Pedroom Lanne
Escritor, Pesquisador e Jornalista
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Star Wars VII

Notícias extraterrestres
O Alienígena de Aço
Sobre o filme O Homem de Aço de Zack Snyder
Disponível em arquivo PDF

Uma resenha de Noll Quanticus,
o Marciano

Noll Quanticus

Captei o HD O Homem de Aço, o último filme (lançado em 2013) do famoso superherói notoriamente conhecido como Superman ou Superhomem – eu particularmente prefiro Alienígena de Aço, afinal, como bem melhor caracteriza essa nova versão do filme, o mais poderoso prodígio terrestre não passa de um “simples” ET. Pode-se até dizer que o único detalhe que faz desse peculiar alienígena um superhomem é a fisionomia humana do ator bonitão que o interpreta (Henry Cavill), “hot”, segundo palavras de uma personagem a respeito dele já no final da projeção, aliás, na cena que achei a mais interessante do filme, que demonstra bem como os homens nada poderiam fazer para se opor a uma força alienígena e, em se tratando do famoso herói, bastando um homem só para sobrepujar o planeta inteiro ou, ao menos, no âmbito da história, um país como o que cresceu, os Estados Unidos – no Kansas, como um caipira, em um vilarejo agrícola para ser exato: como se não bastasse o maior herói da Terra não ser da Terra, seu alterego (Clark Kent) tinha que ser um mero camponês, não por isso menos americano que qualquer outro conterrâneo seu ou menos humano que qualquer um de nós (sim, apesar de alienígena, eu também sou humano).

Para quem gosta de histórias sobre alienígenas, O Homem de Aço é um prato cheio, nesse sentido, o filme figura entre os melhores do tema dentre os que vieram a público nos últimos tempos sem que se precisasse de algum ente cabeçudo e olhudo como eu para bancar o invasor. Este é o detalhe que faz da ficção-científica um elemento fortemente explorado na nova versão, em detrimento ao xamanismo que marca as primeiras películas do personagem lançadas na virada dos anos 70 para os 80 – particularmente prefiro o estilo de Marlon Brando no papel de pai (Jor-El) e xamã do Superhomem do que o estilo de Russell Crowe como mentor do herói, entretanto, isso não invalida a nova construção e boa interpretação do personagem no contexto da história. A nova sequência, por sinal, é uma releitura dos dois primeiros filmes do superherói que sabe explorar os efeitos computadorizados para projetar a tecnologia kriptoniana e os poderes do Alienígena de Aço como antes não era possível. Como roteiro adaptado, a película combina o melhor da origem do herói, vista no primeiro filme, com a grande batalha que ele enfrenta no segundo – além de alguns elementos da terceira sequência lançada em 1983, e do penúltimo filme “Superhomem, O Retorno” (2006). Nesse sentido, O Homem de Aço deixa um pouco de lado os dramas pessoais de Clark Kent – sua história é contada em flashbacks de suas lembranças, destacando a infância e a relação com o pai adotivo (Kevin Kostner), mentor da índole terráquea do herói – e inimigos menores como Lex Luthor, para encarar o General Zod (Michael Shannon), antagonista kriptoniano de Jor-El. Assim enunciado os protagonistas e antagonistas, o novo filme mostra mais ação do que drama, em contrapartida, desta feita a trama vai envolver a mãe de criação de Clark Kent – e vai você mexer com a mãe do Alienígena de Aço pra ver o que te acontece...

