresentadores, Jô Soares, Lílian Witte Fibe e Bóris Casoy, que até criou um bordão repetido por vários deputados durante a transmissão ao vivo da votação do impeachment: “é preciso passar o Brasil a limpo”, bradava o âncora; por fim, a rede Globo que inflamou o imaginário popular com a sua minissérie “Anos Rebeldes”, quase que convocando o povo a marchar na rua e escrever o seu último capítulo, “eu vou, por que não?”, e todos foram.

Pres. Fernando Collor Afonso de Mello
Pres. Fernando Collor Afonso de Mello

Por tudo isso, pode-se afirmar que o impeachment de Fernando Collor só foi possível graças à atuação da mídia neste episódio da história brasileira. Por outro lado, relacionando as principais denúncias que desencadearam a crise e foram decisivas na CPI que incriminou Collor, como as que partiram de políticos que buscavam se projetar na mídia criminalizando o presidente, fica claro que houve uso midiático através da CPI por parte desses políticos, podemos assim concluir que ao lado da atuação da mídia na cobertura da crise, houve também uma manipulação política.

Uma das lições que fica sobre a derrocada de Fernando Collor é algo que poderíamos dizer estar implícito nos pensamentos de Maquiavel, já dizia o velho sábio que uma das virtudes do Príncipe seria manter um bom relacionamento com seus súditos. Para Collor, talvez, tenha lhe faltado um pouco disso, sendo um destes súditos, a própria mídia, chegando ao ponto de processar pessoalmente o jornal Folha de S. Paulo. As relações com os súditos se abalaram com as diversas crises que sofreu em seu governo, que se enfraquecia a cada ministro que se destituía, fracassado economicamente e que naufragou de vez nos mais diversos tipos de escândalos. Nesse sentido, talvez tenha faltado um pouco de experiência ao jovem presidente, talvez ele realmente não estivesse politicamente maduro para ocupar um cargo de tal envergadura, Collor não tinha a virtú descrita por Maquiavel para encarar o desafio a que se propôs.

A "Era Collor" narra a história de uma presidência que passou por vários conflitos políticos, mas não seria isso normal dentro do processo histórico político brasileiro após o longo período de sucessões presidenciais indiretas? Não seria normal para o primeiro governo eleito democraticamente que voltasse a cúpula governamental, cujos alicerces vinham sendo cimentados há 25 anos desde o golpe militar de 1964, fosse o governo do conflito? Nesse caso, a virtú não foi uma falta somente de Fernando Collor, mas de toda sociedade brasileira, da classe política, da mídia, de diversas instituições e de todos nós, o povo, deslumbrado, porém inábil para lidar com o novo regime, que não foi capaz de ter um grande presidente que o brindasse dignamente de volta à democracia. Na incipiente democracia moderna brasileira, éramos todos imaturos. Será que amadurecemos?

Fontes:
CHAIA, Vera. Jornalismo e Política, Escândalos e Relações de Poder na Câmara Municipal de São Paulo. São Paulo: Hacker, 2004.
CONTI, Mario Sergio. Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor. São Paulo: Cia das Letras, 1999.
IANNI, Octávio. Enigmas da Modernidade-Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
LIMA, Venício A. Mídia, Teoria e Política. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Florença, 1485.
ORTIZ, Renato. A Moderna Tradição Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.


A Cobertura do Planalto

Este post analisa alguns cases narrados no livro do jornalista Mario Sergio Conti, Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor, sobre a mídia e a cobertura política da presidência de Fernando Collor de Melo, com foco acurado nos escândalos midiáticos que levaram à derrocada do primeiro presidente eleito pelo voto direto depois do longo período que ficou conhecido na história brasileira como "A Ditadura de 64", confrontado-os com os valores e questões ligadas à ética jornalística – ou falta dela – nos furos que tomaram conta da mídia no crepúsculo da "Era Collor". A análise à seguir também aborda reflexões sobre diversas implicações políticas em cima da cobertura da imprensa no mesmo período.

A Cumplicidade

Vejamos alguns exemplos que nos mostram um pouco da relação entre a mídia e os políticos. A seguir, temos um exemplo muito claro que demonstra como se articulam, em alguns casos, os interesses entre o dono do veículo de mídia, o poder e a publicidade:

“Em julho de 1988, Alzugaray recomprou a IstoÉ (...) Comprou-a por 3 milhões de dólares (...) em 36 parcelas mensais (...) teria de vender cerca de dez páginas de publicidade a mais por mês. Saiu a campo. Visitou os donos de agências, grandes anunciantes e o presidente da FIESP (...) O editor também procurou Quércia.
– Comprei a IstoÉ, governador, tenho que pagar mais de 80 mil dólares por mês durante três anos, e queria saber: posso contar com o amigo?
– Pode contar comigo – respondeu Quércia (...) – Mas eu conto com você também” (1999: 422).

Nesta relação fica claro o comprometimento entre mídia e poder e, também, a dependência econômica da mídia pela verba publicitária. Em função disso, independência, autonomia, e a própria visão apolítica - alguns dos principais valores éticos do jornalismo - ficam comprometidas. Dada a estreita relação entre o dono da revista e o governador estadual (SP), fica difícil saber até que ponto a informação desse veículo, sobretudo o noticiário político, pode ser isenta.

Visão "Apolítica"?

A linha diretriz do dono dos veículos de mídia como um fator que interfere na pauta da informação jornalística pode ser entendida ao se analisar o editorial de alguns veículos, no caso, de jornais impressos, nos quais a mensagem é sempre opinativa e expressa a visão, ou do próprio dono, ou da editoria à ele alinhada. O exemplo à seguir mostra como um mesmo fato é interpretado de diversas maneiras, ou até mesmo ignorado, conforme o alinhamento político do veículo, visão apolítica, é um ideal que não podemos aplicar aos editorais a seguir.
O caso refere-se a um episódio às vésperas do 2º turno das eleições de 1989 , quando Collor trouxe uma ex-namorada de Lula (Miriam Cordeiro) para depor no seu programa eleitoral gratuito, expondo fatos desagradáveis sobre o passado da vida privativa do presidenciável petista. Atitude que acreditamos, no mínimo, quebrar a ética do bom-senso por parte de Collor.

“Na manhã seguinte (...) O Globo publicou um editorial (...) sustentou que ‘É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro’ (...) O jornal de Roberto Marinho concluiu assim o editorial: ‘Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir (...).

A Folha de S. Paulo não fez editorial sobre o assunto. O Jornal do Brasil, sim, condenou o PRN por ter apresentado a entrevista ‘A horas do seu encerramento, a campanha eleitoral foi truncada pela invasão da vida privada de Luis Inácio Lula da Silva’ (...) O JB comentou a acusação de que a ex-namorada de Lula havia sido paga para atacá-lo (...).

O Estado de S. Paulo dedicou o seu (...) editorial às eleições, mas não se referiu a Mirian Cordeiro (...) apresentou Lula como ‘prisioneiro das minorias anticonstitucionais que o PT abriga, afora os albaneses que se reúnem no PCdoB (...) possuidores de militante fanatismo xiita (...) além de ameaçar tantos quantos são proprietários’ (...) No fecho do editorial, o jornal da família Mesquita afirmou: ‘O programa do PT transformará o Brasil num país fora do mundo moderno (...) fará da democracia um simulacro e sacrificará os trabalhadores, como Stalin os sacrificou na Rússia, Castro em Cuba e Mao na China. Por tudo isso a posição do bom senso e do patriotismo recomenda que se vote (...) pelo Sr. Fernando Collor de Melo’.” (1999: 243-245).
Vimos diferentes visões nesses exemplos de editoriais de quatro grandes jornais brasileiros. Afora a Folha de S. Paulo, cujos gatekeepers bloquearam a informação, os outros três jornais o interpretaram de diferentes maneiras. O Globo tentou ser imparcial, colocou o paradigma do direito ao acesso à informação no julgamento do fato exposto, afinal o público não teria direito de saber tudo o que se passa na vida de um presidenciável? Não deixa de ser uma forma de ratificar a conduta de Collor, sem, ao mesmo tempo, concordar com ela. O Jornal do Brasil se colocou contra o fato, defendendo a imagem de Lula, inclusive insinuando tal denúncia como sendo uma armação. Enfim, O Estado de S. Paulo, não só ignorou o fato como se posicionou em prol de Collor, pedindo ao público que votasse nele. Nesses exemplos, vemos claramente como a linha diretriz dos donos dos veículos, ou seus gatekeepers, influem na pauta dos assuntos jornalísticos, sendo que cada editoria vai embutir a sua própria visão política sobre um mesmo assunto. A opinião expressa nesses editoriais, nos dá pistas de qual será a linha diretriz da cobertura política jornalística desses veículos.

