O encontro com Deus mudou sua vida

O jeito diferente e especial de celebrar missas de padre Marcelo transformou-o em um dos maiores fenômenos de evangelização dos últimos tempos*

“Sou apenas uma seta que aponta para o caminho de Deus“, diz Marcelo Mendonça Rossi, um ex-professor de educação física que se tornou padre com pouco mais de 20 anos sem imaginar que se tornaria um dos maiores fenômenos de evangelização da história da igreja católica no Brasil. Hoje, aos 38 anos, padre Marcelo é uma espécie de popstar de batina, arrastando multidões às suas show-missas.
Oriundo de uma família de classe média de São Paulo, ele foi criado no bairro de Santana, zona norte da capital, juntamente com as irmãs Mônica e Marta. O pai, Antonio Rossi, trabalhou durante anos como gerente de banco, e sua mãe, Wilma, era dona-de-casa. A família, muito católica, rezava o terço todos os domingos. Na igreja, como convém a quem tem apreço pela tradição. O adolescente Marcelo se recusava a fazer parte dos fiéis que, durante as missas, louvavam o Senhor erguendo as mãos seguidamente em direção aos céus.
O futuro padre gostava das mesmas coisas de tantos outros adolescentes de sua idade: passear, ouvir música e praticar esporte. Passava horas dentro de uma academia fazendo exercícios, produzindo massa muscular. Sua alimentação era muito bem-controlada e balanceada. Toda essa dedicação ao corpo fez com que se decidisse pela carreira de educação física, muito a contragosto do pai, que sonhava em ver o filho formado em medicina.
Em 1989, com apenas 22 anos, quando conquistou seu diploma superior, Marcelo tinha uma vida normal. Amigos, paqueras, festas, o que deixava sua mãe aflita. Por várias vezes, ao chegar em casa, encontrava-a ajoelhada rezando, e isso mexia com ele. Não entendia o porquê daquela atitude. Orações, missas, novenas, encontros com a comunidade da paróquia do bairro, tudo isso fez com que Rossi criasse conflitos internos. Foi quando tomou a decisão de não mais freqüentar a igreja.
O relacionamento dele com o pai não foi muito fácil em sua juventude. Faltava diálogo entre eles. Cada qual vivia fugindo um do outro, ainda mais com a decisão do filho em não seguir a família na dedicação e devoção religiosa.

Mudança de vida
Aos 21 anos, Marcelo sofreu um choque duplo: a morte de um primo em um acidente de carro e soube que sua tia tinha um tumor na cabeça. Esses dois traumas familiares provocaram uma mudança total em seu estilo de vida. O vazio, a dor, o sofrimento fizeram com que ele voltasse à igreja. Mais até: o levaram a participar das atividades paroquianas na igreja de Santana. Marcelo cuidava da parte social, mas sentia que poderia fazer muito mais. Queria cuidar também da parte espiritual das outras pessoas.
Um ano depois, ao assistir a uma minissérie sobre a vida do papa João Paulo II, decidiu dedicar-se ao sacerdócio. Embora a família fizesse gosto a sua repentina devoção religiosa, não passava pela cabeça de seu Antonio que o filho se tornasse padre. “Para falar com a família, foi complicado. Meu pai deixou claro que não aceitaria, como não aceitou durante muito tempo. Meu avô, então... Além disso, largar a família foi difícil. Mas eu precisava sair da casa da mamãe e do papai. Precisava buscar o meu destino”, conta o padre Marcelo.
Um outro problema, este de foro íntimo, o fez amadurecer muito a decisão: o celibato. Marcelo já havia namorado, chegou a ficar noivo. Como renunciar a isso tudo? Renunciando.
Para que o caminho não tivesse volta, ele foi morar longe da família, em Cruzeiro, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, junto com padres salesianos. Lá Marcelo confirmou sua vocação. “Vi que não estava renunciando a nada. Não era uma renúncia, era uma oferta. O casamento é lindo, o amor, maravilhoso, e eu estava ofertando aquilo que tinha de melhor. Quando entendi isso, não tive mais nenhuma dúvida.”
O jovem pároco fez duas faculdades, Filosofia, pela Universidade Nossa Senhora Assunção, e Teologia, pela Faculdade Salesiana de Lorena. Em 1994, mesmo ano em que o Brasil se sagrou tetracampeão do mundo de futebol e o piloto Ayrton Senna perdeu a vida tragicamente na pista de Imola, Itália, Marcelo Mendonça Rossi foi ordenado padre. Desde o dia 1 de dezembro daquele ano passou a ser conhecido por padre Marcelo Rossi. “Foi o dia mais importante da minha vida. Comemoro muito mais essa data do que o dia do meu aniversário”, diz ele.

