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Interno é desassistido depois que sai da Febem

Fabiana França, 26, cursa Comunicação Empresarial no UniFiam-Faam. Além de trabalhar como assistente comercial em uma empresa de comunicação, a Itmídia, ela encontra tempo para atuar como voluntária em causas sociais. No momento, ela participa de projeto no Complexo da Febem do Tatuapé. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida a Meylli Nakamura.

Em que ano você se formou em Publicidade e Propaganda?
Fabiana França – Não cheguei a me formar. Cursei a faculdade São Judas Tadeu em 2001, mas parei no último ano, no meio do semestre.

Qual é a avaliação que você faz do curso? Gostou ou não? Por quê?
Fabiana França – Gostei do curso, mas com o passar do tempo, o meu foco mudou. Claro que a publicidade vai ajudar e muito, mas como já disse meu foco hoje é outro.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar na Ambev e qual era o seu cargo?
Fabiana França – Através de uma dinâmica na Gelre, uma empresa de recrutamento e seleção de profissionais. O cargo era pra Assistente de Marketing.

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Fabiana França

Quando você começou a desenvolver trabalho voluntário e o que a levou a fazer isso?
Fabiana França – No ano de 2000. O que me levou a ser voluntária foi vontade de querer uma mudança na sociedade quanto às comunidades carentes.

Em quais instituições você já foi voluntária e que atividades desenvolveu?
Fabiana França – Casa de Recuperação Renascer (dependentes químicos), Casa Lar Abrigo Renascer e a atual Febem.

Por que decidiu cursar Comunicação Empresarial no UniFiam-Faam?
Fabiana França – Para ampliar meus conhecimentos na área de comunicação e porque me identifiquei com a grade curricular.

Hoje você desenvolve trabalho voluntário na Febem e em um projeto pessoal de inclusão do menor infrator. Vamos falar primeiro de seu trabalho na Febem. O complexo da Febem no Tatuapé comporta 18 unidades. Em qual delas, você está realizando seu trabalho social? Existe alguma diferença entre as unidades?
R: Na Unidade 1. No passado existia uma separação por idade e periculosidade. Hoje com a desativação de algumas unidades, os menores estão misturados. Os meninos que já completaram 18 anos, alguns foram transferidos para o presídio de Tupi Paulista e outros estão sendo transferidos para outras unidades, como por exemplo, o Complexo de Vila Maria.

Há quanto tempo está nessa unidade? E como chegou a Febem para realizar esse trabalho?
Fabiana França – Há seis meses e cheguei nesta unidade pela Igreja Bola de Neve.

Você diz que com o apoio da Igreja Bola de Neve encontrou abertura para fazer esse trabalho social na Febem. Você acredita que falando sobre religião, isso pode realmente mudar o pensamento e comportamento dos menores infratores?
Fabiana França – Os garotos não têm perspectiva de vida alguma, querem sim romper isso. Acredito que através da religião podemos ensinar muita coisa, como por exemplo, o arrependimento. Creio que com o amor e a solidariedade o mundo pode ser transformado, pois hoje vivemos em uma selva de pedra e muitos estão preocupados com seu futuro e não com o futuro do país; se estivessem preocupados não haveria motivos para inclusão social.

As estatísticas da Febem mostram que o percentual de menores que cumpre medida sócio-educativa (pena) por tráfico, porte e uso de drogas é pequeno. A maioria é presa por roubo. Qual é o perfil do menor infrator hoje?
Fabiana França – Continua sendo por roubo.

Como é feito o acompanhamento das famílias e dos próprios menores quando saem em liberdade assistida?
Fabiana França – Este acompanhamento é feito através de um cadastro que nós temos com os dados dos menores. Assim que eles saem da Febem fazemos uma visita, para constatar que o menor tem condições básicas para se manter, caso contrário, tentamos mudar a situação do menor e da família.

Você está atualmente com o Projeto Social do menor que visa à integração e o profissionalismo do menor na sociedade. Ainda há muito preconceito? Como está fazendo para buscar novos parceiros?
Fabiana França – Há muito preconceito sim, pois muitas pessoas não acreditam na recuperação do caráter dos menores, a sociedade deixa de acreditar porque o que a mídia passa para a massa é uma Febem de rebelião, sendo que existem casos de sucesso na recuperação do caráter do menor.

O governo do estado de São Paulo mantém convênios com entidades sociais e a prefeitura de São Paulo para programas sociais, faz parcerias profissionalizantes, culturais e esportivas com empresas privadas, universidades e ONGs, e mesmo assim, ainda considera importante iniciativas da sociedade civil? Por quê?
Fabiana França – Acredito que a iniciativa da sociedade civil contribui e muito, pois o governo trabalha a recuperação somente dentro das unidades, quando o menor sai em liberdade assistida não consegue fazer os cursos, não consegue vagas nas escolas públicas, não há incentivo, aí é que a sociedade civil (aqueles que acreditam na recuperação) investe seu tempo buscando melhorar a medida socioeducativa.

Em fevereiro passado, houve um motim no complexo Tatuapé, que acabou em fuga e vários feridos (funcionários e internos). Por que você acha que isso está ocorrendo com tanta freqüência?
Fabiana França – Foi devido à mudança do sistema educacional.

Fala-se muito que a Febem é uma instituição falida, o próprio Governo admite mudanças, o que há de errado no atual modelo e quais as mudanças necessárias e urgentes?
Fabiana França – As mudanças necessárias teriam que garantir mais acesso da sociedade civil e de educadores aos adolescentes, abertura das unidades de internação às famílias, às ONGs e aos serviços religiosos. Precisamos desenvolver uma política mais adequada de implementação das medidas socioeducativas, garantir oportunidades reais de ressocialização ao menor; se essa ressocialização não acontecer fora da Febem todo trabalho anterior poderá ser perdido.

Qual a sua opinião sobre o E.C.A. (Estatuto da Criança e Adolescente) – Lei 8.069, de 13 de julho de 1990?
Fabiana França – De acordo com a realidade da Febem o E.C.A. aponta várias deficiências no modelo educacional. Hoje a Febem não tem um método de acompanhamento que dê resultados, pois a transferência dos meninos entre as unidades é muito grande. Por este motivo, não tem como fazer uma evolução comportamental do interno. Em cada unidade, existem psicólogos, assistentes sociais e sem contar os educadores. Como pode haver resultado onde não há acompanhamento? Quando o interno já está se familiarizando com o ambiente da unidade, com os funcionários e com os outros internos, tudo recomeça em outra unidade. O método sócio-educativo tem que mudar.