A Busca pelo Furo

Já durante a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigava as relações entre Fernando Collor e Paulo César Farias, temos um episódio no qual um político negocia a sua aparição na mídia, no caso, Renan Calheiros, que estava prestes a depor na CPI e oferece uma entrevista exclusiva à revista Veja. Pode ser um exemplo clássico de uso midiático gerado por uma crise política, no qual os políticos procuram passar para mídia informações exclusivas e de seu interesse, além de usá-la para se projetarem frente à opinião pública enquanto a mídia precisa de fatos valiosos ligados à crise para gerar boas matérias, os “furos” jornalísticos.

“Renan Calheiros pegou o telefone e foi avisado de que os dois jornalistas estavam indo naquele momento para a casa dele. Eles chegaram lá por volta das cinco e meia da manhã. Insistiram que queriam exclusividade na entrevista. Só assim ele poderia ser assunto de capa da próxima edição de Veja. ‘Mas que garantia vocês me dão de que a entrevista será capa?’, perguntou o deputado. Oinegue ligou para mim, que também estava dormindo, explicou o problema e passou o telefone para Renan. Eu garanti que ele sairia na capa da revista, desde que a entrevista fosse exclusiva e ele dissesse novidades sobre a associação entre Collor e Paulo César Farias. Renan então combinou com os dois repórteres de se encontrarem às dez horas da manhã” (1999: 573).

Esse exemplo coloca em xeque o paradigma de acesso à informação, tanto por parte do político que o restringe a apenas um veículo de mídia em troca de um destaque maior (capa), quanto por parte da revista, que impôs essa restrição ao político. No caso, vê-se que o comprometimento em informar por parte da mídia é por seu valor mercadológico e não por se tratar de uma informação que concerne ao público. Por parte do político, é uma chance de projetar sua imagem perante a opinião pública, como frizamos. Esse também é um caso de uma informação que chega à imprensa seguindo o interesse do político em divulgá-la, o que, nas palavras de Lattman-Weltman, “tem um lado de manipulação política” (2003: 15).

O caso da revista IstoÉ que trouxe à tona uma denúncia que possibilitou incriminar o presidente Fernando Collor, a matéria com Eriberto França, um motorista da Casa da Dinda, a morada de Collor em Brasília, coloca o paradigma do direito fundamental de acesso à informação em confronto com outros valores da ética, tais como a própria idéia do Bem e da liberdade. A conduta dos jornalistas na busca de informações que veremos à seguir, nos mostra que o único padrão ético que eles seguem, pelo qual eles justificam as suas ações, é o de trazer informações ao público, nem que para isso, às vezes, seja necessário deixar outros valores de lado. Mas, como veremos também, até essa busca pelo furo não segue exatamente o paradigma da informação como direito fundamental, e sim aos interesses mercadológicos dos veículos de mídia que precisam de fatos que lhes gerem boas notícias, que aumentem o seu valor comercial, seja da venda do seu produto, dos espaços publicitários ou da sua própria credibilidade como órgão jornalístico.

A matéria intitulada “Eriberto, Um Brasileiro”, começou a nascer quando a revista IstoÉ se viu na necessidade de criar um furo sobre a crise que envolvia Pedro Collor e PC Farias, pois a sua concorrente, a revista Veja, já havia publicado várias matérias estrondosas sobre a crise, como colocava João Santana Filho, o chefe da sucursal de Brasília da IstoÉ: “João Santana (...) achava inútil IstoÉ concorrer com Veja nos terrenos que a concorrente conquistara: a investigação de negócios no exterior, as entrevistas com aqueles que haviam integrado o governo e passaram a denunciá-lo, como Mota Veiga e Renan Calheiros, e o registro das ações e opiniões de Paulo César Farias” (1999: 586). Com a Veja na dianteira da cobertura da crise, o sentimento era de derrota na redação: “IstoÉ noticiara todos os escândalos da administração federal, mas patinou na apuração da briga entre Pedro Collor e o tesoureiro do presidente (...) Havia consciência, na redação, de que a revista entrara com o pé esquerdo na cobertura” (1999: 586). Assim, na busca de algum fato novo, a revista conseguiu uma entrevista com o presidente Fernando Collor: “Também com o intuito de diferenciar IstoÉ de Veja, João Santana Filho havia pedido ao porta-voz Pedro Luiz Rodrigues que o presidente desse uma entrevista exclusiva à primeira. Collor foi convencido a concedê-la” (1999: 588).

Mas o grande furo da IstoÉ apareceu através das investigações de um fotógrafo da sucursal de Brasília, Mino Pedrosa. Ao fazer investigações numa empresa de PC Farias, a Brasil-Jet, o fotógrafo foi procurado por um rapaz que queria lhe vender informações, após encontrarem-se algumas vezes, veio o relato: “Júnior parou de falar em trocar o documento por dinheiro. Ele contou que a Brasil-Jet pagava o aluguel de dois carros, um Opala vinho e um Santana preto, que eram usados pela secretária particular de Collor, Ana Acioli. Quem dirigia os carros era um motorista do Planalto que Júnior disse chamar-se ‘Elibelto’.” (1999: 591). Foi assim que Mino Pedrosa chegou ao nome de Eriberto França. O contato de Mino Pedrosa com o motorista é narrado da seguinte forma:

“Na lista dos empregados da Radiobrás, acharam o registro de Francisco Eriberto Freire França, um motorista que Mino Pedrosa conhecia de vista. O fotógrafo foi ao Planalto. Viu o rapaz num corredor e tirou uma foto dele.
– O que é isso? – reagiu o motorista, desconfiado.
– Estou gastando um resto de filme, depois te dou a foto (...) me dá o endereço da tua casa que eu vou mandar entregar a foto lá” (1999: 592).
Este exemplo mostra como, na busca da informação, outros padrões, como o do bom-senso, são colocados de lado, o fotógrafo ludibria o motorista a fim de descobrir seu endereço. Uma vez com o endereço de Eriberto na mão, na mesma noite, Pedrosa foi acompanhado de um repórter à casa do motorista.“Pedrosa e Fonseca bateram à porta do pequeno apartamento do motorista. Já de pijama, Eriberto França se assustou ao vê-los.
– O que é isso, Mino? Tem merda ai?
– Tem, Eriberto, vamos conversar” (1999: 592).

Mino Pedrosa passa a coagir Eriberto França, colocando que sabia que ele “(...) foi lotado na Radiobrás e (...) pegava cheques e dinheiro em espécie na Brasil-Jet e os entregava ao mordomo da Casa da Dinda” (1999: 593), como vemos no relato a seguir: “Mino Pedrosa abriu a conversa naquela noite de terça-feira dizendo que sabia que o motorista recebia comissão pelo aluguel dos carros de Ana Acioli. ‘Eu tenho a fatura provando isso’, anunciou” (1999: 593). Assim Pedrosa e Fonseca vão questionando Eriberto até que ele concordasse em dar informações.

“Augusto Fonseca e Pedrosa formavam uma dupla eficaz de entrevistadores. Enquanto o fotógrafo endurecia e cobrava detalhes, o repórter ponderava, entendia as preocupações de Eriberto França e o tranqüilizava. O motorista entregou alguns documentos aos repórteres. No fim da entrevista, Eriberto França falou-lhes que se desligaria da Radiobrás. ‘Não quero ser demitido a bem do serviço público’, explicou.

– E como agente vai ficar, com o Eriberto sem emprego? – perguntou Patrícia, a esposa de Eriberto.
– Dou minha palavra que ele vai ter um emprego na IstoÉ, ganhando o mesmo salário – respondeu Pedrosa” (1999: 594-595).

Mais uma vez o paradigma de acesso à informação se coloca acima de outros, no caso, o bem estar da fonte, Eriberto, que é obrigado a abdicar de seu emprego e, ainda, é obrigado a colocar a própria segurança em jogo. Tal ameaça é, inclusive, também utilizada para coagir a fonte, como vemos no trecho a seguir.

“O chefe da sucursal propôs que gravassem uma entrevista e o motorista hesitou. ‘Você corre perigo, Eriberto’, disse Santana Filho. ‘O pessoal do governo vai saber que você está falando com agente’ (...) Combinaram que no dia seguinte, quinta-feira, Eriberto pediria demissão da Radiobrás. Na sexta, ele, Patrícia e os filhos viajariam para Salvador. No sábado, Santana os encontraria lá e os levaria para a fazenda de sua irmã (...) Só voltariam à Brasília depois que a entrevista tivesse sido publicada” (1999: 595-596).

Nesta passagem, é difícil saber se tal atitude foi tomada para preservar a segurança de Eriberto, se existia mesmo alguma ameaça para ele, ou se isto foi uma iniciativa da própria revista com objetivo de garantir que a informação que ele estava fornecendo não vazasse para outros órgãos de imprensa ou para os políticos envolvidos.

