Dissertação de Mestrado - Faculdade Cásper Líbero
INTERNET, JORNALISMO E WEBLOG: A NOVA MENSAGEM

Estudos Contemporâneos de Novas Tendências Comunicacionais Digitais

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CAPÍTULO I - O NOVO PARADIGMA DA INTERNET

“I'm no puppeteer. I don't make things happen. I only set the stage; you put your own streams” – Devil’s talking[6]

Neste capítulo buscamos entender a mudança do paradigma comunicacional a partir da introdução da Internet no contexto midiático contemporâneo. Ao longo dessa análise, veremos como tal mudança se relaciona com o jornalismo. Como ela altera o espaço público e leva o jornalismo a uma crise geral: jornais impressos perdem leitores, a ética se coloca em cheque e, até mesmo, a identidade jornalística estaria se perdendo, segundo algumas visões.

Mas, antes de tudo, vamos esclarecer o que vem a ser paradigma. Segundo o dicionário Michaelis, um paradigma é um modelo, padrão ou protótipo. O dicionário ainda define a palavra como sendo um “conjunto de unidades suscetíveis de aparecerem num mesmo contexto, sendo, portanto, comutáveis e mutuamente excludentes. No paradigma, as unidades têm, pelo menos, um traço em comum (a forma, o valor ou ambos) que as relaciona, formando conjuntos abertos ou fechados, segundo a natureza das unidades”.

Quem aborda o conceito de paradigma com profundidade é o estudioso Thomas Kuhn. Ele parte de uma definição de Platão (428-347 a.C.), filósofo da Grécia Antiga, que entende paradigma como algo muito semelhante a um tipo de modelo. Mas Kuhn não pára seu estudo numa única definição, ele utiliza o conceito como amparo para o próprio estudo científico. O modelo, nesse entendimento, se transforma num mapa, numa espécie de guia que serve para embasar diversos estudos em seus respectivos campos. Um ponto interessante do estudo de Kuhn refere-se à ruptura de um paradigma: “(...) quando a comunidade científica repudia um antigo paradigma, renuncia simultaneamente à maioria dos livros e artigos que o corporificam, deixando de considerá-los como objeto adequado ao escrutínio científico” (Kuhn, 2003:209).

O estudioso português Boaventura Sousa Santos, em livro intitulado Introdução a uma ciência pós-moderna, discute a questão de ruptura de paradigma. Com base no pensamento kuhniano, ele se pergunta se a crise atual da ciência relacionada à ruptura de paradigma (que, no nosso caso, volta-se ao terreno da comunicação e, mais especificamente, a habilitação em jornalismo), pode ser considerada de crescimento:

Têm lugar ao nível da matriz disciplinar de um ramo da ciência, isto é, revelam-se na insatisfação perante métodos ou conceitos básicos até então usados sem qualquer contestação na disciplina, insatisfação que, aliás, decorre da existência, ainda que por vezes apenas pressentida, de alternativas viáveis (...) a reflexão epistemológica é a consciência da punjança da disciplina em mutação e, por isso, é enviesada no sentido de afirmar e dramatizar a autonomia do conhecimento científico em relação às demais formas e práticas do conhecimento (Santos: 1989:18-19).

 Ou de degenerescência, essa sim, de fato, de mudança completa de paradigma: “(...) são crises do paradigma, crises que atravessam todas as disciplinas, ainda que de modo desigual, e que as atravessam de um modo mais profundo” (Santos: 1989:19).

Assim, buscaremos entender se a mudança do paradigma comunicacional é algo que pode ser entendida como positivo, trazendo uma evolução, um crescimento para o ramo jornalístico, ou é de ruptura, levando tal habilitação a uma degenerecência de seus valores e teorias – de modificação completa de seus alicerces. Seria o cenário atual da comunicação relacionado a qual tipo de ruptura? A compreensão da questão do paradigma comunicacional dentro da era da informação digital mostra-se fundamental para lançarmos uma luz sobre essa questão ao fim deste estudo.

A pesquisadora e livre-docente em Ciências da Comunicação Beth Saad (ECA/USP), em Estratégias para a mídia digital, citando Clayton M. Christiansen (The innovators dilemma, p. XV), vê a Internet como um novo paradigma comunicacional que causa uma ruptura no setor midiático, “que, em curto prazo, piora a performance do produto ou serviço que a empresa informativa possui, pois seus indicadores de desempenho são típicos da mídia tradicional (aferição de circulação e/ou audiência) não sendo adequados à inovação digital” (Saad, 2003:47). Saad procura, em seu estudo, estabelecer uma série de estratégias que as empresas de mídia devem adotar para tirar o melhor proveito dos negócios provenientes do novo ambiente digital, além de analisar quais são as estratégias adotadas por diversas empresas nesse setor.

A definição de Kuhn, o questionamento de Santos e a afirmação de Saad nos remetem ao objetivo que buscamos atingir neste primeiro capítulo: entender como se dá a ruptura do paradigma comunicacional a partir do surgimento das novas tecnologias binárias e interconectadas. Para entender essa ruptura e saber qual é esse novo paradigma, vamos também refletir sobre algumas dessas mudanças que, no seu conjunto, alteram o paradigma comunicacional.

 


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