Com o filme assim classificado, a ação se inicia logo na sequência inicial rodada no planeta de origem do herói: Kripton, nesta versão apresentado como um mundo construído pelo mesmo aço que o nomeia – se, por um lado, longe da beleza do outrora planeta de cristal como se lembra das películas anteriores, por outro, mais próximo das referências imagéticas atuais de um mundo alienígena muito mais evoluído do que a Terra –, contando em minúcias a ruína do sistema e a intriga entre Zod e Jor-El: obrigado a salvar seu filho das garras do general antes de enviá-lo para Terra. O detalhe, na nova trama, é que Kal-El não foi enviado apenas como o último representante de sua espécie, consigo veio também um elemento chamado codex, um tipo de chave criptográfica indispensável para reprodução e perpetuação da raça kriptoniana, item que fará Zod perseguir Kal-El até seu refúgio intergaláctico. Um dos poucos clichês que se pode criticar na nova película foi a introdução de armas no mundo kriptoniano, um elemento ausente na história original e que não fazia ou faria falta no desenvolvimento desse grande mito moderno, talvez esteja aí uma das características que faz do herói um ser mais humano do que alienígena, pois seu povo originário, apesar de superdesenvolvido, se mostra tão cruel quanto o povo terráqueo.

Deixando as bobagens de lado, como alienígena, para mim vale apenas compartilhar o que achei particularmente interessante no filme, em especial, os poderes do Alienígena de Aço, a tecnologia e algumas características da sociedade kriptoniana. Vale destacar duas tecnologias adotadas pelos cidadãos de Kripton que, se não igualmente, também são adotadas pela sociedade marciana da qual sou originário. A primeira é o controle de natalidade e o sistema de reprodução de nossa espécie, cujo processo se dá em um útero artificializado no qual todos os cidadãos são incubados de maneira muito similar a vista em O Homem de Aço, isto é, com uma exceção, justamente a que se revela como elemento central da intriga entre Kal-El e Zod: o livre-arbítrio – neste caso, pouco importa como se dá ou se controla a reprodução de uma espécie, o fundamental é permitir com que seus filhos gozem de escolhas. E se Kripton sucumbiu perante escolhas mal sucedidas, Marte reina pela única escolha que permite qualquer espécie ou conjunto de vida prosperar: o bem comum.

Outro recurso praticamente idêntico partilhado entre marcianos e kriptonianos está na capacidade de conversar com a consciência de um ente já falecido. Mais do que uma zombaria como expressa por Zod ao discutir o destino da Terra com o “fantasma” de Jor-El, ou os ensinamentos do mesmo para Kal-El, muitas vezes, a memória dos mortos é o único elemento capaz de guiar as ações dos vivos para o caminho correto ou, no caso de Jor-El para com seu filho, de fornecer os elementos que lhe permitem ponderar entre a escolha de recriar Kripton na Terra ou ajudar e inspirar os terráqueos a guiarem sua própria evolução – eis o arbítrio o qual nos referíamos.

Por fim: a guerra, e, como um bom filme sobre o tema: a invasão alienígena. Uma vez no planeta, o General Zod, como mais uma típica ameaça interestelar, coloca a Terra sob seu jugo por meio de sua tecnologia capaz de alterar as propriedades nucleares do astro, assim tornando-o compatível com o padrão simbiótico de Kripton, consequentemente, inabitável para a população terráquea, condenada à extinção – e se não fosse o Alienígena de Aço para salvar o planeta, bau, bau... O interessante aqui é a demonstração da capacidade alienígena, colocada no devido patamar de compatibilidade com uma espécie capaz de atravessar as estrelas para habitar outro planeta, ou seja, muito acima da capacidade que dispomos para prevenir ou evitar que fôssemos colonizados ou extintos por um engenho de tal magnitude.

E pouco adiantaria a humanidade mandar seus soldados ou utilizar armas projetadas para matar e subjugar a própria raça no intuito de combater uma espécie alienígena cujos seres cada qual é tão poderoso quanto o próprio Alienígena de Aço, o que fica bem claro com o papel da personagem Faora (Antje Traue), companheira de Zod – uma alienígena fêmea tão “hot” para os meninos quanto o próprio Superhomem para as meninas –, quem liquida um grupo de soldadinhos como se fossem de brinquedo em uma batalha pouco justa do ponto de vista dos homens. Nesse quesito, o Alienígena de Aço me supera de longe, pois, apesar de também ser um, não tenho a pele de aço, a força ou a resistência que ele tem – pelo contrário, sou feito de plasma, uma substância similar ao plástico, só que mais moderna. Em uma hipotética batalha contra humanos, certamente eu conseguiria me esquivar de suas balas, ou evitar que me fizessem de alvo para um míssil, já absorver o impacto de um, impossível. Mano à mano contra um grupo de soldados, sem dúvida subjugá-los-ia com inteligência, mas jamais resistiria à força bruta capaz de por abaixo um grande edifício ou um bloco de quarteirões por completo.