Em posse das informações e documentos que Eriberto fornecera, a revista IstoÉ as submeteu à um político, afim de averiguar a sua importância. “Santana Filho (...) escolheu o senador Mário Covas por três motivos: considerava-o sério; ele era membro da CPI, e, tucano paulista, via com maus olhos o quercismo de IstoÉ (...) Covas ficou estarrecido com a história que Santana Filho lhe contou e com os documentos que viu” (1999: 596-597). Apesar do furo em mãos, a revista tinha outro problema, a entrevista com o presidente:

“O dono da revista perguntou se não era possível adiá-la para a edição seguinte. Na opinião de Alzugaray, era chato terem uma entrevista exclusiva com o presidente e, na mesma edição, darem uma matéria incriminando-o (...) como explicar aos leitores que Santana Filho e Mino Carta não tivessem feito perguntas ao presidente, na manhã de quarta-feira, sobre as relações monetárias de sua secretária particular com a Brasil-Jet de Paulo César Farias?” (1999: 598).

O problema foi contornado com um editorial, no qual a revista alegou nada saber ainda das revelações de Eriberto quando entrevistara o presidente. Mas de fato, ela sabia sim, mas nada poderia perguntar ao presidente sem que o furo vazasse para o governo e para a concorrência.

“No editorial intitulado ‘Questão Moral’, escreveu-se: ‘Na manhã de quarta-feira, os entrevistados não sabiam, e sequer imaginavam, que certas pistas seguidas já há alguns dias pelos repórteres Augusto Fonseca e Mino Pedrosa, da sucursal de Brasília, na noite de quarta para quinta, numa personagem, possivelmente decisiva, para o esclarecimento do imbróglio’. Com isso, o encontro dos repórteres com Eriberto França, no apartamento do motorista, foi transferido da noite de terça para a de quarta”. (1999: 598-599).

Apesar de mentir em seu editorial intitulado “Questão Moral’, a revista IstoÉ jamais se perguntou se a sua conduta para com Eriberto se colocava dentro desta moral. Apesar de ter aceitado os termos da revista, ele foi obrigado a abdicar de seu emprego e se refugiar com a família em Salvador. Somente depois da matéria publicada é que Eriberto se deu conta da relevância que as suas informações tiveram dentro da crise presidencial, e que ficaria marcado para sempre, “Vocês me enganaram. Vocês me falaram que eu só ia aparecer na revista. Vocês foderam minha vida – disse ele” (1999: 600). Em cima dessa colocação do motorista, o chefe da sucursal de Brasília de IstoÉ (Santana Filho) tenta acalmar Eriberto, mas não preocupado com ele, e sim em proteger as informações que divulgara, “Calma Eriberto, vai dar tudo certo – disse o jornalista, com um medo crescente de que o motorista voltasse atrás nas suas declarações” (1999: 600). Despreocupado com o destino do motorista, o jornalista apenas se deleitava com o seu prêmio, a matéria publicada.

“Na noite do mesmo domingo, Santana Filho foi para Salvador e pegou um vôo para Brasília. Entrou atrasado no avião, onde estavam sentadas umas cinqüenta pessoas. Teve então a maior recompensa profissional da carreira dele: a maioria dos passageiros segurava IstoÉ e lia a sua reportagem” (1999: 601).

O jornalista teve a sua recompensa profissional, a revista IstoÉ teve o seu furo jornalístico, e a crise presidencial teve o seu rumo decidido. A informação, que envolvia corrupção da figura pública máxima nacional, foi à público como reza o seu próprio paradigma. Mas e a vida de Eriberto?

“Tendo perdido o emprego no Palácio do Planalto, e com ele o direito de usar o apartamento funcional, Eriberto França foi contratado para ser motorista de IstoÉ em Brasília, o fotógrafo Mino Pedrosa e o chefe de sucursal João Santana Filho, foram fiadores de seu apartamento, cujo aluguel Domingo Alzugaray, o dono da revista, pagou. O motorista não se deu bem na nova função. Encaminhou ao governo Itamar Franco um pedido de reintegração no cargo, que lhe foi negado. Eriberto França quis ser demitido de IstoÉ. Com o fundo de garantia e uma indenização que lhe foi dada por Alzugaray, comprou uma Kombi para trabalhar por conta própria. Ele e Patrícia se separaram. O motor da Kombi fundiu e Eriberto França se viu sem emprego, sem meios de sobrevivência e sem ter como pagar a pensão dos filhos. Foi morar num quarto alugado. Sobrevivia fazendo bicos. Diversas vezes, procurou Mino Pedrosa para pedir que ele lhe pagasse o almoço. O fotógrafo falou com parlamentares e ministros para que arrumassem um emprego para o motorista. Nenhum deles fez nada. Em junho de 1995, Odacir Klein, então ministro dos Transportes, empregou Eriberto França como contínuo. Ele passou a ganhar menos de trezentos dólares por mês. Quando a situação financeira aperta, o herói do caso Collor vai para a rua e ganha alguns trocados tomando conta de carros” (1999: 681-682).

Bom, a vida de Eriberto está abaixo da importância maior que o acesso público às informações, ou seja, qualquer valor ético que possa ser relacionado com a vida particular de algumas pessoas, ou que pudesse ser parâmetro de conduta nas investigações jornalísticas, como se vê neste caso. Tudo parecer estar sempre em segundo plano em relação ao que tange o acesso à informação. Mas o próprio direito à informação, como no exemplo acima e ao longo desse post, está subordinado a outro fator, que se relaciona diretamente ao valor comercial da própria informação: a exclusividade ao acesso à informação, o furo. Mais importante que a informação vir a público, é determinado veículo X, ou Y, estarem eles, passando a informação, e não os concorrentes. Assim, para defender essa exclusividade, sem a qual não há furo jornalístico, outros padrões éticos também são colocados em segundo plano.

Advogando Eriberto

No livro de Eugênio Bucci Sobre Ética e Imprensa, ele publica quais são os códigos de ética do jornalismo brasileiro (aprovado pela Federação Nacional dos Jornalistas – 1985) . Analisando o case acima, a matéria com Eriberto França, identificamos as seguintes questões que concernem ao referido código .

A busca da informação que incriminou Fernando Collor segue piamente o que reza o 1º artigo do código mencionado:

“I – Do direito à informação
Art. 1 – O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum interesse”.

Quando falamos da figura pública do presidente da república, a informação ganha ainda outra relevância no código de ética:

“Art. 4 – A prestação de informações pelas instituições públicas, privadas e particulares, cujas atividades produzam efeito na vida em sociedade é uma obrigação”.

Porém, quando lembramos que a IstoÉ informou em seu editorial “Questão Moral”, que realizara a entrevista com Eriberto numa quarta-feira, enquanto o fato ocorreu na terça-feira, ela vai contra o que reza o 2º e o 3º artigo do código:

“Art. 2 – A divulgação da informação precisa é dever dos meios de comunicação pública independente da natureza de sua propriedade.
“Art. 3 – A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos (...)”.

Assim, no caso desse editorial, a IstoÉ poderia ter optado em falar a verdade, que simplesmente não perguntara nada ao presidente na entrevista que fizera por ainda estar apurando as informações com Eriberto, e também porque não queria expor a sua fonte. Seria uma opção mais ética do que manipular a data em que obtivera as informações do motorista.

Quanto à investigação jornalística que levaram às informações que Eriberto possuía, mais uma vez, ela obedece ao que diz o código:

“II – Da conduta profissional do jornalista
Art. 7 – O comprometimento fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação”.
Art. 9 – É dever do jornalista:
a) Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público”.

Porém, quando analisamos a conduta de Mino Pedrosa ao abordar e depois interrogar Eriberto França, pressionando-o além do limite do bom-senso, percebemos que essa conduta vai contra o que reza o artigo 9, sobre a conduta profissional do jornalista:

“Art. 9 – É dever do jornalista:
e) Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos do Homem”.

Mas, no nosso entender, a principal quebra da ética por parte da revista IstoÉ, está no que reza o artigo 8, ainda referente a conduta profissional do jornalista:

“Art. 8 – Sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a origem e identidade das suas fontes de informação”.

Como se vê, Eriberto demonstrou não estar totalmente consciente das conseqüências do impacto que as informações e os documentos que revelara à IstoÉ iam ter em sua vida, que inclusive o pressionou para que ele gravasse uma entrevista. A IstoÉ, porém, estava ciente da gravidade e do impacto da matéria que estava redigindo, inclusive a submetera à analise do senador Mário Covas. Era obrigação da revista advertir Eriberto das possíveis conseqüências que aquele ato poderia implicar em sua vida, fato que, como vemos no desfecho da sua história, parece não ter acontecido. Talvez nesse caso, a revista poderia ter optado em proteger a identidade de Eriberto, em dever, justamente, do que reza o artigo do código exposto acima. Percebemos que, pelo contrário, as atitudes da IstoÉ foram somente no intuito de proteger a sua informação, levando Eriberto para longe de Brasília e, inclusive, gravando seu depoimento, o que sabemos ser uma forma da revista se isentar das informações que está divulgando e promover o sensacional. Assim, como colocamos, a revista teve o seu furo, e Eriberto ficou marcado para resto da vida como narra Conti, “o herói do caso Collor”, mas a que preço?