Uma nova vida
Padre Marcelo começou a celebrar missas na Paróquia do Perpétuo Socorro e Santa Rosalia em Santo Amaro, São Paulo. A maneira diferente como realizava missas foi fazendo com que cada vez mais e mais fiéis assistissem suas pregações. E o espaço da igreja acabou ficando pequeno demais para ele. O padre, então, acabou indo celebrar suas missas no Gonzagão. Gonzagão é uma casa de shows e eventos de 20 mil metros quadrados onde, às sextas, sábados e domingos, milhares de pessoas se reúnem em busca de diversão, dançar, namorar, paquerar e, ainda, aproveitar para comer as delícias típicas do Norte e Nordeste. “Era muito estranho. Fazíamos as nossas missas no mesmo local onde as pessoas iam pelos mais variados motivos. Não tínhamos outro lugar que não tivesse custo. Mas eu sabia que era preciso encontrar um outro local.”
E ele encontrou. O lugar foi o Santuário do Terço Bizantino, na avenida Engenheiro Euzébio Stevaux, no bairro Jurubatuba, na zona sul de São Paulo. As missas passaram a ser realizadas às quintas-feiras à noite, aos sábados de tarde, domingos pela manhã e à tarde. O número de fiéis aumentava a cada missa, a cada semana, a cada mês. Não demorou muito e ele começou a chamar a atenção da imprensa. Programas de televisão passaram a convidá-lo para entrevistas.
Em novembro de 2002, aconteceu o encontro histórico “Sou Feliz Por Ser Católico”, quer reuniu 70 mil pessoas no estádio do Morumbi. “Entrar no estádio lotado às 7 horas da manhã e ver ali milhares de pessoas para receber a minha primeira palavra foi difícil”, diz padre Marcelo.
A igreja católica no Brasil, que assistia sem reagir a um grande número de fiéis se afastar, viu na maneira nova de falar, de orar e celebrar missas do padre Marcelo uma oportunidade de virar o jogo. O religioso recebeu carta branca de seus superiores e trocou os estádios cheios por platéias infinitamente maiores sintonizadas em um aparelhinho de rádio. De uma hora para outra, oi professor de educação física que virou padre se tornou também um fenômeno do rádio.
Depois de alguns anos na Rádio América, com um programa de evangelização, de reflexão, o padre mudou de emissora, indo parar na Rádio Globo. Ali, tem um programa diário 9 às 10 horas da manhã, de segunda a sábado, com uma audiência de 2,3 milhões de ouvintes em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, número que é engordado ainda mais com a retransmissão para mais 82 emissoras do país.
Quando padre Marcelo encontrou-se com o papa João Paulo II, fez uma promessa. “Disse que iria trazer de volta as ovelhas que haviam se desgarrado do rebanho usando todas as mídias”.

Evangelizar em várias mídias
Em 1988, o padre lançou o seu primeiro CD – Músicas para louvar o Senhor – e não parou mais. Mais cinco CDs foram lançados, todos eles com enorme sucesso, com a renda da venda sendo revertida para as obras assistências da Diocese de Santo Amaro. Da música para o cinema foi um pulo. O padre ator já conta com dois filmes realizados – Maria, Mãe do Filho de Deus e Irmão de Fé.
Padre Marcelo Rossi, além dos filmes, CDs e do programa de rádio, realiza missas no Santuário do terço Bizantino, agora na avenida das Nações Unidas, e dedica um dia da semana para percorrer hospitais da cidade e levar aos doentes palavras de conforto e de esperança.
Jovem e carismático, ele poderia ter seguido o caminho escolhido como professor de educação física, ter se casado, tido muitos filhos, mas o destino o fez mudar de vida. Virou padre. Não um padre qualquer, mas um padre muito especial.

*Perfil realizado por Michelle Marino e Sergio Marques, alunos do período noturno da disciplina de Jornalismo Literário ministrada no campus Morumbi no primeiro semestre de 2005. Além de futuros jornalistas, ambos são radialistas.