Infelizmente, apesar de hipoteticamente imortal, não tenho capacidade de voar ou dar grandes saltos a ponto de derrubar um avião no céu como fazem os alienígenas desse filme. Eu até consigo resistir, em curto prazo, ao peso de um prédio caindo sobre mim, mas jamais utilizar um caminhão como se fosse um bastão de baseball ou utilizar a energia do meu corpo para inutilizar uma máquina capaz de manipular a força da gravidade como um gigantesco bate-estaca – não tanto quanto o Homem, eu também estou sujeito as limitações da gravidade, ao contrário dos alienígenas kriptonianos, capazes de driblar a mesma explorando os poderes transgênicos hiperestimulados pela radiação amarela do Sol. Por outro lado, se eu não estivesse aqui por motivos pacíficos, poderia causar infinitos danos ao planeta apenas me valendo de minha invisibilidade à percepção humana ou manipulando pessoas através do hipnotismo, sem necessidade de recorrer à violência ou partir para o embate físico – talvez eu pudesse até mesmo hipnotizar o Superhomem para utilizá-lo em meu favor, pena que ele não exista.

Apenas para não passar batido, preciso confessar que me inveja a capacidade de voar do Alienígena de Aço, embora não consiga descobrir como ele consiga fazê-lo sem asas. De qualquer modo, achei muito interessante a cena em que ele está aprendendo a voar e, a princípio, não consegue, fazendo menção as primeiras histórias do personagem nos quadrinhos em uma época que ele não voava, se resumia a dar grandes saltos como aparece no filme. Quando, enfim, o herói domina a arte do voo, fica bem caracterizada sua capacidade com o efeito de quebra da barreira do som como demonstrado na película – achei muito legal. Porém, se o Alienígena de Aço me faz inveja por essa capacidade, se ele me conhecesse, teria inveja dos poderes de cura e intervenção cirúrgica que disponho, se não com olhos capazes de gerar calor e cauterizar uma ferida, pelo controle do magnetismo através das mãos com as quais eu poderia fazer o mesmo sem expor um paciente humano a dor, muito ao contrário do que ele faz para salvar sua namorada, a jornalista Lois Lane (Amy Adams), tenho certeza de que ela preferiria os meus métodos tão quanto alguns dos humanos cujas intervenções minhas têm salvo suas vidas desde que aqui estou, embora a maioria sequer tenha consciência disso.

Todavia, apesar de tudo que abordei aqui sobre a capacidade alienígena, não há motivos para preocupação, caros humanos, pois, se por um lado não existe um Alienígena de Aço que possa defender a Terra de um ataque extraterrestre, por outro, saibam que nossas intenções para com o planeta passam longe dos perigos personalizados por um alienígena como o General Zod. O que vale aqui, pura e simplesmente, é a diversão que esse grande mito nos inspira, seja na Terra, seja em Marte.

Referências

O Homem de Aço. Zack Snyder. Warner Bros: EUA/UK, 2013.
NALIATO, Samir. O Homem de Aço reintroduz Superman para o grande público (resenha). Universo HQ (site), 01/06/2013 in http://www.universohq.com/filmes/resenha-o-homem-de-aco-reintroduz-superman-para-o-grande-publico/, 22/12/2014.
Superhomem II. Richard Donner e Richard Lester. Warner Bros: EUA, 1980.
Superhomem III. Richard Lester. Warner Bros: EUA, 1983.
Superhomem, O Filme. Richard Donner. Warner Bros: EUA, 1978.
Superhomem, O Retorno. Bryan Singer. Warner Bros/Legendary Pictures: EUA, 2006.
WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Man_of_Steel_%28filme%29, 26/12/2014.

05 Jan 2015


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