Questionamento Final

Apesar da informação fundamental relativa a crise da presidência de Fernando Collor, que foi o elo final de ligação entre Collor e PC Farias, ter vindo a público. A grande questão que fica é: pode o paradigma da informação como um direito fundamental do cidadão se colocar acima de valores que concernem a liberdade do individuo? O Bem e a Liberdade de um estão subordinados ao direito de acesso as informações de todos?

Referências Bibliográficas

ABREU A. A. de; LATTMAN-WELTMAN, F. E. KORNIS, M. A Mídia e Política no Brasil – Jornalismo e Ficção. RJ: FGV, 2003
BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. SP: Cia das Letras, 2000.
CONTI, Mario Sergio. Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor. São Paulo: Cia das Letras, 1999.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Floresta-RS: L&M Pocket, 2005
LIMA, Venício A. Mídia, Teoria e Política. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Florença, 1485.


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Melô da Cásper Líbero
É Mestrado na Cásper, sim!*

Aqui poderia ser Oxford ou MIT,
Mas aqui é Cásper Líbero, pode sorri.
Se souber pesquisar, será aprovado,
Se não estudar, vacilar, será jubilado.

Pagou não estudou, estudou não pagou...
Deu tudo na mesma foi aí que embassou!
Ter atitude na Cásper, assim se revela,
É particular, faculdade seleta.

Como diz Dr. Laan da Comunicação Social,
Forte expressão do estudo nacional.
Linha A, Linha B, não importa não,
Contemporânea, é área de concentração.

Quem não conseguir se adaptar, pode acreditá,
Amarelar jamais, chega mais, vamos lá.
O CD está em casa, Takeda vai copiar,
E fazer a festa, piratiar.

Bem-vindo à Cásper Líbero, chega, chega mais!
Só aluno cabeça, só aluno capaz.
Entrei aqui, estudo aqui,
É Mestrado na Cásper, sim.

Só nota alta não influi, não resolve o problema,
Mestres e doutores, estamos no mesmo sistema.
Biblioteca, grupo de estudo são os aliados,
Pra vencer qualquer barreira, estamos todos antenados.

Olha a aula rolando na Citibank, o professor não cala,
Tem seminário, não podemos perder, essa aula por nada.
Debater com os colegas, ver como andam as pesquisas,
e pegar o conteúdo das demais matérias.

E por falar em aula, vai começar a próxima:
Da Dona Heloiza, que sempre está ótima,
Sempre pra cima, sempre contente,
Aula expositiva, ensinando agente.

Isso sim, caros colegas é o mestrado,
Espero em breve encontrá-los de novo.
Vou caminhar, preciso estudar, para poder me formar...
Me despeço de vocês no saguão,
Um abraço à todos, até mais meus irmãos!

Bem-vindo à Cásper Líbero, chega, chega mais!
Só aluno cabeça, só aluno capaz.
Entrei aqui, estudo aqui,
É Mestrado na Cásper, sim.

*Baseado na música "Verão na V.R" da banda "Sistema Negro".

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Mini-biografia
Pedroom Surfer


Pedroom Stand-Up, Long & Shortboard Surfer

Veja a página oficial de Pedroom Surfer

Pedroom Surfer é brasileiro, natural de São Paulo e está registrado com o nome Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto. Nascido a 4 de Junho de 1971, começou a surfar com 18 anos de idade quando viajava com amigos colegiais para a praia das Toninhas em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Após três meses sofrendo no mar para aprender a pegar onda com sua pranchinha 6'1", dropou sua primeira onda na praia das Pitangueiras, vala do Maluf, na cidade do Guarujá (SP). De lá para cá não parou mais, sempre buscando evoluir sua performance na pratica de deslizar sobre as ondas. No ano de 2000 adquiriu o seu primeiro longboard, um 9'6" havaiano Heitor Fernandes e passou a surfar de pranchinha e pranchão. Já em 2008, depois de adquirir boa experiência com os pranchões, partiu para o seu terceiro estágio de evolução no surf e nas pranchas, adquiriu uma stand-up paddle board, e passou a praticar, também, a arte do "surf de remar em pé". Hoje mora na cidade de Ubatuba (SP), sendo local das Toninhas - justamente onde tudo começou -, sempre visto de stand-up remando de praia em praia pelo litoral norte.

Pedroom Surfer é regular footer, tem preferência por ondas hot-dog de, no máximo, 7 a 9 pés (até 3 metros), sua maior onda surfada foi na praia de Guaecá, São Sebastião, uma morra de cerca de 3 metros de altura - "eu acho que tinha mais" - diz Pedroom. Seus picos de surf preferidos são a praia do Tombo (Guarujá), Itamambuca (Ubatuba), Itacoatiara (Niterói - RJ), Joaquina (meio) e Lagoinha do Leste (Florianópolis - SC), Silveira (Garopaba - SC) e Cardozo (Farol de Santa Marta, Laguna - SC). Suas manobras preferidas são o tubo e o hang-five/ten (de pranchão). É, inclusive, autor de uma manobra própria, que intitula de "a morte de Jesus Cristo", fazendo um crussifixo no pranchão e deixando a cabeça cair à direita quando a quilha bate na areia, já na beiradinha do mar. "É uma manobra simbólica", diz. "Apenas para fechar com chave de ouro uma onda completa, ou seja, aquela que te leva até a areia", completa Pedroom.

Em seu currículo de surf trips Pedroom Surfer possui um extenso conhecimento do litoral da região sul do país. Conhece bem o litoral paulista e catarinense - viaja para Santa Catarina pelo menos uma vez a cada ano. Também conhece praias pelas costas do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Aponta o Farol de Santa Marta, em Laguna (SC), e Itacaré (BA) como os melhores points de surf que conhece no Brasil. Num veredicto afirma: "os dois points são alucinógenos, com ondas míticas e perfeitas, mas Itacaré tem a vantagem de estar na Bahia e contar com toda a magia dessa singular região brasileira". Mais recentemente, Pedroom iniciou uma jornada de trips internacionais, assim, conheceu picos míticos como 'La Ola izquierda más longa y perfecta del mundo' - Chicama, no Peru e, também na terra dos Incas (viagem na qual conheceu as alucinógenas ruínas de Matchu Piccu), as famosas ondas de El Faro e Punta Roccas. Outra trip inesquecível foi Galápagos, simplesmente sem palavras para descrever o paraíso que o pico é.

Além do surf, Pedroom Surfer possui outros hobbies, tais como jogar botão, Tsunami - um jogo de cartas que envolve praias e surfistas que inventou -, jogar videogames como Bio-Hazard, Doom e Mu Online, além de praticar esportes de condicionamento, tais como alongamentos, cooper e biking. Também gosta de viajar para o campo, fazer trilhas e escaladas, já esteve no topo de lugares belíssimos como a Pedra do Baú em Campos do Jordão (SP), e nos picos das Agulhas Negras e Prateleiras em Itatiaia (RJ), ou dentro das incríveis cavernas do PETAR no Alto do Ribeira, interior paulista. Como um surfista amante do litoral da cidade maravilhosa, onde esteve diversas vezes, expõe que "não posso morrer sem antes escalar a Pedra da Gávea". Na música, Pedroom curte metal pesado, Black Sabbath, Iron Maiden e Manowar entre outras bandas e cantores de rock como Alice Cooper, The Who, Deep Purple, Led Zeppelin e Rush, figuram entre os seus sons favoritos, mas expõe: "com o passar do tempo você acaba ficando mais eclético e se abrindo para outros estilos musicais, hoje eu também curto rap, pop e até música clássica". Na mesa, além de buscar mantér uma refeição saudável e balanceada como qualquer surfista, Pedroom é fã de uma boa feijoada, um churrasco com os amigos e de culinárias como a japonesa, chinesa, norte-americana, alemã e italiana, sendo gnoch o seu prato prediléto. O seu único porém em relação a comida, contrariando o hábito de alguém que adora o mar, é peixe: "detesto peixe, só gosto deles nadando no mar", diz.

Quando inquirido por qualquer um sobre o que pensa do surf, Pedroom Surfer diz que "o surf é demais, a única coisa que ferra são os haoles e os caras que são crentes só porque são locais de um pico, sendo que existe um mundo imenso para se surfar". Não entende que, sendo o surf mais do que um simples esporte, é uma filosofia de vida, um meio de interação, de integração com a natureza, existam pessoas que ficam no mar estressadas e se impondo sobre as outras na base da força e da ignorância: "é preciso compartilhar com prazer as ondas, e não ficar brigando para pegar todas", afirma em atitude amistosa.

Em solo firme, como costuma brincar, Pedroom Surfer é professor e possui mestrado em Comunicação. Pensa em fazer doutorado em Sociologia, desenvolvendo um estudo sobre as relações das sociedades modernas, entender porquê, apesar de toda evolução alcançada pela humanidade, ainda se faz necessário se resolver problemas políticos através da guerra e do terrorismo. Nesse sentido, Pedroom é um grande crítico da atual política exterior norte-americana: "só não vê quem não quer, é tão óbvio que a Alemanha do passado é o Estados Unidos de hoje", diz. Teme, como muitos, pelo destino da humanidade frente aos crescentes problemas ambientais e a escassez de petróleo e outros recursos naturais do planeta, sobre o qual afirma: "Ninguém se preocupa com a solução para o aquecimento global pois ela, infelizmente, já existe: a guerra".

Além de almejar estudar e ajudar a humanidade dentro dessa problemática toda, para o futuro Pedroom Surfer só espera uma coisa: surfar até morrer, ou, até mesmo, morrer surfando.

- Boas ondas, Pedroom!


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Frases
Internet, Jornalismo e Weblog: a Nova Mensagem

Weblog

“O número de novidades que surgem, confrontado com o pouco ânimo dos blogueiros em relação ao ganho obtido, em relação ao que foi agregado a prática jornalística com tantas inovações, nos mostra que ainda existe um largo potencial para evolução do jornalismo dentro da esfera virtual – a 'revolução' está apenas começando. Para que este potencial seja revertido em cinética, entende-se que outras inovações devem tomar lugar ao lado da inovação tecnológica, ou seja, passa por educação, programas de inclusão digital (e social) e o firmamento de novos hábitos ligados ao uso da grande rede e da mídia de um modo geral e massivo”.

“Tentar interagir com um blog notório, de alta audiência é tão difícil quanto interagir com um jornal nos tempos quando o único meio de contato eram as cartas postais”.

“Não existe nada mais comum ao usuário dos blogs do que comentar e ser completamente ignorado. Aqui, vale citar os estudos de Jürgen Habermas, ele revela que as esferas públicas políticas fomentadas pela imprensa nos idos do modernismo europeu eram espaços onde, dos nobres aos comensais, todos possuíam voz, mas para algumas vozes os demais ouvidos se abriam mais, possuíam mais peso, maior poder de persuasão que outras. O mesmo pode se dizer desse novo palco midiático que engloba blogs, blogueiros e internautas, mas com um detalhe que se amolda dentro das características duais da nova mídia: nos blogs o espaço para as vozes é maior e menor ao mesmo tempo. É maior porque o espaço para argumentação e argumentadores no blog é praticamente infinito, menor pois no terreno virtual é mais fácil ignorar qualquer um, é mais fácil uma voz se perder no meio de tantas outras”.

“Os blogs somados a inúmeros recursos de navegação e interação são como novos alvéolos que pulmificam o jornalismo, responsáveis por dar maior fôlego ao mundo da informação. Os grandes portais de notícia são como corações mais potentes que bombeiam intensos fluxos de conteúdo para o complexo corpo social”.

As grandes marcas

“Nada mais interessante para a Google – a maior plataforma de web marketing do mundo – do que incentivar e ensinar os seus usuários a aumentarem os seus benefícios que, a tira-colo, aumentam os benefícios dela própria em algo que pode ser entendido como uma espécie de novo 'Baú da Felicidade' da era digital”.

“Uma empresa com tal dimensão e detentora de tais aparatos (...) questiona-se até que ponto não poderia se dizer que 'o Google é a mensagem', tanto dos blogs como da completa atualidade ciberespacial”.

“A inserção da Globo na web demonstra o porquê da empresa ser a número um do Brasil. É o novo 'default Globo de qualidade'.”

Jornalismo & Entretenimento

“Se fora da web o infotenimento é uma lógica que vem ganhando força na atualidade, na rede, isto é lei”.

“É preciso encontrar soluções para o jornalismo na atualidade para que ele possa exercer o seu papel de suma importância para a sociedade ao lado da diversão e do entretenimento. O infotenimento também tem o seu lado positivo e construtivo, é preciso entendê-lo melhor”.

Internet

“Enquanto uns clamam pelo direito ao anonimato na rede, outros se colocam acima dessa questão, pois possuem os mecanismos para identificar exatamente quem é o seu usuário”.

“É preciso que a sociedade não permita que os abutres da mídia, as hienas das telecomunicações, os tubarões da tecnologia ou mesmo os chacais do governo exerçam monopólio sobre a Internet, inclusive, alterando os protocolos comunicacionais que hoje beneficiam a comunicação desintermediada e as iniciativas de diversas pessoas que utilizam a grande rede”.

29/12/09, Postado às 23:29
Marcadores: comunicação, internet, jornalismo, mídia, weblog

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Uma Apresentação de Mestre
INTERNET, JORNALISMO E WEBLOG: A NOVA MENSAGEM
Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais

Um estudo do Prof. Mestre Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto

O seguinte estudo tem lugar no campo que engloba o Jornalismo e a Internet, bem como no novo elemento que resulta da fusão dessas duas instâncias, o webjornalismo. Analisa-se como a Internet está mudando o mundo do jornalismo, com um foco especial sobre a crise que afeta a tradicional e antiga imprensa escrita. O jornal vai desaparecer? Esta é uma das questões que a presente obra procura investigar. Os novos fenômenos que aparecem no mundo digital da notícia através da Internet, tais como a blogosfera e a empresa Google entre outras novas formas de disseminar a informação pela web, as novas tecnologias e soluções que vêm sendo usadas para se fazer jornalismo de atualidade, são outro foco desta dissertação de mestrado. Depois de definir este novo cenário para o Jornalismo, a pesquisa apresenta um estudo de caso centrado nos dois maiores jornais de São Paulo, O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, e seus respectivos sites da Internet, Estadao.com.br e Folha Online. Como resultado, o estudo aponta novas tendências para o Jornalismo dentro de um mundo de informações que, cada vez mais, flui através de linhas conectivas de banda larga, linguagem digital-binária e dispositivos computadorizados miscelâneos.

O podcast a seguir contém a apresentação de Pedro Luiz de Oliveira Costa Bisneto por ocasião de sua banca de defesa de dissertação de mestrado ocorrida na data subscrita. Se as palavras gravadas ou mesmo o conteúdo abordado podem não parecer maestrais, tais palavras representam as últimas que precederam a aprovação final no curso e a obtenção do título de Mestre em Comunicação na Contemporaneidade por parte deste estudioso.

CLIQUE AQUI para ouvir a apresentação | CLIQUE AQUI para acessar o site


15 de Dezembro de 2008

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Futurologia
O caminho da Comunicação

São Paulo, Quarta-feira, 5 de Dezembro de 2007

O mundo atual, avançado da profecia de George Orwel – o "Grande Irmão" já ficou pequeno – está a todo vapor, rumo à Matrix da famosa película. A todo vapor, aliás, é expressão ultrapassada, estamos além da instantaneidade da luz elétrica, estamos na própria relatividade do tempo, como diria Albert Einstein, já vivendo o futuro no presente. O mundo avança por meios de tecnologias matemáticas computadorizadas e das grandes redes globais, acelera por meio de inteligências binárias, automatizando, ampliando, estendendo todo o conhecimento da humanidade. Mas a própria velocidade do conhecimento, disseminado, reciclado e ampliado, esbarra na barreira do tempo, na singularidade da relatividade de Einstein, nos limites da própria tecnologia. O limiar dos gigahertz por segundo, dos datawarehouses, já são insuficientes para absorver a exuberância da inteligência que se multiplica a partir desses sistemas conectados, interligados, que se dissipam a partir do meio e contaminam todos, absorvidos até pela consciência do homem. Mas a própria consciência do homem também agora se projeta de volta ao sistema, como uma maré oceânica furiosa, que ora transborda na América, ora na Ásia: é a tempestade no copo do planeta água. Se a inteligência esbarra nos limites da memória e da velocidade dos processadores, incontida, incontrolável, ela flui de volta para o próprio sistema, inundando as suas conexões, afogando os seus usuários com dados e informações. No mundo da consciência, da inteligência coletiva e da própria coletividade, só existe um caminho possível a ser trilhado, o do compartilhamento: a comunicação peer-to-peer é único possível caminho, é o ponto de fuga para a sociedade em rede que, no futuro, hoje se desenha.


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Exercício de Imaginação
O Poder da Mídia
Uma Breve Reflexão Ética sobre o Homem-Aranha e o Super-Homem

01 de Outubro de 2007

Para esta pequena reflexão sobre ética, deixaremos de lado um pouco da abordagem científica para nos deixar levar pelo mundo mágico do cinema, para isso, utilizaremos três seqüências de duas películas com objetivo de tecer considerações sobre o tema. As duas películas apresentadas contam a história de dois super-heróis, o Homem-Aranha e o Super-Homem, que se popularizaram através das histórias em quadrinhos até se projetarem na grande tela do cinema, tornando-se dois dos maiores blockbusters do gênero. Nesse exercício, vamos focar a questão da ética de ambos os heróis em relação à mídia e ao jornalismo.

Homem-Aranha e Super-Homem

A idéia de utilizar os super-heróis Homem-Aranha e Super-Homem baseia-se no fato de ambos nos remeterem a questões éticas diretamente ligadas ao jornalismo. Em primeiro lugar, os ideais de ambos expressam diversos valores éticos, representam ideais humanitários, libertários e do Bem, tais como justiça, igualdade, universalidade, de subserviência à coletividade e de uso responsável do poder, ou do não uso do poder como um obstáculo ao destino da humanidade e dos interesses universais – o uso positivo da liderança – inclusive a moral de cunho religioso traduzida pela escolha do Bem em detrimento ao Mal possui forte apelo nesses heróis. Os ideais que delineiam esses personagens, a figura do herói que ambos representam, as quais dispensam uma profunda análise mitológica para serem destrinchadas, reconta e mantém vivos diversos ideais, muitos deles, éticos, comuns tanto no cotidiano atual quanto no transcorrer de boa parte da história humana. São valores que cerceiam e se conectam a ética da mídia e o seu poder comunicacional, a mídia como o 4º poder, uma entidade do mundo atual. Outro fato importante é tratarmos de ideais que não se escondem em livros teóricos ou dentro de academias apenas, mas que fazem parte do saber comum, do senso comum, de ideais que se propagam pela cultura de massa. Valores aspirados e vividos pela sociedade atual através de diversas formas, sendo os quadrinhos e o cinema algumas delas. Nesse sentido, o cinema é uma mídia que sempre apresentará, enquanto produção cultural, diversas questões relativas à ética nos mais diferentes aspectos imaginários (tanto em seus filmes, quanto na própria questão da indústria cinematográfica, que implica uma grande reflexão, além de ética, mercadológica e ideológica).

Não só a ética relaciona a presença desses super-heróis neste exercício, mas também a falta dela, especialmente quando examinamos os personagens humanos dessas histórias, afinal, os alter-egos do Homem-Aranha e do Super-Homem, Peter Parker e Clark Kent respectivamente, trabalham em grandes jornais, o primeiro como fotógrafo (no Clarín Diário) e o segundo como repórter-jornalista (no Planeta Diário). Ambos conseguiram emprego em seus jornais tirando vantagem de seus super-poderes, o que pode ser considerado antiético de certa forma, embora esteja embutida uma missão de intuito humanitário nessa ação. O fato de ambos os heróis escolherem trabalhar em jornais também questiona o mito do jornalista e o seu papel dentro da sociedade. A cobertura desses jornais sobre a vida desses heróis traz reflexões que tangem o escopo deste exercício, até poderia ser o foco de um estudo focado exclusivamente nesse ponto. A figura do empregador, o chefe de ambos os heróis vai fazer parte da vida deles e seus alter-egos, que são os donos dos jornais onde trabalham. A questão da ética desses editores ou da falta dela – especialmente do chefe de Peter Parker, J. J. Jameson, que perseguirá o Homem-Aranha durante toda a sua vida – é constantemente abordada nas histórias desses personagens, servem de estereótipos que nos mostram características diretamente ligadas ao mundo do jornalismo impresso e do mass media em geral, trazem valores e condutas que casam com muitas das reflexões que tangem a ética jornalística como aparato de reflexão e entendimento de sua prática. Conforme veremos nos exemplos a seguir.

Na primeira cena do filme do Homem-Aranha, Peter Parker está observando um desenho em seu caderno com a imagem tradicional do super-herói, subentende-se que foi a partir dessa criação que o alter-ego desenvolve o tradicional uniforme do Aranha. Mas o que importa na cena são as palavras de seu falecido tio que vem a mente de Peter enquanto observa a imagem no caderno: “Um grande poder traz uma grande responsabilidade. Lembre-se disso, Peter, lembre-se disso”.

Se fizermos uma analogia dessa frase com o poder da mídia, concluímos que o poder da mídia traz uma grande responsabilidade para com a sociedade, para os receptores, o público de um modo geral. Entendemos que, em termos de ética, essa responsabilidade para com a sociedade permeia e deve ser praxe para todos os órgãos de mídia que veiculam mensagens, especialmente os grandes veículos de massa, inclusive os privados. Em termos éticos, é fato que veículos de rádio e TV têm obrigação intrínseca de servirem aos interesses do público com informação e opinião isenta de outros interesses que não sejam o bem comum, e visão apolítica da cena pública para que os receptores tenham condições de discernir e formar sua própria visão dos interesses comuns que tangem a vida em sociedade, pois se tratam de concessões governamentais. Entretanto, pelo ideal exposto na frase do filme do Homem-Aranha, entendemos que esse dever se aplica a todos os órgãos de mídia, sejam concessões públicas ou oriundos da iniciativa privada, pois ao se dirigirem a sociedade, têm uma grande responsabilidade sobre os temas que veiculam e concernem ao interesse dos cidadãos que absorvem suas mensagens.

Um exemplo disso está nos grandes jornais impressos, que se tratam de iniciativas privadas, portanto, alinhados aos interesses de seus donos ou acionistas, estes que detém todos os meios da cadeia produtiva do veículo, das prensas, dos funcionários e jornalistas que empregam e dos distribuidores de seu produto que contratam. Uma vez que detém o meio, seria direito do veículo emitir mensagens ao seu bem entender, entretanto, cremos que, mesmo neste contexto, os veículos privados têm uma grande responsabilidade com o poder comunicacional que detém. Essa responsabilidade deve ser medida pelos valores éticos da sociedade e, no caso dos jornais impressos, também por meio da ética jornalística.

Todavia, conforme analisaremos na cena seguinte do filme do Homem-Aranha, através de alguns clichês típicos da linguagem cinematográfica, sobretudo hollywoodiana, percebemos que esta não é uma prática que permeia os veículos de mídia, os quais, na maioria dos casos, são alinhados com os interesses de seus donos e/ou de seus anunciantes.

Na segunda cena do filme do Homem-Aranha, o editor-chefe do jornal Clarín Diário J. J. Jameson está criticando a matéria de capa da edição anterior que destaca o famoso super-herói sob a manchete: “Quem é o Homem-Aranha?”. Na opinião de Jameson, um criminoso, um justiceiro, uma ameaça pública. A cena gira em torno da crítica de Jameson ao Homem-Aranha e da bronca em seus subordinados por tê-lo destacado como um herói. Entretanto, o que chama atenção nesta cena é a ênfase na mudança de postura de Jameson, que a princípio achava uma afronta a presença do Homem-Aranha na sua primeira página (como ele próprio se expressa), até quando soube que tal edição tinha esgotado as vendas, então o editor pediu que se publicasse outra foto do Aranha na primeira página da edição seguinte do jornal. Cena que mostra a importância do editor na questão financeira das empresas de mídia que, além do que comentamos, busca valorizar o conteúdo mais “vendável” – nota-se no background desta cena que Jameson está palpitando sobre a negociação de espaço publicitário em seu jornal, na qual revela em parte como o valor da notícia e do anunciante equivale a determinadas páginas de destaque no veículo em detrimento da notícia que é veiculada.

Em suma, identificamos duas linhas de interesse que delineiam as editorias de um jornal, o interesse do dono, e o interesse financeiro. Deve-se considerar que esta cena, por mais que seja fictícia, expressa a realidade editorial dos grandes veículos privados que, longe do ideal do Homem-Aranha, em primeira instância, sua responsabilidade é para com seus próprios interesses, sejam esses ideológicos, publicitários e/ou financeiros.


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A utopia midiática do Super-Homem

A cena do filme Superman (1978) amplia a reflexão sobre o valor ético levantado nos parágrafos anteriores em relação ao Homem-Aranha. Tomamos as falas do personagem Jor-El interpretado pelo ator Marlon Brando ao se dirigir a seu filho Kal-El, o super-homem, como uma interpretação do papel da mídia para com a sociedade.

Kal-El convida seu filho para uma viagem aos confins do tempo e do espaço, e fala dos grandes poderes que ele detém mas ainda não sabe – um detalhe que poderia ser associado às novas mídias através do exercício de reflexão que nos trás essa cena, um meio cujos limites de seu poder comunicativo ainda são desconhecidos –, sobretudo, Kal-El chama atenção para a responsabilidade que Jor-El detém sobre o povo terráqueo como inspiração e liderança, e seu dever de servir a coletividade e guiá-la pelo caminho do bem – que em nossa analogia ao mundo real podemos interpretar como o bem-comum, o mesmo que deve guiar os órgãos de mídia, especialmente os jornalísticos. Além de convocar seu filho para sua missão para com o povo da Terra, Kal-El enfatiza à Jor-El que lhe é proibido interferir na história da humanidade, mais um ideal de cunho ético que deve nortear a mídia, cujo dever é informar e conscientizar o público para que este escreva a sua história, e não tentar moldar a informação em prol de interesses financeiros, ideológicos ou políticos, dessa forma interferindo no palco público, alterando sua história. Com esses valores esclarecidos por seu pai, enfim o super-homem está pronto para servir a coletividade e assim inicia sua missão.

Naturalmente, uma associação entre o poder e a responsabilidade representada por um personagem como o Super-Homem com a mídia, trata-se de uma comparação injusta. A analogia entre o poder e a responsabilidade que ambos detém para com a sociedade faz sentido, mas acreditar que a mídia desempenha para com a humanidade o mesmo agir ético, seja do Super-Homem, do Homem-Aranha ou de outro grande mito contemporâneo similar, do gibi ou do cinema, é pura utopia.


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Referências

BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. SP: Cia das Letras, 2000.
Superman. Dir. Richard Donner. E.U.A.: Warner Brothers, 1978.
The Spider-Man. Dir. Sam Raimi. E.U.A.: Columbia Pictures, 2002.
VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética? São Paulo: Brasiliense, 1996.
WIKIPEDIA. A Enciclopédia Livre. http://pt.wikipedia.org/, 28/09/2007.
YOUTUBE, Brasil. https://www.youtube.com, 28/09/2007.

Texto disponível em arquivo PDF.

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Mini-Biografia
A Extraordinária Vida do Ordinário Maicon

29/11/2007

M

Maicon é uma pessoa comum, para muitos ele pode parecer um maluco, um contador de histórias, alguém “fora da realidade”, para mim ele é o perfeito cidadão pós-moderno, do mundo

moderno, mesmo que ele nunca tenha parado para pensar nisso. A história a seguir narra a vida de uma pessoa anônima como a maioria de todos nós. Uma história recheada de elementos da vida cotidiana, de fatos que são comuns e familiares a todos nós, e que nos fazem perceber como cada um, como cada ser humano, traz consigo aquela inexplicável e extraordinária maravilha que é o dom maior que todos nós possuímos, o dom da vida. Quem é Maicon, o que ele faz e onde vive são questões difíceis de se responder. Maicon é o típico ser humano nômade, está sempre em algum lugar diferente, fazendo algo diferente, com pessoas diferentes. Sua vida foi sempre assim, de lá pra cá, de cá pra lá desde que sua mãe – uma hippie, como ele mesmo diz – saiu de São Paulo para ir morar em Belém do Pará, a sua cidade natal, aonde tudo começou, à beira do Rio Tapajós. Foi lá que ela conheceu o futuro pai de seus filhos, um garimpeiro, com quem se casou e teve uma prole de dois: uma menina e Maicon, o caçula. Esposa e filhos conviveram muito pouco com o pai, na maior parte do tempo ele se encontrava longe de casa, em algum lugar no meio da selva amazônica, cavando por ouro. Quando achava quantia suficiente do valioso minério para bancar a viagem ao garimpo, algo que só acontecia em intervalos de anos, a família pegava um avião em Santarém que os levava ao meio da selva, e lá mesmo passava algum tempo junta. E foi numa dessas viagens que Maicon e sua mãe se depararam com um dos terríveis males da vida selvagem: a malária. Infectados ambos, a má sorte da mãe foi ainda mais cruel, além da malária contraiu a fatal hepatite preta, morrendo em poucos dias ao lado do filho em um hospital em Santarém. Embora gravemente enfermo, Maicon sobreviveu, mas, aos oito anos de idade definitivamente o rumo de sua vida mudou para sempre.

Maicon
Maicon

Sem condições psicológicas de cuidar dos filhos, agora órfãos de mãe, o pai de Maicon enterrou a esposa e voltou ao garimpo. Além de mãe, Maicon e sua irmã, então, passaram a ser também órfãos de pai, pois nunca mais o encontraram no decorrer de suas vidas. Foram acolhidos por parentes dele, Maicon pela madrinha de batismo que o encontrara ainda no hospital quando ele se recuperava da malária, e sua irmã por uma tia, uma das irmãs de seu pai. Maicon passou a viver em cima de um açougue no centro comercial de Santarém, aonde trabalhava para ajudar sua nova “mãe de criação” – sua primeira profissão: ajudante de açougueiro. No tempo livre, brincava com os filhos dela, crianças como ele, seus novos irmãos.

Cerca de um ano depois, já feliz e readaptado à nova vida, em um belo dia de sol, caminhava na rua quando ouviu uma voz chamando seu nome: “Maicon” – era um de seus tios que vinha para buscá-lo, e sua irmã também, para morarem com parentes de sua falecida mãe em São Paulo. O tio estava há dias procurando pelo pequeno Maicon que há anos não havia visto mais, que ninguém sabia onde se encontrava ou para que lugar teria ido quando saiu do hospital após a morte da mãe e que havia sido adotado pela madrinha, inclusive já dado como desaparecido pela família que vivia em São Paulo. Antes, talvez, não tivesse sido encontrado, afinal já tinha o carinho de sua mãe de criação e a companhia dos novos irmãos, em suma, já tinha uma nova família. Depois de deixarem Santarém, Maicon e sua irmã nunca mais encontraram um lar amoroso como durante esse período. Os órfãos eram vistos como um estorvo para a família, representavam apenas mais bocas para se alimentar. Sua irmã foi com o tio para a grande capital e Maicon, a muito contragosto, acabou na pequena cidade de Reginópolis em pleno sertão paulista – a mais de quatrocentos quilômetros de distância de sua irmã – aonde outra tia sua o recebeu com muito mau trato. Tinha que disputar a comida com seus primos, brigando por sobras e com a própria tia que escondia os alimentos. Fome era o prato que sobrava na mesa para Maicon, de forma que logo cedo foi obrigado a trabalhar por seu próprio pão, assim, antes de completar onze anos já estava na lida. Conseguiu um bico de ajudante numa fábrica de tratores da região, na qual recebia café e almoço, além de faturar “algum” com gorjetas. Nos fins-de-semana vendia sorvete na cidade, às vezes, nem voltava pra casa, dormindo em qualquer lugar: na praça, no mato, no frio do relento mas longe da frieza de sua tia. Cansado dos maus-tratos dela, conseguiu um cantinho na casa de sua avó, que lhe permitiu construir um pequeno barraco de madeira adjacente à sua moradia. Foi quando, finalmente, Maicon conseguiu um pouco de sossego, aonde nas noites frias se aquecia com um pouco de madeira e carvão que queimava num velho tambor de óleo. Solidão? Jamais. Se a infância e a vida de Maicon são marcadas por dificuldades e o abandono da família, isso jamais lhe afetou. Sem parentes amorosos, cercou-se de amigos, criou sua própria família, deixou a solidão passar distante de sua porta. Sempre foi comunicativo, carismático, bem humorado, dono de em espírito empreendedor e prestativo, de forma que logo já era conhecido por todos na cidade, na escola, era amigo de todos os colegas.

Na adolescência, Maicon trabalhou em diversas firmas, lojas e bares da cidade, além de algumas fazendas da região. Realizava qualquer tipo de serviço manual, de modo que, ainda criança, já conquistou sua independência, já se sustentava sozinho. Além do trabalho, brincava no mato, praticava esportes, nadava no rio da cidade e, como não poderia deixar de ser no país do futebol, adorava jogar bola, era forte, com catorze anos de idade já “carregava piano”. Sempre gostou de música também, reggae e black são seus estilos prediletos. Antes de terminar o ginásio, Maicon já se mudara da casa de sua avó, morava no centro da cidade com alguns amigos em uma casa em que organizava os bailes da escola. Foi nessa época que sua virgindade também passou a ser parte do passado. Até completar dezesseis anos, Maicon já tinha algumas ex-namoradas, a bola e o estilingue ficavam pra traz, o interesse era a vida que tinha pela frente.

Veio para São Paulo e reencontrou sua irmã que já se casara. Para a cidade grande trouxe duas coisas que já conquistara em sua vida: seu carisma e o espírito empreendedor, em posse disso, trilhar seu caminho na metrópole paulistana não foi muito difícil, apesar dos muitos obstáculos que precisou driblar. Em um colégio interno, aonde estudava e trabalhava – era auxiliar de cozinha e cultivava uma pequena horta de verduras – completou o colegial e alcançou a maioridade legal, e esta trouxe algo a mais para Maicon, a liberdade. Em posse dela, conseguiu um emprego numa grande firma multinacional, a Leroy Merlin, mudou-se da casa de sua irmã e foi morar sozinho no Jardim Bonfiglinoli, à beira da rodovia Raposo Tavares, bairro que até hoje reside, embora tenha passado por uma dúzia de diferentes casas, ora vivendo sozinho, ora dividindo a moradia com amigos da vizinhança. Sem rio para nadar, encontrou nas artes marciais um novo esporte para praticar, para aliviar o stress da big city, dedicou-se à arte do Morganti.

Paixão: culinária

Trabalhou quatro anos na Leroy, de simples ajudante ascendeu a chefe-encarregado de setor – de “peão” a “patrão” – aprendeu de tudo um pouco, de operar empilhadeiras ao uso do computador, além de lidar com toda burocracia de uma grande empresa. Foi na Leroy que Maicon reencontrou um velho amigo de Reginópolis: Alê, o surfista, que lhe apresentou aquela que seria a sua nova paixão, o surf. Após algumas viagens com o velho amigo, Maicon já se tornara um apaixonado pela prática e o espírito de vida dos surfistas, já tinha sua prancha e todo equipamento necessário para prática do esporte, além do visual característico da tribo do surf, tatoos, bermudas e óculos escuros. Sempre que tinha uma folga ia para a praia com os trutas curtir as ondas. Por coincidência, Alê era meu amigo também, um antigo companheiro das ondas, e foi justamente numa dessas surf trips que fizemos ao Guarujá, que eu conheci Maicon, há quatro anos atrás, quando ele tinha 21 anos. De lá para cá fizemos várias viagens e, como não poderia deixar de ser com alguém que se dispõe a ser amigo de todos que cruzam seu caminho, desenvolvemos um forte laço de amizade. Foi assim que, aos poucos, fui conhecendo a inigualável personalidade e sua fantástica história que hoje tento, de forma resumida, registrar nessas palavras, com a humildade de saber que seria necessário ao registro dela, um extenso livro para detalhá-la com sua verdadeira riqueza, mesmo se tratando de um jovem com uma vida inteira pela frente. Como amigo, posso acrescentar algumas características a esta figura. Acima de tudo, Maicon é uma pessoa muito humilde, trata todos com muito respeito e igualdade, é muito tranqüilo e receptivo, adora um bom papo e é um excelente contador de histórias – daí também o desejo de se registrar a sua. É apaixonado por tudo que faz, busca cumprir com perfeição todas as tarefas que se propõe, é extremamente profissional. Está sempre disposto a ajudar o próximo, com um pouco de inocência até, como diriam alguns. Vi com meus próprios olhos, ao meio da multidão, em uma praia apenas iluminada pelos fogos de artifício da noite de Reveillon, salvar uma menina da morte, desacordada em coma alcoólico, abandonada, à mercê da sorte. Enquanto a multidão sequer percebia o que se passava, lá estava Maicon carregando a guria nos ombros em busca de ajuda como autêntico herói. Ele é assim, sempre com a mão estendida, pronto para ajudar, tem um espírito irrequieto, sempre agitando algo novo. Quem vai à sua casa, logo percebe isso, o bom anfitrião, os amigos batendo à porta. Além do calor humano tem poucas coisas em seu cantinho particular, a cozinha – indispensável – alguns armários, enfeites, roupas, uma cama e um computador para ouvir música, assistir filmes e entrar no Orkut, nada que dê muito trabalho para se mudar. O que mais dizer sobre ele? É deixar sua história falar por si mesma.

Maicon herói

Sem espaço mais para crescer na Leroy, Maicon se afastou da empresa, forçou sua demissão e aproveitou a boa indenização que recebeu para investir em diversos cursos, tais como de gastronomia, someliê e gerenciamento de bares, restaurantes e hotéis. Conseguiu alguns trabalhos temporários com organização de eventos, festas e buffets, até mesmo como segurança. De bar em bar e festa em festa, conseguiu um bom emprego de comim em um famoso sushi-bar na zona sul da cidade, o Jam Warehouse. Como voltava tarde da noite do serviço, comprou uma moto para cumprir o trajeto casa-trabalho, foi quando se deparou com um dos grandes males da cidade grande: a violência do trânsito. Trafegando com sua moto ao farol verde em frente ao Shopping Iguatemi, foi abalroado por um automóvel que se esvaiu pela cidade, esmagando-lhe a coxa esquerda. Acordou em um leito de hospital com muita dor, mas feliz por estar vivo. Foi operado, o osso da perna reconstituído com titânio, e meses de recuperação no hospital aonde recebia poucas visitas – algumas minhas, quando até assistimos pela TV o Corinthians ser campeão em 2005, outras de sua irmã – e mais meses e meses fazendo fisioterapia, tomando remédios que lhe custaram toda a poupança, andando de muletas, morando na casa de sua tia que o amparou, a mesma que acolhera sua irmã anos antes. O tempo parado serviu para repensar a sua vida, aproveitou o chá de cama para a leitura de livros sobre a filosofia de vida oriental que sempre o interessou, sentia saudades do mar e percebeu que ali estava o seu destino, viver próximo as ondas, ao surf, onde encontraria paz para o corpo e o espírito.

Zoom

O tempo passou e Maicon se recuperou completamente, vendeu o que restava da moto, voltou ao trabalho no Sushi-Bar, alugou um novo cantinho, voltou ao surf e até mesmo ao Morganti. Pouco tempo depois, se transferiu para outro bar, no qual foi gerente. Sua personalidade muito amigável não combinava muito com a postura mais fria necessária a tal profissional, de modo que não se identificou com a nova profissão, demitiu-se e foi buscar novas alternativas. Enquanto não encontrava algo “novo” para fazer, fez o que sempre costumava fazer: bicos. Continuou trabalhando com festas buffets, inclusive desenvolvendo habilidades com pirofagia circense. Até mesmo um filme de cinema ajudou a produzir, um curta-metragem de terror em estilo trash chamado “Goethia”. Com um celular na mão, fez vários contatos, acabou reencontrando um velho amigo, músico, que tocava em uma banda de reggae, este, por sua vez, lhe apresentou para outro amigo, que era DJ. O DJ convidou Maicon pra trabalhar na produção de eventos em festas rave. Numa dessas festas, fez novos contatos que o levaram para um novo ramo: o mundo da moda. Abriu uma firma, a “Progresso Modas” e passou a revender roupas estilo jovem, jeans e surfware, em diferentes lojas e cidades, algo muito fácil para alguém simpático e comunicativo como Maicon, trabalhando por conta própria e lidando diretamente com o público. Tornou-se um vendedor e fornecedor ambulante, estilo caixeiro-viajante, seguindo diversos eventos, raves, shows, festas de peão e campeonatos de surf, sempre trabalhando com roupas ou organizando festas, como promoter ou barman, com um quê de figurinista também. Hoje viaja bastante para o litoral paulista, aonde, além dos campeonatos, fornece roupas para diversas lojas praianas e aproveita o tempo que sobra para surfar e tomar uma cervejinha com os amigos caiçaras.

O nome de sua empresa, “Progresso”, não parece ser mero acaso, com mais de dezessete mil quilômetros rodados vendendo roupas pelo estado de São Paulo, Maicon comprou um Fusca, um investimento para a firma, para aumentar mais e mais ainda a sua quilometragem. Infelizmente, deparou-se com outro problema característico da megalópole paulistana: os ladrões de veículos. A pé novamente, não desanimou, em pouco tempo recuperou o valor perdido e agora pensa em investir em um terreno. Aonde? Está buscando um “bom negócio”, “um lugar tranqüilo”, um local em que possa prosperar, quem sabe casar e ter alguns bambinos. Seu sonho é morar em Florianópolis ou na Bahia, montar o seu próprio restaurante, que até nome já tem: Buffet “Restaura do Surf”. Para o futuro, tudo que deseja é viver em algum lugar em que possa ver o mar “todos os dias”. Acredita que “quem sobrevive neste ninho de cobras que é São Paulo, sobrevive em qualquer lugar”. Seja qual for o seu objetivo, seu destino, ou destinos, com certeza ele os alcançará, o que com toda a simplicidade e olhando a Deus, é o próprio Maicon quem nos diz: “Com a fé nele, você conquista tudo”.

Parte de seu desejo, Maicon já cumpriu, enquanto completávamos essa mini-biografia, nosso extraordinário personagem adotou Florianópolis como novo lar, a princípio dividindo moradia com alguns amigos na praia do Campeche, surfando e trabalhando como sushiman em festas e eventos privados pela cidade. O início de uma nova etapa em sua vida que um dia ainda será contada.

Continua...


Veja pubicação completa desta obra com a análise mitológica da jornada de Maicon.
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